Edição 14

Ambiente-se

DICAS PARA ECONOMIZAR ÁGUA

A água potável é um recurso escasso no planeta. Do total das águas do mundo, 97,4% constituem a massa líquida dos oceanos e são impróprias para o consumo. A água que está aprisionada nas calotas polares, constituindo 1,8% do total, é potável, mas muito distante dos eventuais consumidores.

Apenas 0,8% das águas do mundo é simultaneamente potável e acessível aos humanos, embora desigualmente distribuídas na superfície do planeta. Mesmo assim, essas águas vitais e raras da natureza têm sido irresponsavelmente deterioradas pela poluição, transformando os recursos hídricos numa questão de grande peso político no século XXI.

O Brasil é um dos países mais ricos em recursos hídricos: cerca de 8% da água potável do mundo concentra-se no território brasileiro. Porém, as águas doces do Brasil estão desigualmente distribuídas pelo território. A Amazônia, que contém 5% da população brasileira, concentra, sozinha, 80% da água potável do País, enquanto os demais 95% da população usufruem de 20% da água.

Além das precondições naturais, sucessivas agressões ao meio ambiente provocadas pelo homem, acompanhadas de desequilíbrios socioeconômicos, têm originado o surgimento de diversas áreas críticas no tocante ao abastecimento de água potável. Esse é o caso clássico do Nordeste brasileiro, região em que a “cerca” (do latifúndio) produz a “seca”.

Além do semi-árido, diversas regiões metropolitanas têm sido duramente atingidas pela falta d’água. As autoridades têm “solucionado” o problema adotando a estratégia dos rodízios, via de regra, penalizando a população pobre que habita as periferias dos grandes centros.

Qualquer forma de desperdício do precioso líquido é absurda, pois ele é fundamental para a perpetuação da vida. Entretanto, há que se registrar que o desperdício de água no Brasil é, em larga medida, estrutural, ou seja, ele se origina do próprio sistema criado para a sua distribuição.

Esse absurdo ocorre, em primeiro lugar, porque existem vazamentos e perdas do líquido nas adutoras e nos encanamentos públicos. Em São Paulo, por exemplo, segundo o Instituto de Geociências da USP, cerca de 36% da água é perdida antes de alcançar os consumidores.

Em segundo lugar, existe a própria irracionalidade do sistema adotado, que usa água tratada para lavar quintais, garagens e para as descargas no banheiro. Em países como o Japão, é reutilizada a água do banho para essas operações de limpeza. (Antes de você considerar isso estranho, pense e responda: por que lavar a calçada com água tratada?)

Em terceiro lugar, em razão da omissão das autoridades, devemos citar os equipamentos em circulação no mercado. Quase todas as torneiras e chuveiros disponíveis nas lojas são perdulários no consumo de água. A não-regulamentação da produção por leis mais rigorosas permite mais uma brecha na defesa dos recursos hídricos.

Existem, é claro, tecnologias alternativas, que conseguem uma diminuição das perdas. Exemplificando: enquanto uma torneira convencional gasta 0,2 litro de água por segundo, as alternativas gastam metade desse volume. Além de torneiras, existem também arejadores e pulverizadores que diminuem a vazão sem comprometer a eficiência. Embora pouco comuns no Brasil, já podem ser encontradas latrinas “ecologicamente corretas”, assim denominadas porque solicitam menor vazão de água do que as de formato tradicional.

No geral, esses equipamentos são mais caros, mas podemos contar com liquidações e feiras de material. O que interessa é que, apesar do preço, isso se reverte rapidamente em benefício, pois o investimento é recuperado, no máximo, após seis meses de implantação do novo sistema.

O consumo de água na Grande São Paulo pode ser reduzido em até 52% se torneiras, chuveiros e descargas tradicionais forem substituídos por equipamentos mais eficientes. Esse dado faz parte de uma pesquisa, em fase de conclusão, do estudante de pós-graduação em Energia da USP, Paulo Gonçalves. Comparando o consumo médio de água na Grande São Paulo com o das principais cidades do mundo, Gonçalves concluiu que o paulistano gasta, no dia-a-dia, três vezes mais água que o europeu. Enquanto um sueco, por exemplo, consome três litros de água ao dar descarga, um brasileiro gasta em média nove litros.
Folha de S. Paulo, 16/11/1994.

Há também que serem listados os maus hábitos dos consumidores, que repercutem diretamente no volume de água consumido. Por exemplo: se uma pessoa escova os dentes em cinco minutos com a torneira meio aberta, ela gasta em média 60 litros de água. No entanto, se mantiver a torneira fechada e utilizar um copo de água, economizará mais de 59 litros de água tratada.

Outro exemplo é o banho de chuveiro. Um banho de 15 minutos, com registro meio aberto, consome 144 litros. Caso o banho demore 5 minutos (mais do que o suficiente para lavar o corpo de um adulto), fechando o chuveiro durante o ensaboamento, o consumo cai drasticamente para 48 litros.

Lembre-se também de que, evitando e estancando o uso supérfluo de água, contribui-se para diminuir a vazão dos efluentes e das águas servidas, que, geralmente, são direcionadas para as bacias hidrográficas das imediações, o que contamina mananciais e cursos d’água.

Efluente: Qualquer tipo de água ou líquido que flui de um sistema de coleta, como tubulações, canais, reservatórios e elevatórios, ou de um sistema de tratamento ou disposição final, como estações de tratamento e corpos de água.

Detectando Evidências de Vazamentos
Enquanto o poder público aguarda seu momento para dizer, no final das contas, a que veio, você pode muito bem cuidar da sua casa e fazer a sua parte na defesa do planeta, de preferência poupando água e dinheiro.

A primeira providência, obviamente, é verificar a ocorrência de vazamentos na sua casa. Por pequenas rupturas nos canos e falhas de vedação, escoa grande quantidade de água, numa proporção muitas vezes impensável para a maioria das pessoas.

A título de exemplo, um prosaico buraco de 2 mm — o tamanho da cabeça de um prego — desperdiça aproximadamente 3.200 litros de água por dia. Se pensarmos que uma pessoa gasta, em média, entre 150 e 400 litros diários de água, fica evidente a sua dimensão, assim como o potencial de danos que pode ocasionar.

Os vazamentos geralmente deixam sinais claros que contribuem para a sua localização. Entre os sinais mais comuns, podemos apontar:

* Chão ou parede com área úmida ou molhada, apresentando decomposição da tinta ou do reboco.

* Valores muito acima da média de consumo da casa.

* Odores desagradáveis emanados das paredes ou do chão.

* Barulho persistente de água nas paredes ou no piso.

* Estalos nas fundações do prédio ou no chão, acompanhados de afundamentos sem motivo aparente.

Testando Vazamentos
Antes de alarmar-se e chamar desnecessariamente uma firma especializada ou um encanador, faça um teste para comprovar o vazamento, seguindo as instruções:

* Jogue migalhas de pão no vaso sanitário. Se as migalhas não ficarem no fundo, é sinal de vazamento na válvula ou na caixa de descarga.

* Nos vasos cuja saída da descarga for para trás (direção da parede), deve-se fazer o teste esgotando-se a água. Se a bacia voltar a acumular água, há vazamento na válvula ou na caixa de descarga.

* Outra dica é você iniciar o controle do seu consumo, registrando os seus gastos numa tabela. Caso seu consumo médio apresentar aumento significativo, sem expansão paralela de atividades consumidoras de água, é porque existe algum vazamento.

Economizando na hora de abrir a torneira
Grandes fontes de desperdício podem ser localizadas no nosso próprio cotidiano. Quando escovamos os dentes ou fazemos a barba mantendo a torneira aberta, estamos gastando muitos litros de água quando poderíamos estar gastando, com as torneiras fechadas, bem menos.

Se o exemplo for a lavagem do automóvel, uma mangueira aberta por 30 minutos gasta entre 200 e 550 litros d’água, enquanto 4 baldes com 10 litros cada seriam mais do que suficientes para o trabalho. Uma economia de 20% a 80%!

Como sempre, você deve se manter atento com relação aos vazamentos e gotejamentos. Podemos compreender melhor a dimensão do desperdício analisando a ilustração abaixo:

torneira

Pelo que foi exposto, você pode começar a economizar água atacando o problema pela raiz, ou seja, pela torneira, adotando os seguintes cuidados:

* Combata todo e qualquer vazamento de água.

* Feche bem todas as torneiras, certificando-se de que não há goteiras.

* Elimine da sua vida a prática da “vassoura d’água”, ou seja, a lavagem de calçadas e quintais utilizando a mangueira.

* Somente use a mangueira caso seja estritamente necessário.

* Mantenha a torneira fechada quando não estiver usando a água, como ao lavar a louça e a roupa.

* Quando estiver com a torneira aberta, na pia da cozinha, por exemplo, coloque a louça para lavar debaixo do fluxo, assim, enquanto você lava uma peça, a água corrente já vai antecipando a lavagem da próxima peça.

* Nunca deixe de fechar direito a torneira. Evite manter um fluxo de filetes de água. Com o tempo, o registro fica viciado, comprometendo a sua finalidade e desperdiçando água.

* Escove os dentes ou faça a barba sempre com a torneira fechada ou, então, utilize um copo (é perfeitamente possível escovar os dentes com apenas um copo de água, experimente!).

* Substitua a mangueira por baldes de água na lavagem do carro.

* Também não desperdice qualquer fração de água com sabão. Você pode utilizá-la para lavar calçadas, quintais, etc.

* Não use equipamentos perdulários no consumo de água, como é o caso das duchas de alta pressão.

* Faça a limpeza necessária na casa, mas evite excessos. Não é promovendo o dilúvio que sua casa ficará mais limpa. Ela apenas se tornará mais úmida.

* Durante o verão, não regue o jardim ou suas plantas durante o dia, mas, sim, no entardecer ou à noite. O aproveitamento da água pelas plantas será bem maior.

* Não dê descargas muito demoradas. Se possível, substitua os vasos sanitários de formato tradicional pelos poupadores de água.

* Não tome banhos muito demorados.

Economizando na hora de ligar o lava-louças
Apesar de malvisto por muitos ecologistas, que julgam o equipamento “antiecológico”, em razão de ser mais uma fonte de consumo de energia, é indiscutível a utilidade desse equipamento. Apesar de consumir eletricidade, a máquina de lavar louça é uma grande poupadora de água.

A título de exemplo, lembramos que uma lavadora grande, com capacidade para lavar a louça de uma família com seis pessoas, consome, quando bem usada, apenas 40 litros de água, enquanto uma torneira aberta na pia consome exatos 243 litros. Uma economia e tanto!

Para otimizar o desempenho do seu equipamento, seguem alguns conselhos úteis, extensíveis também à lavagem na pia:

* Limpe todos os restos de pratos e panelas com uma escova.

* Deixe as panelas de molho, juntando talheres e outros utensílios no seu interior.

* Coloque as peças na lavadora e somente acione o equipamento quando este estiver cheio.

Waldman, Maurício Dan Moche Schneider. Guia Ecológico Doméstico.
São Paulo: Contexto, 2000. pág. 86 a 92.

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