Edição 25

Matérias Especiais

“Marie Curie: A Célebre Cientista do Século XX “

Os estudos na área de Física sempre causaram impactos na comunidade científica, a importância de conhecermos a História dessa ciência é de vital para compreensão dos encontros e desencontros dessa área do conhecimento.
Sabemos que a história é cheia de interpretações, para se descobrir é necessário ir nas fontes históricas.
Fizemos o artigo com esse intuito, colocar em cena as contribuições da Física, sua potencialidade
para explicar fenômenos e movimentos que ocorreram e ocorrem no universo tão complexo.

I – Introdução
O desenvolvimento deste artigo teve como ponto de partida a curiosidade e o interesse de conhecer, de forma mais aprofundada, a vida e o trabalho desenvolvido por uma grande cientista do século XX, Marie Curie (1867-1934), que é um marco referencial na história da Ciência.
Dentre alguns temas abordados na disciplina Tópicos de História da Física, ministrada no curso de Mestrado em Ensino das Ciências, na Universidade Federal Rural de Pernambuco, pelo professor Doutor Ernande Barbosa da Costa, a Descoberta da Radioatividade nos despertou um grande fascínio, levando-nos a investigar até que ponto as descobertas da Madame Curie foram relevantes para o desenvolvimento da Ciência Moderna.
Por sua vez, privilegiamos as descobertas dos elementos Polônio e Rádio, em virtude destes terem causado grande impacto na comunidade científica daquela época, assim como na sociedade.
Assim, abordaremos quatro fases dessa ilustre cientista: sua vida na Polônia, seus estudos na Sorbonne, a descoberta dos elementos Polônio e Rádio e as contribuições desses mais novos elementos para os avanços da medicina e para a cura dos feridos na 1ª Guerra Mundial.
Este artigo está fundamentado em algumas literaturas que vêem na Madame Curie um referencial de uma grande mulher e cientista que contribuiu para mostrar que a Ciência é de grande valia para o desenvolvimento social e humano. Por fim, o nosso maior objetivo será mostrar a importância dessa personalidade no universo científico.

II – A vida na Polônia
Nasce em Varsóvia, Polônia, no dia 7 de Novembro de 1867, Marya Sklodowski, chamavam-na de “Mania”. Seu pai um ilustre professor de Física e Matemática na Escola Secundária em Varsóvia, sua mãe, além dos dotes artísticos de tocar piano e cantar, foi diretora de um pensionato para meninas.
A Polônia vivia sob o domínio da Rússia e a opressão aos poloneses era marcante. As aulas eram ministradas na língua do inimigo, o russo. O pai teve o salário reduzido e se viram obrigados a tomar pensionistas, eram jovens que tinham de educar, disciplinar e cuidar, além de oferecer-lhe comida e casa.
Aos nove anos a pequena Marya perde a sua irmã mais velha de tifo e dois anos depois a sua mãe morreu vítima da tuberculose.
Foi durante os anos do ginásio em que Marya se revelou a melhor aluna, concluindo assim os seus estudos com dezesseis anos e recebendo uma medalha de ouro por seu desempenho.
Voltando à Varsóvia após um longo período de férias no campo, mostra-se preocupada com a situação política de sua terra natal. Passou a fazer parte de um grupo de positivistas, pessoas que se encontravam na clandestinidade para refletir sobre as questões que oprimiam aquele povo.
Aos dezoito anos, para ajudar a sua irmã que foi cursar medicina em Paris, foi ser preceptora no campo, enviando parte do dinheiro recebido para a sua irmã Bronia.
Mas, o sonho de Marya era aprender em vez de ensinar. A França a encantava, pelo seu prestígio e pelo respeito por todos os sentimentos e crenças.
A sua ida a Paris parecia não poder se tornar real, pois ainda tinha que ajudar Bronia e o seu pai, agora aposentado, não podia mais ajudá-la.
Após três anos de muito trabalho no campo, o seu pai aceita um ingrato trabalho para continuar a ajudar a filha em Paris. Após alguns anos de paciência e de momentos de desesperança, Marya segue para Paris, indo morar com a irmã e o cunhado.

III – Os estudos de Física e Matemática na faculdade de Ciências
Em 1891, Marya ingressa na Faculdade de Ciências da Universidade de Sorbonne, e na sua ficha de inscrição passa a ser chamada de Marie Sklodowska.
Em 1893, Marie deixa a casa da irmã para morar em um quarto próximo a universidade, com grande dificuldade financeira. Ela estudava no laboratório de Química, se alimentava mal e não pensava em outra coisa senão os conhecimentos científicos. Trabalhando sempre com substâncias químicas e cálculos.
Aos 26 anos, em 1893, obteve o primeiro lugar em ciências físicas e no ano seguinte obteve o segundo lugar no exame de Matemática.
Nas férias, Marie corria para a Polônia. Certa vez pensara em desistir dos estudos por não ter mais condições de sustentar-se na terra distante. Eis que sua grande amiga, Mlle. Dydynska, consegue que seja concedida a Marie uma bolsa de seiscentos rublos, o que lhe garantia mais quinze meses na França. “Estava orgulhosa de sua pobreza. Orgulhosa de viver só e independente numa cidade estrangeira” (EVA CURIE, 1976, p.96).
De volta a Paris, conhece Pierre Curie, um bacharel e licenciado em ciências, que descobriu a “piezoeletricidade” e a “lei Curie” entre outras e que foi admirado por Lord Kelvin. Marie veio a casar-se com Pierre em 1895 e tiveram duas filhas – Eva e Irene.
Com Pierre, Marie compartilhou todas as dificuldades e encontrou nele um grande parceiro nas suas pesquisas. A vida do casal concentrava-se no mesmo ideal: investigar em comum.

IV – Os estudos da época
O final do século XIX foi de grandes conquistas no ramo da Física. Em novembro de 1895, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923) investigando alguns dos efeitos dos raios catódicos descobriu o que viria a ser denominado de raios X. Essa descoberta gerou grande interesse em vários pesquisadores da época, tanto pelo seu valor científico quanto pela importância para o diagnóstico médico. Logo, muitas pesquisas e trabalhos surgiram sobre o tema. Estava, assim, iniciando uma nova era na Física, sendo uma grande alavanca para o desenvolvimento da Física moderna.
O físico francês Henri Becquerel (1852-1908) muito interessado pela descoberta de Roentgen começou a estudar a relação entre a fluorescência e os raios X. Ele iniciou os estudos com o urânio e, segundo a literatura, de forma acidental, em 1896, observou que os sais de urânio emitiam espontaneamente, independente da ação preliminar da luz, raios de natureza desconhecida. Apesar das evidências postas a Becquerel, através do prosseguimento de suas pesquisas, ele ainda acreditava que a radiação invisível emitida pelos compostos de urânio e pelo urânio metálico era um fenômeno de fosforescência. Assim, muitos estudiosos afirmam que Becquerel deixou escapar o que viria ser chamado de radioatividade.
Em maio de 1896, Becquerel abandona a pesquisa sobre o assunto e desse período até o início de 1898 esse campo da Física fica estagnado. Praticamente nenhuma pesquisa foi desenvolvida sobre o tema durante essa época.

V – A grande descoberta
Na França, Marie Curie já tinha, em 1897, obtido diplomas em Física e Matemática. Estava agora em busca de um tema para a sua tese de doutorado. Esperava trabalhar em algo inovador. Dessa forma, interessou-se pelos raios Becquerel e pensou ser esse um bom assunto para desenvolver a sua tese, pois a explicação para esses raios ainda estava na obscuridade e ninguém havia aprofundado o estudo sobre o tema.
Marie recebendo o apoio de Pierre teria grandes dificuldades para conduzir a pesquisa. O lugar que conseguiram para desenvolver o trabalho oferecia péssimas condições, um atelier, na Escola de Física, que servia de depósito. Possuía um aparelho técnico rudimentar e devido à umidade e as mudanças de temperatura era difícil de se trabalhar com os instrumentos de precisão.
Após alguns resultados positivos de sua pesquisa, tendo a certeza de que a radiação é uma propriedade atômica, Marie decide examinar todos os corpos químicos conhecidos.
Em 1898, Marie Curie, na França, e G. C. Schmidt, na Alemanha, tentando encontrar elementos diferentes do urânio que emitissem as radiações observadas por Becquerel, observaram que o Tório emitia essa tal radiação. A partir desse momento Marie concluiu que estava diante de um fenômeno que não era exclusivo do urânio.
Pesquisando nos minérios da Escola de Física, Marie observou o inesperado: a intensidade da radiação da pecheblenda, minério de urânio, era muito mais forte do que a do próprio urânio e do tório. Uma questão intrigava Marie: de onde provinha àquela radioatividade excessiva? Ela, então, após repetir diversas vezes sua medições lança a audaz hipótese de que deveria existir um novo corpo, pois todos os elementos químicos conhecidos pela ciência já tinham sido examinados.

Assim, Marie parte na busca de isolar essa tal substância mais poderosa do que o urânio e encontra em Pierre um grande colaborador nessa difícil missão.
É iniciada a separação de todos os corpos contidos na pecheblenda e o casal verifica que a radioatividade concentrava-se em duas frações químicas do urânio, logo deveriam existir dois novos elementos.
Em julho de 1898, anunciavam um deles: “Cremos que a substância retirada da pecheblenda contém um metal ainda não assinalado, vizinho ao bismuto pelas suas proprieddaes analíticas… Se a existência desse novo metal vier a confirmar-se, propomos que se chame Polônio, nome do país de um de nós” (M. CURIE, 1898, apud, E. CURIE, p. 132, 1976).
Após a continuidade da pesquisa, Marie e Pierre anunciam em dezembro do mesmo ano a existência do segundo elemento radioativo e o denomina de Rádio, por ser bem mais ativo do que os outros elementos já conhecidos.
As descobertas dos Curie vinham quebrar algumas concepções aceitas há séculos na Física, pois contradizia as idéias sobre a composição da matéria.
A comunidade científica da época aceitava que as descobertas poderiam trazer grandes conseqüências, mas os químicos ainda mantinham uma postura cética; era preciso ver o rádio.
Então, o próximo objetivo dos Curie era obter o rádio e o polônio em estado de pureza. Viriam quatro anos de árduo trabalho. Alguns problemas iniciais surgiriam: Como obter a quantidade de pecheblenda necessária? Onde trabalhar o material? Com que dinheiro iriam custear as despesas?

Conseguiram vencer esses obstáculos com muito sacrifício. Instalaram-se em um hangar abandonado que antes servira como sala de dissecação, na Escola de Física; conseguiram do governo austríaco, local onde havia as minas de onde se extraíam os sais de urânio, os resíduos da pecheblenda e iniciaram o duro trabalho que viriam a desenvolver.
Em 1899, ocuparam-se da separação química do rádio e do polônio e estudaram a radiação dos produtos obtidos. Pierre ficou com o papel de investigar as propriedades do novo elemento e Marie com o trabalho braçal, procurando obter sais puros.

Nesse ano e em 1900 eles publicaram algumas memórias científicas, como: a “radiatividade induzida” provocada pelo rádio, os efeitos da radioatividade e a carga elétrica transportada pela radiação.
Foi em 1902 que, enfim, Marie conseguiu obter um decigrama de rádio puro e determinar o seu peso atômico (225). Agora sim, não haveria mais dúvidas e o rádio passava a existir oficialmente.
Até 1904, os Curie já haviam publicado mais de trinta memórias científicas. A radioatividade passa a dominar o mundo e a descoberta do rádio balança o mundo físico. Logo, muitos pesquisadores iniciam pesquisas sobre outros possíveis elementos radiativos e sobre os efeitos dessa radiação.

Marie e Pierre descobrem que o rádio pode causar queimaduras perigosas e às vezes fatais, que era muito eficaz na cura de certas doenças, pois destruía as células infeccionadas e detinha o desenvolvimento dos tumores malignos, inclusive de certas formas do cancro.

Em 1902, a Academia de Ciências entregou vinte mil francos para que os Curie trabalhassem para a extração da matéria radioativa. A Universidade de Paris outorgou a Marie o título de Doutor em Ciências Físicas.
Em 1903, Pierre e Marie Curie recebem o Prêmio Nobel de Física com Becquerel pelas grandes descobertas no campo da radioatividade.
Agora, então, a comunidade científica e a sociedade reconheciam a grandiosidade das descobertas e a genialidade de Marie.

Pierre morre, em 1906. Ao cruzar uma rua foi atropelado por cavalos e teve a sua cabeça esmagada. Esse foi um momento de grande sofrimento para Marie, pois perdia o homem com quem dividira grande parte dos momentos de dor e de glória.

Após a morte do marido, Marie passa a ser a primeira mulher a ocupar uma cadeira de professor na Sorbonne, no lugar de Pierre. E, em 1911, passa a ser a única cientista a ganhar dois prêmios Nobel em áreas diferentes, pois desta vez é premiada pelos seus trabalhos sobre as propriedades do rádio e as características dos seus compostos, em Química.

VI – A guerra
Em 1914, Madame Curie envia as filhas para uma casa de campo, na Betanha. Momento de guerras está por vir, e toda a França está em estado de alerta.
Todos sabem que a descoberta desses raios veio permitir a visualização do interior do corpo humano, mas neste período não havia muitos aparelhos de radiografia para ver por transparência a bala de carabina ou o estilhaço da granada presente no corpo humano.

A Física nunca havia trabalhado com os raios X, mas dera na Sorbonne algumas lições sobre a matéria, conhecendo muito bem o assunto.
A partir de então, Marie foi volante de um laboratório ambulância (viaturas radiológicas) e criou, em torno, de duzentos e vinte postos, recebendo cerca de um milhão de feridos. Madame Curie viveu este momento como qualquer soldado de guerra. Mesmo após o período de guerra, muitos centros de radiografia forma mantidos na França.

Restabelecida a paz, Marie retorna as suas pesquisas iniciando as viagens ao estrangeiro.

Em 1921, através da campanha feita por uma jornalista americana, Marie recebeu das mãos do presidente americano uma grama de rádio, doado pela Sociedade das Mulheres Americanas. E, em 1926, visita o Brasil.
Marie passou a sua vida a trabalhar intensamente no seu laboratório em prol da humanidade.

VII – O fim da missão
Aos 67 anos, no dia 04 de Julho de 1034, morre Madame Curie com uma febre desconhecida e dores no corpo, suspeitas da sua manipulação com os tais elementos radioativos descobertos.
A sua contribuição ao universo científico foi de grande valia. Com um espírito curioso e ético essa cientista descobriu um possível tratamento para o câncer. Um progresso científico onde a humanidade foi beneficiada por estar em mãos de pessoas humanas. O Pierre Curie já dizia que essas descobertas em mãos de pessoas más poderiam trazer grandes males a humanidade.

VIII – Conclusão
Na leitura que fizemos até aqui e nas impressões que recolhemos ao longo da trajetória da análise do tema que nos propomos a investigar, buscando sobre tudo, encontrar as informações precisas, encontramos também algumas contradições nos textos pesquisados, considerando este aspecto comum e próprio para uma biografia que marcou e continua a marcar o grande momento histórico da Física do século vinte. Observamos que os estudos dessa ciência contribuiu para o avanço em campos distintos, como por exemplo na Medicina.
Tal constatação nos remete, a algumas conclusões sobre a importância dos cientistas Marie e Pierre para o desenvolvimento da ciência moderna.
Por fim, devido a relevância das descobertas realizadas por Marie Curie em 34 anos dedicados ao campo da radioatividade, esta ilustre cientista foi homenageada por grandes universidades e agremiações científicas do mundo. Enfim, Marie é um marco na história da ciência; um exemplo de determinação, simplicidade, genialidade e sabedoria. Uma mulher que contribuiu muito para o
progresso da ciência, a partir da sua busca incessante pelo conhecimento científico.

Referências Bibligráficas
CURIE. In: ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. São Paulo: Enciclopédia Britânica do Brasil,. v. 7, p. 3122-3123, 1994.
CURIE, E. Madame Curie. 12 ed. São Paulo: Companhia editora nacional, 1976. 319 p.
FONSECA, M. R. M. Completamente química: físico-química. São Paulo: FTD. 2001.
UNTERMEYER, L. Os forjadores do mundo moderno. São Paulo: Fulgor, v. 4, p. 799 – 810, 1964.
Autoras:
Geni Barbosa Bezerra: Departamento de Educação – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – e-mail: genibb@bol.com.br
Gizella Menezes Rodrigues: Departamento de Educação – Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – e-mail: gizellamenezes@bol.com.br

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