Edição 69

Em discussão

Avaliar para melhorar: um desafio a enfrentar nas salas de aula

Domingos Fernandes

pessoas_escritorioA avaliação pode e deve ser um processo pedagógico central na melhoria das aprendizagens dos alunos. A investigação mostra, no entanto, que, em geral, a avaliação que se pratica em muitos sistemas educativos, nas escolas e nas salas de aula é, como habitualmente se diz, de natureza essencialmente sumativa. Ou seja, uma avaliação que está particularmente orientada para classificar, selecionar, certificar os estudantes. Por outro lado, a investigação também evidencia que a avaliação formativa, quando devidamente organizada e desenvolvida, contribui de forma inequívoca e significativa para melhorar as aprendizagens dos alunos em geral e, muito particularmente, dos que têm mais dificuldades.

Além desses significativos resultados, a pesquisa em Educação também nos tem mostrado que os alunos que frequentam aulas em que a avaliação formativa é predominante obtêm melhores resultados em exames externos do que aqueles alunos que frequentam aulas em que predomina a avaliação sumativa.

Esses resultados de investigação científica em Educação são encorajadores, pois evidenciam que está ao nosso alcance contribuir para que os alunos possam aprender mais e, acima de tudo, melhor. Ou seja, hoje podemos dizer com segurança que a avaliação formativa ajuda os alunos a aprenderem com mais significado e com mais profundidade.

É urgente que a administração central, regional e local da Educação, assim como as escolas, os pais e os professores, trabalhe para mudar os sistemas de avaliação orientados para classificar para sistemas de avaliação orientados para melhorar a aprendizagem e o ensino. Ou seja, temos de ter discernimento, vontade e determinação para sair de sistemas em que a avaliação é encarada como um mero processo técnico de atribuição de classificações. Temos de saber abrir as portas a sistemas educativos em que a avaliação é encarada como um processo eminentemente pedagógico e didático e como uma construção social em que se devem considerar dimensões éticas, políticas, filosóficas ou culturais.

Não se trata de uma tarefa fácil. Trata-se de um duro e difícil combate social e cultural que as sociedades democráticas têm de saber vencer para que se tornem, elas mesmas, sociedades mais justas e mais coesas, capazes de gerar bem-estar para todos e para cada um dos seus cidadãos.

Hoje sabemos que pode estar ao alcance das escolas, dos professores e dos alunos melhorar o que se aprende e, mais importante ainda, como se aprende. A avaliação formativa, não sendo a panaceia para todos os males que nos atormentam, é, com certeza, um processo pedagógico essencial para apoiar milhões de crianças e jovens que, ano após ano, conhecem o desalento e/ou o abandono escolar. É por isso que insisto que temos forçosamente que desbravar e aprofundar a ideia de avaliar para melhorar se quisermos enfrentar as questões mais prementes e urgentes da Educação contemporânea.

Domingos Fernandes é professor titular da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa – Portugal.

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