Edição 113

Reunião de Pais e Mestres

Liana, a menina que não queria ler

Dayana Ricardo

Todas as histórias sempre começam iguais: “Era uma vez…”.

Esta começa diferente: “Nos
tempos de hoje, bem pertinho
de você!”.

Liana era uma linda menina da sua idade, com longos cabelos cacheados e avermelhados, olhos grandes e verdes e muita alegria no olhar.

Na escola, Liana era esforçada, mas uma coisa a deixava incomodada: ela não conseguia ler.

Em casa, os pais de Liana, Felipe e Clara, estavam muito preocupados. Eles davam todo o suporte possível para que a filha tivesse um bom desempenho escolar: psicólogos, terapeutas e fonoaudiólogos, mas nada adiantava. Liana não conseguia ler.

Tia Giovana, a titular da turma, não sabia mais o que fazer, trazia textos, livros coloridos, poemas, jogos de palavrinhas soltas, mesmo assim Liana não se interessava pela leitura.

Os meses passavam, e ninguém descobria o porquê de a menina não ler nem uma palavra. Como uma menina tão curiosa, alegre e atenta não tinha vontade de ler?

Os amiguinhos da turma já estavam produzindo textos, criando histórias e lendo vários livros.

Alice, a professora de produção de texto, montou recursos e mundos mágicos para envolver Liana, mas a pequena só conseguia produções orais, produções maravilhosas cheias de fantasia e mistérios, mas nenhuma palavra escrita. Liana sempre pensava que era diferente das outras crianças.

Por que meus colegas conseguem ler e eu não?

Seu Felipe e Dona Clara resolveram fazer uma visita à escola da filha, onde só estiveram uma única vez, quando foram fazer a matrícula da menina, quando ela estava no maternal, e mesmo assim só estiveram na secretaria. Os pais não iam às reuniões e só falavam com a professora da garotinha pelo telefone; sempre que eram chamados à escola, não podiam ir, tinham compromissos ou algum evento

no trabalho.

No outro dia, após as reuniões de pais, as outras crianças comentavam e falavam tudo o que os pais tinham ouvido e como eram elogiados pelas tias Giovana e Alice, isso deixava Liana triste, pois ela nunca ouvia nada dos pais, eles nunca podiam ir às reuniões.

Os pais da menina ficaram encantados com a escola da filha, salas coloridas e cheias de estímulos para a leitura, ciências e matemática, corredores largos cheios de palavrinhas, números e muitos desenhos geométricos, jogos pintados no chão, um lugar iluminado e muito limpo, cada sala organizada de formas diferentes, círculos, fileiras e formato da letra U, mas uma sala chamou mais a atenção, era branca com capas de livros infantis ampliadas e muitas palavrinhas retiradas de cada um, era uma sala dos sonhos para aqueles que amam leitura.

Ao chegarem à sala da diretora, foram logo ao assunto principal que os levara até ali.

— Bom-dia, Dona Rosa. Viemos aqui hoje porque estamos preocupados com a nossa filha, a menina não lê nada, já fizemos de tudo, mas Liana não se interessa pela leitura. Esta escola é muito cara; é um absurdo que minha filha ainda não esteja lendo.

Dona Rosa logo pediu que chamassem a professora Giovana para saber qual era o problema.

— Bom-dia, Dona Rosa. Senhor Felipe e Dona Clara, é um prazer finalmente conhecer vocês!

Os pais ficaram um pouco sem graça, pois não participavam da vida escolar da pobre menina.

Dona Rosa explicou o problema para a professora, e Tia Giovana contou para os pais sobre todos os recursos que vinham usando para estimular a menina e que, até o momento, não haviam dado resultado.

Ninguém sabia mais o que fazer, e o acordo final seria que, se Liana não conseguisse ler, seria transferida para uma escola de alunos especiais.

Em meio a lágrimas, os pais se despediram e foram para casa, mas tia Giovana não estava disposta a perder sua aluna, pois os professores amam seus alunos como se fossem seus filhos, e pais jamais desistem de seus filhos amados.

Giovana teve uma ideia e, ao chegar à sala, foi logo falando para todos.

— Queridos, hoje tivemos uma visita muito especial em nossa escola (os alunos ficaram apreensivos e em silêncio absoluto, todos com olhinhos curiosos para saber da novidade). Liana, seus pais acabaram de sair, vieram saber como você está se desenvolvendo.

Ao contrário da maioria das crianças, que ficariam preocupadas e temerosas, Liana abriu um sorriso enorme, e seus olhinhos brilharam intensamente.

— É sério, tia? Meus pais trabalham muito sabe, eles não têm tempo de vir à escola.

— Claro que é sério, e vieram os dois, Clara e Felipe, não são esses os nomes deles?

— Sim, tia. Estou tão feliz, eles nunca vieram!

Naquele mesmo dia, tia Giovana percebeu um comportamento diferente em Liana, aos poucos ela se aproximou de uma enorme estante de livros e até tocou em alguns, coisa que ela jamais havia feito.

Ao fim das aulas, Liana estava ansiosa para chegar em casa e falar com os pais sobre a visita à escola. Assim que entrou, foi logo procurar pelos pais.

— Pai, mãe, vocês foram à minha escola? O que a tia Giovana disse de mim?

A animação da menina era tanta que os pais resolveram sentar e conversar com a filha.

— Sua professora é muito educada e falou muito de você e de como você é inteligente e esforçada, disse que você está indo muito bem.

O coração dos pais de Liana estava apertadinho, pois não tinha sido bem assim a reunião com a professora, Liana não aprendia a ler, e ninguém sabia qual era o problema.

— Temos certeza de que logo você estará lendo todas as histórias que quiser!

Liana, naquela noite, teve um sonho diferente de todos aqueles que tivera. Em seu sonho, Liana lia um lindo texto de agradecimento em sua formatura.

A menina levantou mais cedo naquela manhã, ansiosa para chegar à escola, ver seus amigos e contar tudo o que os pais ouviram na reunião com a professora. Os amiguinhos ouviam tudo com atenção, afinal durante todos aqueles anos Liana era a única que nunca contava nada. Ao terminar, os coleguinhas sorriram, aplaudiram e deram abraços em Liana, que estava especialmente feliz naquele dia. Vendo toda aquela comoção, tia Giovana teve uma ideia.

— Liana querida, hoje teremos uma atividade de casa diferente, todos levarão um livro para ler com os pais, vocês vão ler juntos, podem escolher o livro que quiserem.

Um a um os alunos foram levantando e escolhendo seus livros favoritos, Liana foi a última a se levantar e, um pouco apreensiva, pegou um livro fino, de capa frágil e um pouco surrado.

Mais um dia de aula havia terminado, e Liana seguiu para casa pensativa. Será que conseguiria ler? Seus pais teriam tempo de ler com ela? O que diria na próxima aula? Como iria fazer?

Ao chegar em casa, Liana comeu, tomou banho, escovou os dentes e esperou pelos pais, que logo chegaram do trabalho, com o rosto cansado e cheios de fome. Naquele dia, Liana não mostrou o livro aos pais. Foi uma noite difícil, a menina teve pesadelos em que não conseguia ler em sua formatura e todos riam
e zombavam dela.

Na escola, Liana ficou a maior parte da aula calada e com um olhar distante e não quis contar nada sobre o livro que havia levado para casa.

Tia Giovana resolveu ligar para os pais da garotinha para saber o que havia acontecido e ficou surpresa ao descobrir que a menina não havia mencionado nada sobre a tarefa de casa.

Quando Liana chegou em casa depois da aula, os pais esperavam por ela.

— Filha, você tem algo para
nos contar?

A menina ficou surpresa, pois não esperava essa reação dos pais, afinal eles estavam sempre tão ocupados.

— Eu fiz alguma coisa?

— Você trouxe um livro como dever de casa e não falou nada sobre essa tarefa.

— Ah, mãe! Você estava tão cansada que eu não quis dar mais trabalho para vocês!

A mãe de Liana abraçou a filha e deu vários beijos na pequena.

— Você é uma filha maravilhosa, e não é trabalho nenhum passar um tempo com você!

Antes de dormir, os pais de Liana foram ao quarto da filha e leram juntos o livro escolhido pela menina, e tal foi a surpresa quando a garotinha leu várias palavrinhas. Foi um momento de muita emoção e alegria.

Durante a semana, as páginas dos livros foram aumentando,
e os livros ficando mais grossos, e as palavras se transformaram em frases, e logo em parágrafos inteiros. Liana estava lendo.

Na escola, a alegria era geral, Liana agora estava lendo e escrevendo suas próprias histórias.

A diretora, Dona Rosa, chamou tia Giovana para uma breve conversa com os pais de Liana, que agora iam às reuniões e estavam sempre nas festas da escola.

— Tia Giovana, não sabemos como agradecer por tudo que vocês fizeram por nossa filha! — disse o pai emocionado.

— Seu Felipe, às vezes os filhos têm medo de progredir e perder a atenção dos pais, Liana não queria ler, pois era o único momento que vocês estavam com ela. Ela tinha medo de ler e ser deixada de lado. Agora ela percebeu que a leitura aproximou ainda mais vocês.

— Isso é verdade, agora somos exemplo para nossa filha. Compramos vários livros, e, em nossa casa, tem o momento da leitura. Cada um lê seu livro preferido, mas sempre estamos juntos, depois lemos um livro em grupo.

— Se os pais leem, acabam estimulando os filhos a lerem também — disse a diretora.

Finalmente, chegou o fim do ano, e adivinhem só quem foi a oradora da turma?

Às vezes, os filhos só precisam se sentir seguros para se desenvolver e ser felizes. Tire um tempinho para ler com seu filho, vai valer a pena!

Meu nome é Dayana de Fátima Ricardo Leonardo. Despertei para a leitura tardiamente, aos 18 anos, desde então nunca mais consegui ficar longe dos livros. Adoro histórias fantásticas; reis, rainhas e seres mágicos me encantam. Sempre amei a fantasia, seres encantados e com poderes especiais. Sou professora das séries iniciais do Centro Educacional Santa Rita de Cássia, onde tive maior contato com a literatura infantil e me apaixonei pelo gosto literário dos pequenos.

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