Edição 61

Lendo e aprendendo

Como educar crianças para pensar por conta própria

Como afastar seus filhos do perigo cada vez mais próximo das drogas, do álcool, da violência? O que um pai pode fazer para distanciá-los das más companhias e assegurar que não seguirão opiniões nocivas de grupos ou gangues? É possível garantir a segurança de nossas crianças e adolescentes, seu crescimento saudável, transformá-los em adultos equilibrados, produtivos, norteados por valores morais e com respeito pelos outros? Como torná-
-los cidadãos conscientes de seus direitos e deveres? Como saber se eles seguirão um bom caminho?

A solução para tantas dúvidas e temores dos pais e dos professores talvez esteja em uma única resposta: prepará-los para pensar por conta própria; separando conscientemente boas e más condutas, bons e maus caminhos. Essa é a proposta da médica pediatra americana Elisa Medhus, autora do livro Como Educar Crianças para Pensar por Conta Própria, premiado nos Estados Unidos com o Parent’s Choice Awards, que seleciona produtos educacionais de alta qualidade, e pela Associação Nacional de Publicações em Educação (Nappa).

A Dra. Medhus dá respostas para quase cem problemas comuns na educação, desde colocação de piercing até guerras de manhas, oferecendo soluções práticas que encaminham a criança para a autodeterminação. A autora mostra também como educá-las desenvolvendo e estimulando atitudes simples e cotidianas de atenção e observação internas. Mas como? São sete estratégias para desenvolver tais qualidades:

1 Criar um ambiente familiar favorável às decisões independentes. 
2 Ensinar as crianças como desenvolver um diálogo interno produtivo e evitar a autoilusão e as racionalizações. 
3 Treiná-las para pensar nos outros. 
4 Ensiná-las a desenvolver e a confiar em sua intuição. 
5 Utilizar estratégias de aconselhamento que encorajem a autodeterminação. 
6 Ajudar as crianças a desenvolver habilidades de autorrecuperação após derrotas, de modo que permaneçam autodeterminadas. 
7 Educar as crianças para lidarem com diferentes influências externas de modo autodeterminado. 

A pediatra diz que as ameaças e dificuldades enfrentadas pelas crianças na sociedade contemporânea derivam de uma única fonte: estamos criando nossos filhos para se orientarem pelo externo, e não pelo interno. “Estamos ensinando-os a fazer opções na vida para obterem aprovação e aceitação dos outros.” E completa: “Com isso, nossos filhos renunciam ao único dom que eleva seres humanos acima de todos as outras criaturas vivas — a capacidade de raciocinar por si próprio”. 

Imagine, por um momento, como seria o mundo se todas as crianças fossem auto-orientadas: teríamos pessoas com capacidade de avaliar seus pontos fortes particulares, traduzi-los em papéis significativos e contribuir para a vida do grupo desempenhando esses papéis, pessoas que vivem de acordo com seus próprios princípios, e não de acordo com os princípios dos outros. 

Por que algumas crianças que nasceram e viveram na favela tornam-se adultos produtivos, homens e mulheres de bem, muitas vezes de destaque na sociedade brasileira? É claro que a resposta é bastante complexa. Entretanto, será que não passa pela autodeterminação dessas pessoas, que não se deixaram contaminar pelo tráfico e pela bandidagem, caminho seguido por muitos por ser o mais fácil? Alguém lhes ensinou princípios e valores, enquanto as outras não tiveram a mesma sorte.

Compare isso com um mundo orientado para o exterior, em que pessoas se viram do avesso para conseguir as melhores posições no grupo, pisando nos outros e ignorando os próprios princípios morais ao longo do caminho. Dê mais um passo e imagine que está ao seu alcance, como pai ou educador, decidir qual desses caminhos a humanidade vai trilhar! É claro que não é nada fácil, mas é preciso tomar uma atitude antes que seja tarde. Conheça algumas ferramentas que vão ajudá-lo nesse desafio:

Você precisa ser um modelo de comportamento. Não faz sentido longos sermões sobre os perigos das drogas enquanto você tem algum vício.
Lembre-se: as coisas têm de fazer sentido e ser significativas para que o diálogo interior das crianças seja claro, eficiente e viável. 
Ensine seus alunos a resolverem seus conflitos com os outros pacificamente, pois eles precisam aprender que a violência nunca é uma solução aceitável para um problema! 
Alerte os pais sobre a atenção que precisam prestar aos sites que as crianças visitam na Internet. Se tiver de vigiá-los, que seja agora! 
Aconselhe os pais a não sobrecarregarem a agenda de seu filho para que ele não se torne um miniestressado. Esteja à disposição deles para interagir, para criar um vínculo profundo entre vocês. 
Transmita valores a seus alunos para que se sintam amados pelo que são, e não pelo que têm. Eles devem entender que os bens materiais são um subproduto — e não a causa — da felicidade e devem ser divididos e desfrutados com os outros. 
Mostre aos pupilos o real sentido do sexo: a expressão suprema do amor entre duas almas, que o sexo é natural e belo, não uma forma de escapar do tédio ou uma busca de prazer por meio dos cinco sentidos. 
Eduque as crianças sobre as desvantagens e os perigos da irresponsabilidade sexual.
Instigue-os a assistirem programas. Não mostre a eles filmes em que os heróis ou as heroínas são reverenciados por sua precocidade sexual. O objetivo não é tornar seus filhos assexuados, mas conseguir que eles façam opções sobre a sexualidade por meio do diálogo interno, em vez de reagir às pressões do exterior. 
Ensine aos estudantes que a verdadeira atração não vem de um corpo e rostos perfeitos, mas, sim, da autoexpressão, da criatividade, da autoaceitação e da capacidade de mostrar amor, afeição e intimidade. 

Se conseguirmos, em parceria, educar nossos alunos com uma atitude cooperativa, eles poderão crescer e mudar a sociedade, fazendo com que esta deixe de ser um monte de adversários e passe a ser um monte de amigos. Pode parecer utópico, mas está em nossas mãos. Tomar a estrada da auto-orientação, da harmonia, deve ser a regra — e não a exceção —, e os problemas do presente se tornarão lições do passado.

Revista Profissão Mestre. Ano 7, n. 73. Curitiba: Humana Editorial. Outubro, 2005.

Para saber mais: 
Livro: Como Educar Crianças para Pensar por Conta Própria 
Autora: Elisa Medhus Fernando 
Editora: Mercuryo 

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