Edição 125

Como mãe, como educadora, como cidadã

O medo, a gente enfrenta

Zeneide Silva

“Os medos podem ser considerados janelas que se abrem nos períodos
inevitáveis de ajustamento pelos quais todas as crianças precisam passar.”
T. Berry Brazelton

De todas as memórias afetivas da minha infância, gosto muito de uma em que enfrentei o medo e ouvi de minha mãe, Zélia: “O medo, a gente enfrenta”. Ela até hoje me serve de exemplo.

medo-a-gente-enfrentaEra um domingo à tarde, e fomos em família (papai, mamãe, Ronaldo, Eliane, Rinaldo e Rejane) para a Rua da Aurora, no Recife, pois papai tinha dito que havia um parque de rua com um tobogã. Meus irmãos e eu não sabíamos do que se tratava, e mamãe nos informou que era um escorrego bem grande. Estávamos ansiosos.

Ao chegarmos, nossos olhares foram para o tobogã, e dizíamos um para o outro que, realmente, era muito grande. Estávamos encantados. Papai foi logo avisando que só meus dois irmãos mais velhos poderiam ir; fiquei triste, pois desejava muito descer daquela altura. Papai providenciou os ingressos, e meus irmãos pegaram a estopa e subiram. Estava triste, mas ansiosa para ver meus irmãos descendo; gostaria de saber qual era a sensação.

Estávamos esperando, e eles não desciam; mamãe olhava, e nada deles. Quando olhamos, os dois estavam descendo pela escada e correndo para mamãe dizendo que tiveram medo. Mamãe os abraçou e tentou convencê-los a subir dizendo que, o medo, a gente enfrenta. Papai reclamava do valor perdido do ingresso, e mamãe acalmava os dois, até que chegou o momento em que ela perguntou a mim e ao meu irmão Nado: “Querem subir?”. Fui logo dizendo que sim com um imenso sorriso; meu irmão ainda estava sem saber o que fazer, mas resolveu subir.

Puxei Nado pelas mãos, e fomos. O tobogã era, realmente, muito alto, mas fui enfrentando o medo e pensando nas palavras de mamãe: “O medo, a gente enfrenta”.

Enfrentei o medo, venci e desci. Hoje ainda me lembro com grande alegria das palavras de minha mamãe quando tenho que enfrentar situações difíceis.

Como mãe, passei por uma situação com minha filha Maria Clara.

O Colégio estava preparando uma Cantata de Natal para ser apresentada no Centro de Convenções do Recife. A quantidade de pessoas seria grande, já que seriam convidadas todas as famílias.

A turma de Maria iria apresentar um número com a canção Vem chegando o Natal, de Aline Barros.

Vai começar
um brilho no ar.
Que festa tão linda,
você vai gostar…

No primeiro momento, Maria Clara iria participar junto com seus colegas cantando. A solista adoeceu e não poderia mais participar. A professora, em um dos ensaios, ouviu a voz de Maria e a convidou para ser a solista. Inicialmente, ela aceitou. O dia estava se aproximando, e o medo apareceu. Maria não quis mais participar. Nesse momento, lembrei da história do tobogã; depois, perguntei se ela não queria mais participar da Cantata ou estava com medo. Ela falou que estava com medo. Então sussurrei no ouvido dela: “Maria, o medo, a gente enfrenta”; ela sorriu, e nos abraçamos.

No dia da apresentação, Maria estava linda e cantou maravilhosamente.

Meu coração, silenciosamente, dizia: “Maria enfrentou o medo”.

Espero que este texto abra janelas para que vocês consigam compreender quando seus alunos dizem que estão com medo e que possam dar oportunidade para que eles sejam capazes de superá-lo.

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