Edição 82
A fala do mestre
Blended learning… Novas perspectivas e desafios para a Educação
Nildo Lage
Os radares dos antenados alertaram: “A tecnologia acerca-se em velocidade ultrassônica e submergiu na órbita escolar com sediciosos instrumentos que comporão o conjunto de ferramentas basais no procedimento do ensino-aprendizagem e que deliberarão as novas tendências!”. A Educação, ininterruptamente irredutível, afrontou: “Não entrarei nessa, é história da Carochinha!”. Outros presumiram, esquematizaram metas. A Educação, arrebatada no seio do absolutismo, reagiu enérgica: “Não vai dar certo!”. Os compromissados — preocupados com a situação do setor — delinearam cartas geográficas, ordenadas e precisas com o advento da Internet. Fracassaram. A sabe-tudo — Educação — não aceitou o norte: “Navegando em zona desconhecida, não aportarei em parte alguma!”. Não teve jeito, imperou o conservadorismo, e o fiasco foi inevitável.
A era high-tech, com sua sobrecarga tecnológica, prenunciou que não esperaria a ausência de atitudes e desabou como um temporal, aniquilando tendências, fulminando metodologias, e ditou a sentença: “Basta! Blended Learning é a onda do momento! Lança tudo por terra: muros, paredes e, se necessário, a própria escola, mas permite que o aluno se liberte das amarras do tradicionalismo, das barreiras lançadas pelo sistema gestor… E navegue… Todavia, no seu tempo, no seu espaço, na sua rede… E mais, sem desraigá-lo do seu mundo, para não abalar suas estruturas sociais, culturais e familiares, ampliando competências para, assim, desvelar o mundo!”.
Ao contrário do que se contesta, os princípios Blended Learning não afastam o aluno do espaço escolar, tampouco descontinuam a socialização. É antagônico; Blended é a conexão que aproxima professor-aluno, aluno-aluno, escola-família-professor-aluno-aluno, estes da Educação e todos do mundo. Suas propostas apresentam metodologias inovadoras cujas finalidades são convites à comunidade escolar para reger um processo de aprendizagem numa viagem por culturas, tradições… Outros mundos… A origem do próprio homem. E, mesmo se dividindo em dois blocos distintos — estudo on-line e presencial —, é uma janela que se maximiza à medida que se explora para ampliar os horizontes da Educação em tempos de guerras familiares, deficiência de valores, para socorrer um sistema que não sabe em que ponto se encontra, muito menos em que direção seguir.
Por ser um modelo híbrido, suscita perspectivas e, como em toda inconstância, estabelece padrões definidos, envolvimento mútuo, um discurso universal para canalizar pontos de vista e, acima de tudo, prudência, pois o processo de implantação não pode queimar etapas, para que a comunidade escolar assuma o comando e possa transitar com segurança e para que o aluno, viciado em tecnologias, não desvie do foco.
Tais princípios não foram surpresa para o sistema de ensino, muito menos o educador, pois o sociointeracionismo, há mais de duas décadas, já determinava o preceito de que o aluno é responsável pela construção do próprio conhecimento; como mera intervenção docente, Blended Learning é a concretização dessa teoria numa versão hodierna, e este momento — em que o mundo se rendeu à tecnologia — é uma chamada à Educação para sintonizar o seu link ao do aluno e socializar as tecnologias da comunicação.
A regra estabelecida é prudência. Prudência desde o primeiro ato, que é o ponto crucial: o professor deve ser capacitado para gerenciar conteúdos em ambientes virtuais de aprendizagem para não se confundir nos processos, de modo que o aluno discirna o momento presencial como instante decisivo na formação do eu por meio das relações e, quando houver o apartamento — a distância —, utilize tais ferramentas para expandir o conhecimento, ratificando os conteúdos discutidos em sala de aula por meio de novas investigações, pois o padrão estabelece condicionamentos a partir da primeira regra, pela qual educador e educando devem discutir aonde ambicionam chegar e, a partir desse acordo, chegar à formação dos grupos de estudo, preferencialmente por afinidade, para evitar conflitos de ótica de mundo, ideias e ideais.
O segundo ato é desenvolver o programa, cujo planejamento pedagógico deve obedecer a organogramas acentuados nos princípios educacionais e, assim, gerar a combinação tempo (presencial) com distância (on-line) e transformar o processo de aprendizagem baseado nos princípios Blended Learning num grande parceiro do professor, que entrará na sala de aula munido das mesmas ferramentas do aluno e mediará o processo de aprendizagem por meio de instrumentos que infestaram o ambiente escolar.
O terceiro ato é o envolvimento escola-sistema-educador-governo-família para todos assumirem responsabilidades assinaladas e, assim, proporcionarem subsídios técnicos e formação profissional, para que o método revolucionário não seja abortado e a Educação pague o preço. A tendência de desenvolvimento conjugado é uma metodologia contemporânea para gerir o processo ensino-aprendizagem pelas coordenadas delineadas pelo aluno. As mudanças definem o desenvolvimento contínuo do educador para não perder o elo com as evoluções e o acompanhamento técnico especializado para auxiliá-lo na instalação da estrutura, que vai desde a constituição dos grupos à escolha dos conteúdos a serem inseridos na plataforma de ensino, pois os princípios determinam a concepção de um universo onde todos os mecanismos — celular, computador, tablet, smartphone, Internet, redes sociais — são inseridos como ferramentas pedagógicas. Isso, a princípio, pode provocar uma repentina inversão de papéis — devido à intimidade do aluno com as mídias —, pois tais procedimentos irão além da escola, do laboratório de informática, será, uma conexão que manterá o professor sempre em sintonia com o seu aluno. Progresso ou fracasso estão sujeitos à sincronia dos ideais e aos procedimentos adotados para traçarem caminhos alternativos na exploração de conteúdos e na dimensão da inclusão promovida pela integração de ambos no universo on-line.
O momento? É agora! Não temos tempo nem espaço para contornarmos. O uso das tecnologias educacionais não é mais um dos mitos que rondam a sala de aula. É fato. Uma necessidade tão urgente que estabelece ação imediata, transformações radicais, variações de metodologias e condutas, pois a tecnologia sobrepujou terminantemente o tradicionalismo e influiu em todos os campos do conhecimento.
Em meio aos burburinhos, o porquê: por que blended learning, que invade a zona de conforto da Educação e alicia o professor para o grande desafio do terceiro milênio?
A resposta não é complexa, pois, se o sistema almejar a adaptação, tem uma gama de alternativas e muitos preceitos a cumprir; o principal é não se afastar das coordenadas esboçadas pelas TICs como rotas de aprendizagem e, desse modo, preencher os vazios existenciais da Educação em meio aos conflitos de gerações, às práticas suplantadas, atendendo à emergência de conciliar Educação com avanço tecnológico, técnicas pedagógicas com ferramentas digitais. E, nesses procedimentos, a ação do professor é essencial na tomada de decisões.
Partindo do ponto em que estamos, para atingirmos tais metas lousa digital não é mais exclusividade, computador — no laboratório de Informática — não é luxo, muito menos sinônimo de inclusão. O professor, em grande parte desse processo, será um solitário numa espaçonave cujos dispositivos terão que reter recursos para rastrear os grupos, interagir ou inserir novos conteúdos — que, instantaneamente, abrolharão no tablet, notebook ou smartphone do seu aluno num ponto remoto da cidade — e, no instante seguinte, correr ao comando — sala de aula — para interagir, tirar dúvidas e, assim, consolidar a aprendizagem.
Partindo do ponto em que estamos, para atingirmos tais metas lousa digital não é mais exclusividade, computador — no laboratório de Informática — não é luxo, muito menos sinônimo de inclusão.
Aporte e suporte da gestão são fundamentais; valorização profissional por parte do governo, terminante, que deve proporcionar condições de trabalho e remuneração para que o professor não trabalhe em duas ou mais escolas. Se, a partir desse estágio, o professor recuar, será postergado. Pois a rota já foi traçada pelo aluno além do alcance das zonas militarizadas, e é por essas coordenadas que a Educação transitará, porque tudo será digital — a iniciar pelos cadernos e livros, plugados na Internet, que se converterão numa fonte de vida. De tão essenciais, induzirão o aluno ao transumanismo. Isso mesmo.
Na próxima década, a tecnologia reinará absoluta e, como ocupará a vida do humano, provavelmente não sobrará espaço para o professor — desse ponto em diante, a ciência já estará clonando seres humanos. E os pais escolherão o nível do QI, a personalidade dos filhos. Na seguinte, esses gênios biônicos serão geneticamente modificados, para que a combinação humano-robótica-inteligência artificial não entre em subversões, pois o seu cérebro será um misto de humano com processador neuromórfico monitorado por uma megainteligência artificial, ambos comandados por um supercomputador cujos programas conterão impulsos, reações, conflitos psicológicos, sentimentais. No processo de crescimento — da infância à adolescência —, os ajustes serão feitos milimetricamente para corrigir falhas familiares, bloqueios emocionais, traumas psicológicos, mutações genéticas e para que a metade do cérebro humano com a outra metade artificial funcionem sincronicamente, como a dos ciborgues, que ajustam o corpo aos equipamentos, que se transformam em órgãos; no humano-máquina, os conflitos serão minimizados.
Na década seguinte, os humanos terão uma gama de opções, ou seja, ambiciona-se ou não o aumento do QI via inteligência artificial, que fará raciocínios lógicos para não entrar em contradição com o novo planeta virtual onde habitará a humanidade sem essência humana e, se se opta pela inteligência expansiva, atingir-se-á desenvoltura de supermáquina capaz de projetar-se no futuro para as próximas dez gerações, ou seja, no mínimo 200 anos à frente, para acertar fracassos, curar doenças e sanar problemas que ameaçam a vida!
Não desliga, Pátria-educadora!
A sua eficácia transformará egoísta em solidário, estreitará a relação entre o homem e a natureza, interligará o eu com o próximo… Pois, nesse estágio, a Internet, na sua mais genuína linha de ação, trabalhará acima de 1.000 G para acompanhar a velocidade do pensamento e terá fins telepáticos, e os usuários não precisarão digitar, acionar ícones para serem redirecionados às redes sociais para compartilharem sonhos, vitórias, conquistas… porque interagirão por pensamento numa linha de ação em que o usuário chega aonde quer, encontra o que quer ou quem ambiciona, já que a Internet o levará ao ponto dos sonhos, pela simples força da mente de uma geração que não chegará a conhecer velharias como smartphones, tablets, tampouco computadores.
Calma… Contenha os impulsos e não mude de canal!
Não é ficção científica! Siga a evolução ou “seu professor” ao voltar os olhos poderá ser surpreendido por uma sala vazia e se certificará — tarde demais — de que seus alunos decolaram para explorar o mundo ou voltaram para sua casa espacial, onde elevadores magnéticos farão a conexão entre a casa — no espaço ou, se preferir, na Lua — e a base — a Terra — e dispositivos os transportarão por coordenadas seguras pelo espaço sideral para que possam visitar os amigos nas estações espaciais ou fazer um doutorado em Marte, em Vênus… Tomar um cafezinho na Lua sempre que sentir saudade ou a necessidade de um contato pessoal para colocar o papo em dia.
A quinta década do século é amanhã para um país que deixa tudo para o último instante. Portanto, principie mentalmente a contagem regressiva… Temos ciência de que, nos próximos capítulos da saga “Fomos Sobrepujados pela Máquina”, você se desesperará… O folhetim está concluído, e a próxima cena pode ser o blackout fatal na sua inusitada “Pátria-educadora”, pois, a partir desse estágio, ficção científica e realidade serão situações cotidianas na nova versão de sala de aula regida por robôs cuja rede neural será constituída por neurônios humanos, conectados a supercomputadores projetados para irem além, ou seja, encontrarem alternativas para o aluno, o sistema de ensino, o próprio governo — que não terá problemas com salários, greves, instituições de classe, por ter um profissional assíduo, competente, comprometido com a Educação, que estará sempre à disposição do aluno sem perder o humor, a graça, cujo QI não pode ser avaliado, pois a ciência, em meio às suas buscas ininterruptas, chegará ao profissional perfeito que não se ausenta ao trabalho, não cobra aumento salarial nem fica frenético para se aposentar. Esse sabe-tudo, cujo cérebro artificial tem as mesmas características do biológico, é acoplado a uma supermemória nanométrica neuromórfica, controlada por nanotecnologia ótica a partir de computadores neuromórficos do tamanho de um celular… Afinal, a consciência digital, além de superar a humana, não sofrerá lapsos nem agirá por impulsos… por dominar ferramentas revolucionárias e… BOOOMMMM… Sobreveio!