Edição 97
Livro da vez
INDIRA
Hugo Monteiro Ferreira
Uma história de coragem, superação e amor e não conformação
Indira, publicado em 2017, pela Franco Editorial (Juiz de Fora), é um livro que narra a história de uma mulher, nascida aos setenta anos de idade, habitante de uma aldeia, narradora de histórias, amiga das crianças e rejeitada pelas pessoas que não lhe querem bem, não lhe têm afeição, não lhe acolhem como ela é.
Depois que foi expulsa foi da Aldeia, em razão de não concordar com as atitudes dos Homens Fortes, das Mulheres Iguais e das Pessoas Perfeitas, Indira percorre uma jornada que a leva a ter com personagens como o Medo, o Cansaço, a Sorte, o Amor, as Perguntas. No encontro com cada uma dessas figuras, a mulher que nasceu velha se descobre capaz de vencer desafios e propor saídas para situações difíceis e desafiadoras.
Corajosa, apesar de fragilizada em certas situações, Indira, ainda na Aldeia, enfrenta os Homens Fortes, pondo em xeque as atitudes dessas personagens e questionando a violência como estratégia de convencimento. Na estrada, no diálogo com o Medo, Indira se dá conta de que, muitas vezes, quem nos assusta também pode vir a ser assustado e aquilo que nos parece fragilidade pode ser a nossa grande fortaleza no enfrentamento das dificuldades.
As lindas ilustrações são da Meri, artista que não somente embelezou a minha história, como fez de Indira um manancial singular de como a imagem pode dialogar com a palavra, sem sobrepô-la, sem reduzi-la, sem minimizar-se. As figuras de Meri, mais do que desenhos, são letras icônicas que dão luz àquilo que a palavra insinua, e insinua aquilo que a palavra deflagra.
Não há um verbo em Indira que não seja a minha proposta de resistência e de existência. Faço literatura como quem se engaja. Não faço panfleto, evidentemente, porém quero mesmo que a vida que habita minha mente venha à tona com força e disposição. Indira, nesse sentido, é uma força que há dentro de mim. Ainda que muito velha, ainda que muito nova, não importa. Indira, como Minerva1, sou eu; em algum nível e em todos os níveis, luta pelos direitos.
De coração, de cor, espero que Indira alcance muitos leitores, muitas leitoras, crianças, adolescentes, jovens, adultos. Num mundo em que a vida humana se mostra cada vez mais frágil, considerando tantos percalços pelos quais passamos, quero, e sempre quis, que a leitura de Indira fosse para quem a faz, uma espécie de esperança, uma espécie de ponte que nos liga ao sentimento de resiliência. Indira é sim resiliente, mas é não, não mesmo, conformada.
1. FERREIRA, Hugo Monteiro. Os Anjos Estão de Volta. Rio de Janeiro, Giostri, 2015.