Edição 130
Profissionalismo
BRINQUEDOTECA ESCOLAR
Anita Silva Moraes Pinheiro
Embora sua existência date de algumas décadas, o projeto da brinquedoteca parece uma proposta de “modismo”, principalmente quando se trata de ambientes fora da escola. Nessa instituição, apesar de ainda não ter sua importância devidamente reconhecida, a brinquedoteca foi criada para melhorar a aprendizagem da criança, principalmente na Educação Infantil.
A brinquedoteca teve sua origem em Los Angeles, com a proposta de toy loan, em 1934, onde eram feitos empréstimos de brinquedos. Em 1963, surgiu uma proposta mais específica em Estocolmo, Suécia, a Lekotc (Lucoteca), em que se faziam empréstimos dos brinquedos para as crianças com deficiência; evoluindo, em 1967, na Inglaterra, para as toy libraries (biblioteca de brinquedos) com função educacional e terapêutica. Mas a brinquedoteca só ganhou expansão no mundo em 1987 (duas décadas depois), quando aconteceu, em Toronto, Canadá, um congresso internacional sobre a questão que gerou a proposta Centro de Recursos para Família.
O histórico da brinquedoteca no Brasil teve origem em 1971, com a inauguração da primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), com a proposta de exposição de brinquedos pedagógicos, mas apenas em 1973 foi gerado um rodízio de brinquedos chamado de ludoteca, e somente em 1981 surgiu a primeira brinquedoteca brasileira, em São Paulo, cujo objetivo seria o ato de brincar das crianças. Em seguida, em 1984, foi criada a Associação Brasileira de Brinquedoteca (ABBri), com um único objetivo: o de criar espaços onde as crianças pudessem brincar livremente sem regras impostas por adultos (FLOR, 2018, p. 16 e 17).
Quanto aos projetos de funcionamento das brinquedotecas, na atualidade já ocupam espaços escolares e não escolares, ambientes hospitalares/clínicas e ambientes comunitários/socioeducativos, todos com o mesmo objetivo de promover a ação do brincar, do jogo e das brincadeiras em espaços em que a criança possa vivenciar experiências do cotidiano e internalizar um saber particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos conhecimentos do mundo.
Em 1984, foi criada a Associação Brasileira de Brinquedoteca (ABBri), com um único objetivo: o de criar espaços onde as crianças pudessem brincar livremente sem regras impostas por adultos.
Entendemos que se trata de uma questão científica, mais focada na área de educação, e os projetos de brinquedoteca seguem fundamentos que as constituem em um espaço específico no ambiente escolar, importante no projeto da escola, em que devem ser desenvolvidas atividades recreativas e educativas, especialmente as que utilizem brinquedos e jogos infantis como ferramenta pedagógica e estimulem, em primeiro lugar, o brincar de forma prazerosa, para a promoção do desenvolvimento da criatividade, da imaginação, da socialização e das aprendizagens que contribuam para o desenvolvimento das crianças (Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI), apud Rau, 2007).
Nesse sentido, Flor (2018), em suas citações, considera que as brinquedotecas, embora existam em situações e lugares distintos e atendam a um público diversificado em diferentes proposições, mantêm o mesmo objetivo e proposta:
Logo, passamos a compreender que, para o desempenho em diversos papéis, as brinquedotecas assumem características que as definem pelos tipos: brinquedotecas fixas (que funcionam em área física delimitada, composta de espaços lúdicos definidos, conhecidos como cantinhos) e as brinquedotecas itinerantes (que são montadas e desmontadas a cada atendimento realizado, funcionando de forma dinâmica quanto à sua área de instalação, que pode ser: praça pública, evento e projeto específico, atendimento e visitas a ONGs e festas populares). Embora diferentes, ambas consideram, para seu funcionamento, o público-alvo (faixa etária das crianças, jovens e adultos) e o local de funcionamento (espaços lúdicos/cantinhos).
Quanto às propostas de funcionamento, as brinquedotecas, na atualidade, ocupam vários espaços, e a autora destaca: brinquedotecas em escolas, brinquedotecas em comunidades ou bairros, brinquedotecas em universidades, brinquedotecas em hospitais e/ou clínicas, brinquedotecas em centros culturais (FLOR, 2018, p. 18, 19 e 20).
Dentre os vários tipos de brinquedoteca e seus respectivos funcionamentos, vamos enfocar no tipo e ambiente da brinquedoteca na escola.
A brinquedoteca escolar é classificada como do tipo fixa: funciona em área física delimitada, composta de espaços lúdicos (ou cantinhos), de acordo com o público-alvo (faixa etária das crianças) e local de funcionamento (projeto da escola). Em geral, encontramos o cantinho dos brinquedos, o cantinho da leitura, o cantinho do faz de conta/imaginário, o cantinho das artes e o cantinho das brincadeiras com jogos de construção e jogos de regras.
Mais presente na Educação Básica/Infantil, tem seu objetivo conhecido como recurso pedagógico, bem definido pela estudiosa Rau (2007, p. 50) em sua citação:
O que se caracteriza por ser um espaço do brincar e da brincadeira que desenvolve, através do profissional de educação, prática de jogos como forma de estimular e propiciar a aprendizagem e o desenvolvimento infantil.
Logo, a brinquedoteca é um espaço de inclusão, proporciona à criança a conquista do seu mundo e exercita a sua inteligência, permitindo que sua imaginação flua, levando à invenção de mundos novos coloridos. O que Cunha (2001) confirma:
Por isso, a brinquedoteca deve ser um ambiente planejado para que a criança desenvolva suas habilidades e vivências, pois, nele, ela poderá fazer escolhas, expressar-se, ampliar seu conhecimento de mundo, utilizando as diversas possibilidades que o ambiente lhe proporciona (FLOR, 2018, p. 25).
Para a elaboração de um projeto de brinquedoteca na escola, temos que planejar um espaço de extrema importância, em que iniciamos pelo objetivo a que se propõe; seguido pela definição do público-alvo — as modalidades de ensino e a respectiva faixa etária dos alunos; observando a dimensão do espaço físico — ambiente amplo e organizado — e a estruturação desse espaço físico — com definições de espaços lúdicos (cantinhos) e sua composição com a seleção de jogos, brinquedos e brincadeiras em cada escola.
A seguir, apresentamos uma proposta para a implantação ou a requalificação de uma brinquedoteca em sua escola — com sugestões que seguem orientações técnico-pedagógicas, com base no objetivo, no público-alvo, na dimensão do local e nos espaços lúdicos.
Proposta de brinquedoteca na escola
Objetivo – Criar um espaço projetado que possibilite às crianças vivências e conhecimentos através de atividades lúdicas de jogos, brinquedos e brincadeiras, livres e planejadas pelos professores para o desenvolvimento integral dos alunos.
Público-alvo – Alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental (anos iniciais).
Espaço físico – Ambiente fixo (sala específica) para o funcionamento da brinquedoteca com dimensão de, no mínimo, 4,5 m x 9 m, aproximadamente, em local de acesso adequado ao público-alvo, considerando a segurança quanto à iluminação, refrigeração e mobilidade no ambiente.
Estrutura da brinquedoteca – Sugerimos, de acordo com o público-alvo, os seguintes espaços lúdicos (cantinhos):
Cantinho da leitura e atividades de artes – Nesse espaço, devem ser desenvolvidas atividades de leitura ou contação de histórias, como também atividades de artes, após a leitura, como desenho livre, pintura de desenhos impressos, manipulação com massinhas, elaboração de brinquedos de encaixe e desenvolvimento de artes temáticas. Ele é composto de prateleiras aéreas para a organização de livros de histórias e matérias de artes, com pranchas, bancada e cadeirinha, que servirão de suporte para o desenvolvimento das atividades.
Atenção! As prateleiras devem ficar numa altura adequada à faixa etária das crianças para melhor acesso aos livros e materiais lúdicos.
Cantinho do faz de conta – Nesse cantinho, os recursos devem ser variados, pois o mais importante será a criatividade e o uso do imaginário das crianças e dos acompanhantes que vão utilizá-los. Ele promove brincadeiras diversas de reprodução da vida adulta através do lúdico, gerando aprendizagem e entendimento do comportamento dos familiares, como também desenvolve, através do imaginário, o senso crítico e criativo das crianças. Deve ter brinquedos da rotina de um ambiente de casa, trabalho ou escola (mesa de passar roupas, um minimercadinho, uma minicozinha, ferramentas de plástico, etc.). Podem, ainda, ser colocadas prateleiras aéreas para organizar objetos de uso adulto (chapéu, bolsa feminina, óculos, kit de maquiagem, etc..
Cantinho dos jogos – Nesse cantinho, as crianças devem praticar o brincar, de sua livre escolha, de forma individual ou em grupo, desenvolvendo, espontaneamente, pontos de vista e aprendendo a aceitar regras e opiniões dos colegas, tomando iniciativas e decisões para a sua formação adulta.
Os recursos devem ser organizados em prateleiras aéreas, com jogos para idades diversas, contemplando temáticas relativas a atividades que promovam o desenvolvimento mental, criativo, flexível e competitivo.
Atenção! As prateleiras devem ficar numa altura adequada à faixa etária das crianças para melhor acesso aos jogos.
Os recursos devem ser organizados em prateleiras aéreas, com jogos para idades diversas, contemplando temáticas relativas a atividades que promovam o desenvolvimento mental, criativo, flexível e competitivo.
Cantinho dos brinquedos e das brincadeiras – Esses brinquedos serão utilizados em brincadeiras e jogos com arranjos em grupos ou individual, propiciando atividades de interação social, desenvolvimento de ações disciplinares e éticas nas relações sociais, além de muita diversão. Será composto por prateleira aéreas, com sugestão de brinquedos, considerando o público-alvo e a faixa etária das crianças: carrinhos, pião, caixa de blocos, bonecas/bonecos, quebra-cabeça, etc.
Para brincadeiras, considerando também o público-alvo e a faixa etária das crianças, sugerimos os seguintes materiais:
• 3 cones e 30 argolas de plástico (lançamento de argolas no cone).
• 3 cestos e 30 bolinhas de plásticos (lançamento de bolinhas no balde).
• 10 bambolês de plástico com diversas cores e suporte de parede.
• Tiro ao alvo afixado na parede para arremesso de dardos.
Atenção! As prateleiras devem ficar numa altura adequada à faixa etária das crianças para melhor acesso aos brinquedos e materiais lúdicos.
Além da definição e organização dos espaços lúdicos (cantinhos), cada escola deverá criar, junto com os professores, as Regras de Funcionamento e Recursos Humanos para o uso e a operacionalização da brinquedoteca fixa no ambiente escolar:
• Contratar um educador de apoio e para responder pela brinquedoteca e cuidar dela.
• Elaborar um banner com os “combinados para o uso” e fixá-lo na porta de entrada da respectiva brinquedoteca.
• Monitorar o acesso dos professores segundo agendamento.
• Não quebrar os brinquedos nem levar para casa os objetos e recursos da brinquedoteca.
• Deixar os brinquedos e recursos organizados após a utilização.
• Respeitar o espaço do outro nas brincadeiras individuais e coletivas.
• Compartilhar o uso dos brinquedos e objetos de uso comum.
• Os funcionários da referida escola devem efetuar a limpeza do ambiente.
Anita Silva Moraes Pinheiro é psicóloga, psicopedagoga e Especialista em
Neuropedagogia.
Nota: Aos professores, informamos que terminamos aqui o estudo sobre a temática Ludicidade e Educação, apresentada em três edições na revista CN.
Referências
FLOR, Noeli. Brinquedoteca: A importância da brinquedoteca na escola como um espaço de aprendizagem. Clube de Autores, 2018.
SANTOS, Santa Marli Pires dos (Org.). A ludicidade como ciência. Petrópolis: Vozes, 2001.
_________. O lúdico na formação do educador. Petrópolis: Vozes, 1997.
RAU, Maria Cristina Trois Dorneles. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba: Ibpex, 2007.
CUNHA, Nylse Helena Santos. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. São Paulo: Aquariana, 2007.