Edição 76
A fala do mestre
Copa do mundo: Brasil 2014
Nildo Lage
O Brasil é um primor do Criador, que o moldou com esmerado zelo, até o transformar numa obra de arte entressachada por belezas excêntricas, encantos que despertam amor, acendem paixões avassaladoras, como no poeta indianista, da geração romântica, Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras,/ onde canta o sabiá,/ as aves, que aqui gorjeiam,/ não gorjeiam como lá!”.
O País é brindado por belas praias e mulheres formosas que arrebatam declarações de amor, como em Eu Te Amo, Meu Brasil, de Os Incríveis: “As praias do Brasil ensolaradas, o chão onde o País se elevou, a mão de Deus abençoou, mulher que nasce aqui tem mais amor…”. Brasil, que seduziu o mundo e atraiu todas as raças, nessa fusão, tornou-se um misto de gingado, ritmos, cores, sabores… e, em meio a tantas cadências e delícias, converteu-se no país do Carnaval, palco da maior festa do planeta, onde povos de todos os continentes migram à procura de alegria. Os Incríveis que o digam: “No Carnaval, os gringos querem vê-las, num colossal desfile multicor, a mão de Deus abençoou, em terras brasileiras vou plantar amor!”. Sem contar que é um conjunto de deslumbramentos naturais que o consagrou como pulmão do mundo com a glamorosa Floresta Amazônica… Brasil… Um paraíso habitado por um povo hospitaleiro, que aprendeu a driblar problemas, superar as tragédias e se esquivar das crises.
Tamanha desenvoltura converteu o Brasil no país do futebol, cuja indústria, em franco desenvolvimento, exporta, para os quatro cantos do planeta, profissionais que brilham nos estádios do mundo e que, como reconhecimento pelo elevado benefício ao futebol-arte, fará as honras de sediar o maior espetáculo do universo futebolístico, para consumar a patente de país do futebol, afinal, foi aqui que nasceu o seu rei. E será, em 2014, o país da Copa, o palco do maior show da Terra.
Copa? Conhecemos muitas, conquistamos outras… Temos tantas… Mas quais são as copas?
Dependendo da fonte buscada, as respostas podem confundir ou nos conduzir a pontos de vista bifurcados, pois a ótica dependerá do ambiente em que a pergunta foi disseminada.
Se perguntarmos a fonte — ao latim —, por exemplo, ouviremos ae, ou cuppa, mas por sorte, encontraremos alguém nesse território denominado dicionário para nos esclarecer nesse “latim” de que essa copa “é uma grande vasilha de madeira”; todavia, se buscarmos a resposta no Brasil, onde a Copa promete, podemos iniciar pelo Rio Grande do Sul — cuja Comissão de Organização chegou com uma hora de atraso para a reunião com a FIFA, que se iniciou sem os representantes brasileiros no Estado, a resposta chegará na bucha: “A verdadeira copa é aquela que está acima da minha cuca, a copa do meu chapéu, tchê!”; ainda nas jurisdições do Rio Grande do Sul, que tem o seu próprio glossário, descobriremos que copa “é cada uma das peças conexas de prata nas extremidades do freio do campeiro”.
Por outro lado, se esquivarmos para um canteiro de obras, principalmente dos estádios, cujos trabalhos estão avançadíssimos, e abordarmos engenheiros responsáveis sobre o que é copa, estes responderão sem pestanejar: “Copa? (risos) Somos especializados em copa, pois, em todas as casas que desenhamos, a copa é um ambiente de requinte, por ser o ponto mais alto do projeto, a dependência em que se dispõem serviços de mesa com pratos deliciosos!”.
Contudo, se o cardápio não foi o bastante para saciar a fome de Copa, podemos ir um pouco adiante e abordar outro engenheiro, o de florestas, que não pensará duas vezes antes de afirmar que copa “é a parte superior das árvores formada pela extremidade dos ramos!”.
Com tantas copas na nossa vida, descobrimos que, independentemente do sentido, Copa está acima das expectativas, pois estar na Copa é mais do que passar pelo desafiante processo eliminatório… Estar na Copa é atingir as alturas, é estar entre os melhores… Para satisfazer o desejo maior: Chegar à Copa do Mundo para ser notado, reconhecido por todos.
Mas o que é Copa do Mundo para o Brasil?
Para o cidadão brasileiro, extasiado por futebol, é uma honra, oportunidade única para declarar o seu amor; para o Governo, uma festa exuberante, esperada com expectativas. A cúpula mal espera o momento de seduzir os melhores e os mais poderosos do planeta para o seu seio. Com dinheiro em caixa, economia em alta, agricultura batendo o próprio recorde de produção, não é necessário se preocupar com os custos de um espetáculo para elevar a já exaltada Nação à tão ansiada Copa do Mundo.
Afinal, não há risco de erros, muito menos de perdas num negócio seguro, no qual o lucro imediato é garantido. Tudo está ajustado, em seus devidos lugares, pois temos o que um país necessita para sediar o maior espetáculo do universo do futebol: infraestrutura financeira, administrativa e muita segurança.
Quando a terra interromper a sua rotação para apreciar a Brazuca entrando na batalha e, assim, decidir perdedores e vencedores, canções serão entoadas e muitos, como Gabriel, O Pensador, que não tem Nádegas a Declarar, desconversará a letra da canção: “No país do futebol o sol nasce para todos, mas só brilha para poucos”, pois terá a oportunidade de descobrir um Brasil sem pobreza e corrupção; um Brasil que, de tão justo com o seu cidadão, transformou-se em canto, encanto e poesia que arrancarão sorrisos, gritos e lágrimas em seus estádios devidamente preparados para receber o torcedor. Um Brasil rico, cujo povo está satisfeito com a saúde, que ampara; orgulhoso da educação, cujas escolas cumprem o seu papel social, por serem preocupadas com a formação de cidadãos capazes e conscientes de apreciarem um espetáculo, cuja honra é exclusivamente para ricos.
Mas, por sermos uma terra de ricos e para ricos, o cidadão brasileiro transita entre fascínios e progressos, e esse glamour só pode ser comparado ao império do rei Salomão, que atraiu as atenções do mundo com o seu resplendor e sua sabedoria; encantou o distante reino de Sabá, cuja rainha o visitou, sobrecarregada de ouro, pedras preciosas, finas iguarias, para agradar ao rei de um país onde tudo funcionava movido pela justiça.
E, nesta Copa, o confronto entre as nações será realmente um encontro de reis, um fato único na trajetória do Brasil, pois o País está no auge da sua supremacia, e o Governo, orgulhosamente, convida seus honrados cidadãos para o espetáculo, mesmo consciente de que, no caminho até o gol, muitos ficarão para trás, emoções serão vividas, lágrimas roladas, sorrisos de vitórias divididos, tristezas compartilhadas… Mas tudo isso faz parte do jogo, o que não pode ser asfixiada é a esportividade, pois o brasileiro sabe que, no mundo da bola, vencer ou perder não pode afetar um momento que atrairá os olhos do mundo para um evento que estagna o planeta e impele todos a direcionar um olhar para o alto e apreciar o fenômeno: Copa.
Governo, CBF e Comitê Brasileiro: exemplos de competência e organização
Quando os turistas desembarcarem, impregnados de ansiedade para desfrutar dos encantos do país do futuro, ficarão maravilhados desde o saguão com a suntuosa estrutura dos nossos aeroportos que foram cuidadosamente readequados para receber os convidados de honra, à recepção calorosa dos hotéis que cobram preços equitativos e, ao ganharem as ruas, desvendarão um país que desconhece problemas sociais, pois estes são superados com justa distribuição de renda, eficientes programas que promovem a cidadania como ato de justiça social; uma nação cujas praias são de águas límpidas por desconhecerem sujeira, poluição; estradas maravilhosas, onde a corrupção é tão somente uma lenda, pois os nossos políticos assumem posturas de super-heróis, capazes de buscar — para honrar a classe e o voto recebido — uma injustiça até nos órgãos mais fiscalizados como a Confederação Brasileira de Futebol.
A ordem na CBF é tamanha que muitos já chegaram a questionar até em forma de canção:
Entre sonhos e realizações, essa grandeza foi ressaltada, e é inevitável refrear o comentário da rainha de Sabá: “Tudo que ouvi em meu país acerca de tuas realizações e da tua sabedoria é verdade!”. Afinal, há os protestos, que chegam a destruir o patrimônio público, mas esses movimentos são tão somente atos de reconhecimento a um governo que enaltece a nação ante uma corrupção que daria para reconstruir e promover maravilhas.
E certamente serão encaradas pelos visitantes como manifestações de um povo culto, que salienta a sua satisfação com a segurança oferecida por um governo de jeitinhos e atrasos casuais, ocorridos propositalmente para jogar com a emoção, com a paixão de um povo que conta nos dedos os dias, as horas, os minutos para apreciar um espetáculo que promete abertura cinematográfica.
No Brasil da perfeição política é assim: tudo é motivo de festa: se gasta um real numa obra, é justo corroer dez na inauguração… É tudo festa, Carnaval… Pretextos de alegria… Razões de deslumbramentos: “Mas eu não acreditava no que diziam, até ver com os meus próprios olhos. Na realidade, não me contaram nem a metade; tu me ultrapassas em muito o que ouvi, tanto em sabedoria como em riqueza”. Pois, assim como a rainha de Sabá, os reis do mundo entrarão em êxtase com um Brasil onde tudo dá certo, pois jamais imaginariam que um emergente desconhecesse indigência, analfabetismo, descaso, corrupção, violência… Pois o governo deu a primeira lição de cidadania, salientando que o “Brasil, um país de todos”, poderia ser uma grande nação.
O Governo arregaçou as mangas, foi à luta e, em pouco mais de uma década, provou ao mundo, principalmente às grandes potências econômicas, que “país rico é país sem pobreza”. Aqui, FMI e miséria são coisas do passado. Não ficamos libertos apenas de uma dívida externa, somos literalmente livres. Um país onde todos fazem o que querem, tudo é permitido, nada é exigido, porque os administradores estão tão absorvidos com o bem-estar e a justiça que equipes de Governo passam temporadas em presídios de segurança máxima para averiguarem se os reclusos são tratados como determinam os Direitos Humanos, salientando que não apenas exporta atletas para o planeta, mas também oferece educação de primeiro mundo, saúde eficiente e justiça social, pois aqui se investe alto na indústria — de marginais —, fortalecendo o comércio — de mensalões.
E é impossível tanto suporte, aporte e altos investimentos, principalmente para ostentar a cultura “de roubar” no esporte das “jogatinas políticas”, e não termos cidadãos dominando “habilidades e competências” capazes de driblar crises e sanar problemas sociais, que até mesmos países desenvolvidos não conseguem superar.
Afinal, as ruas do Brasil converteram-se em campos de batalhas, onde os problemas são manifestados e discutidos, e o povo não é massacrado, graças ao acesso à informação de uma mídia que não permite dolo, de uma educação em que a formação do humano é um alvo que deve ser atingido a qualquer custo, mesmo que para isso o professor tenha de ser elevado a profeta para prever e redesenhar trajetórias, submetido a uma reciclagem ininterrupta, para dominar habilidades para fertilizar mentes e competências para plantar a certeza de que “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, para que o educando adquira a consciência de que a educação é verdade, vida… A via que conduz o homem pelo sinuoso caminho das realizações.
Ao chegar a esse estágio, o educando rompe as amarras e descobre que é realmente livre para sonhar, crescer. Por isso, somos uma nação livre, libertos por uma cidadania que impõe justiça, concedendo-nos o direito de sermos o que queremos, de termos o que nos é de direito, porque, no país mais democrático do mundo, temos liberdade para votar, manifestar, decidir o que faremos, irmos aonde temos segurança. E, como todo cidadão livre, reconhecemos a preocupação do Governo em globalizar o nosso ensino, e esse reconhecimento impeliu os nossos administradores a chegarem às TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação, que revolucionaram os métodos de ensino, que auxiliam alunos e educadores a suplantarem o tão temido analfabetismo digital.
É assim que esse Governo incansável e justo luta para superar as barreiras do “Eu não sabia de nada!”, em que a importância da informação na formação do humano é item básico, fundamentado no currículo, mesmo com o excesso de informações, desinformações e dados forjados. Foram tais atitudes que garantiram que a nossa educação chegasse à Copa, pois as nossas escolas e os profissionais da educação estão preparados para superar a deficiência de habilidades e a dominar os veículos de acesso às informações, fazendo com que essas ferramentas se tornem aporte no contexto educacional.
E, como todo setor que ambiciona o desenvolvimento de seus dependentes, o Sistema de Ensino não perdeu tempo: acelerou os passos para atingir os propósitos da revolucionária Tecnologia da Informação e gerou o professor eletrônico, com habilidades para dominar todos os conteúdos.
Para não perderem a batalha contra a guerra eletrônica, as nossas escolas estão digitalizadas. Basta acessar a rede de computadores e digitar simples comandos: Ctrl+T, Ctrl+C e Ctrl+V. Alunos e professores têm o planeta na tela do PC, para que o professor eletrônico, que sempre tem respostas exatas, possa acompanhar o desenvolvimento de seus educandos, que já se enveredam pelo portão da escola conectados, conscientes das vantagens de serem bem informados, para, assim, não se desplugarem de um mundo cada vez mais eletrônico.
Com tantas atrações e enlevos, esses turistas, ao partirem depois da festa, levarão doces lembranças, deixarão saudades inesquecíveis e, assim como a rainha de Sabá, um conforto na alma e o desejo de regressarem: “Como devem ser felizes os homens da tua corte, que continuamente estão diante de ti e ouvem a tua sabedoria!”.
Os reflexos dessa realidade estão em nossas ruas sem violência, sob pontes e viadutos não habitados por sem-teto. Ao contrário de outros emergentes, cujos locais são residências das vítimas da injustiça social — como dependentes químicos. Afinal, um país que chegou à Copa do Mundo desconhece o que é criminalidade, abandono social, descaso político e, como sobrou fundos, bilhões de reais são canalizados nos estádios para presentear o povo brasileiro — tão apaixonado por futebol — com ambientes que se tornaram modelos de arquitetura.
Se não levarmos a taça do hexa, ficará o consolo do nosso congresso, que se tornou um recordista mundial, pois durante dez anos consecutivos bateu recorde sobre recorde de baixa produtividade. O motivo? Brigas na base aliada. Mas esses impasses são os ossos do ofício, num local onde discutir melhorias, muitas vezes, induz a altercações calorosas. Temos consciência de que mudanças são processos lentos, por sabermos que todos querem o melhor para o Brasil, para o brasileiro… Sem contar que não corremos os riscos sofridos pela África do Sul, onde, um ano após a Copa, os rombos surgiram e ninguém quis saber de agarrar o problema à caça de uma solução, como as do estádio Green Point, na Cidade do Cabo, onde nenhuma empresa ou entidade esportiva se candidatou para assumi-lo, mesmo a cidade sendo sede de um dos maiores times de rúgbi do mundo, o Stormers. O caos é tamanho que já surgiu até proposta de lançar o monumento abaixo.
Felizmente, não é o nosso caso, pois nem mesmo a Arena da Amazônia correrá a temeridade de ser lançada às traças, muito menos de se transformar num museu natural. A competência está atenta e em ação, por isso, não há motivos para preocupações, pois não será preciso nenhum esforço para fazer da Copa de 2014 a Copa da superação, e será a maior façanha de um emergente, que ostenta sem perder a pose uma festa para rico se divertir.
Ante tanto sucesso, temos que nos curvar e admitir: o futebol é marca do Brasil, uma paixão que aglomera multidões numa só voz… “Pra frente Brasil!”, por estar atento para absorver cada lance, dividir a mesma ansiedade, as mesmas angústias… Mas sabemos que a dor da expectativa será cortada subitamente com um grito de “Gooolllll…”.
Para que pensar no amanhã, se o agora é um sonho: a educação, a saúde, o social vão maravilhosamente bem, obrigado. Temos grana em caixa para fazermos festa para ricos, e, se o Governo se gaba em rede nacional, está mostrando que atende às ambições do povo e demonstra que as gastanças e os superfaturamentos não são nada além de uma demonstração de amor à Pátria, onde cada obra é em prol da Nação.
Sediar a Copa de 2014 é um ato de justiça, é receber o reconhecimento do mundo para honrar o Brasil. É o mínimo que o universo pode fazer para um Brasil que irrompeu as barreiras sociais e educacionais, demoliu o mito de país que mais cobra impostos no mundo, deixou de ser devedor para passar a ser credor do FMI, porque o Brasil de todos os credos acreditou, lutou e venceu.
Por isso não foi necessário sacrificar o brasileiro em nome de uma paixão nem asfixiar a cidadania; muito menos reduzir o humano — como a África do Sul, que praticamente expulsou os nativos das regiões onde foram construídos os novos estádios — Brasil tem programa de moradia. E quem tem moradia não precisa se preocupar com sol ou chuva… Afinal, o Minha Casa Minha Vida é mais do que um programa habitacional, é um caminho que realiza sonhos.
Ainda bem que doença é um tremor que o sistema sísmico do Ministério da Saúde do Brasil desconhece; miséria e fome são situações que a Ação Social ignora, pois dá lição de cidadania, provando que país sem fome é país sem violência, e país sem violência respeita o social e resgata vidas para ostentar a dignidade humana.
A Copa será tão somente um desafio que será ultrapassado sem o mínimo de esforços, por estarmos preparados para crises e eventuais contratempos. Viveremos as emoções do hexa como um ideal gravado nas tábuas do coração de cada brasileiro, confortavelmente acomodado no seio de um Brasil que usa a disciplina como regra, a autoridade como justiça e a justiça como ponto de equilíbrio.
Porque esse Brasil que o mundo desconhece vive entre fascinações e júbilos, conquistas e concretizações. E adverte: a única coisa que o Governo não conseguirá conter serão as explosões de alegria, por serem os reflexos da satisfação que transformou a Terra de Santa Cruz numa inspiração chamada Brasil. Um portal que se abriu e deslumbrou o europeu, infunde o poeta, faz o seu povo sonhar e impulsiona as novas gerações a partirem à caça de conquistas ainda maiores, por sermos um universo de mistérios e encantos, que até nos dias atuais seduzem e provocam os ocidentais que o retratam desde o século XVI como o “Éden Reencontrado”, Éden que apenas nós — brasileiros — podemos orgulhosamente chamar de “Nossa Pátria!”.