Edição 111
Livro da vez
Menor que 32, maior que o infinito
Em minha prática pedagógica, estou sempre tentando contribuir com a formação humana, além da curricular. Tenho olhado para as crianças de hoje em dia e percebido o quanto estão sendo formadas egocentricamente. Elas não se colocam mais no lugar do outro; a palavra de ordem, inconscientemente, é a prevalência ante os mais diversos fatores: cada um que queira se mostrar superior ao outro. Assim, rótulos surgem, e conflitos versus problemas emocionais se perpetuam.
Uma situação sem muitos registros na literatura médica do mundo chegou a Pernambuco: o vírus zica se mostrou potencial para o nascimento de crianças com microcefalia. Em 2016, enquanto assistia a uma matéria jornalística, observei a dificuldade de um grupo de mães em inserir seus filhos na sociedade por terem tal diagnóstico. Inquietei-me bastante, pois percebi que o fato nos trazia uma mensagem: muita coisa precisava mudar. Estávamos engatinhando: mães, pais, poder público e sociedade sem saber como agir. Mas as crianças estavam ali, sendo vítimas, numa certa perspectiva, de todos nós. Pensei mais adiante: “Como seria o futuro dessas crianças?”. Sabe-se que o primeiro grupo social de uma criança, depois da família, é a escola. Essa instância me permitia um posicionamento. Imaginei o quanto nós, da educação e familiares, poderíamos ser úteis na preparação de seres empáticos, capazes de receber bem esses seres especiais, sem rótulos, sem distinções, já que diversas outras dificuldades eles já enfrentariam. Serem incluídos e tratados afetuosa e respeitosamente eram direitos deles.
Foi aí que o Menor que 32, maior que o infinito foi sendo tecido como uma ferramenta para esse meu pensamento. Uma história classificada como infantojuvenil, mas que nos dá espaço para reflexões e ações para todas as idades. Foi escrita com o objetivo de tocar vidas, de ser ferramenta de diálogo familiar e institucional, pois penso que não podemos mudar esse ou outros diagnósticos, mas podemos e temos a obrigação de olhar para nós e avaliar o que podemos fazer para tornar este mundo diferente, seja qual for a esfera que ocupemos.
A obra convida você — pai, mãe, educador, representante público, cidadão — a lê-la com os olhos da esperança. Mas, segundo o admirável Mario Sergio Cortella, não a esperança do verbo esperar, aquela em que aguardamos do outro uma tomada de decisão, pois isso não é esperança, é espera. De acordo com ele, “Esperançar é levar adiante, é juntar-se com os outros para fazer de outro modo”.
Desejo que a essência dessa inquietude para fazer diferente nos contagie. Que nós, adultos, sejamos referência prática no sentido do despertar para a empatia, para o respeito e para a solidariedade. Mas, além disso, que saibamos escolher e cobrar dos nossos representantes governamentais um olhar e uma prática diferenciada e que, para complementar as duas atitudes anteriores, ensinemos às nossas crianças a construírem um mundo mais justo. Sabemos que essa mudança não será fácil, pois o humano está contaminado com a desumanidade, mas a educação é a chave para novos horizontes. Se acreditarmos nisso, concordaremos com Aristóteles que: “A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces”.
Conto com você, caro leitor! Use e abuse dessa obra como ferramenta para essa conscientização e mudança de prática. A nossa, a dos nossos filhos, netos e outras futuras gerações agradecem.
Deyse França
dfmf79@hotmail.com