Edição 57

Mensagem Profética

O segredo do amor

Elizete Malafaia

Sem dúvida, se perguntássemos às pessoas qual é o segredo da felicidade, dos bons relacionamentos e da satisfação pessoal, a maioria diria que é o amor, pois, sem amor, a vida é triste, sem cor, solitária, carece de um sentido maior.

Muito se fala hoje sobre amor. Vemos inúmeros filmes, novelas, livros que abordam direta ou indiretamente esse tema tão explorado pela religião e pelas artes. Contudo, nunca se banalizou tanto o amor e nunca se amou tão pouco.

Por que tantos divórcios se os pais não escolhem mais com quem os filhos se casarão (como no passado), se as pessoas casam com quem desejam? Por que pais matam filhos e filhos matam pais com tanta frequência? Por que se mata um semelhante em uma discussão de trânsito? Por que o amor tem esfriado dessa forma ou produzido relacionamentos neuróticos que culminam em tragédia?

Essas e inúmeras perguntas vêm à nossa mente enquanto assistimos aos noticiários ou somos informados de que algo semelhante aconteceu com alguém próximo a nós. Será que essas pessoas realmente amaram algum dia? O amor pode morrer ou degenerar-se desse jeito? Que tipos de amor existem?

Definir um amor não é fácil. Muitos já tentaram. Há várias concepções filosóficas sobre o amor. E, mesmo que não conheçamos cada uma dessas teorias, elas estão implícitas nos O segredo do amor Elizete Malafaia contos de fadas que nossos filhos leem, nos desenhos e filmes a que assistem, nos livros que lemos, nas telenovelas que algum dia já vimos. Percebamos ou não, de alguma forma essas concepções estão em nossa mente e, em parte, explicam o que pensamos sobre o amor e o que esperamos dele.

Por que afirmamos isso? Porque toda pessoa é um ser humano do seu tempo, influencia o meio em que vive e é por ele influenciado em maior ou menor grau. Isso é facilmente percebido na linguagem, no vestuário, nos hábitos e nos costumes dos povos ao longo dos anos. Não falamos, não vestimos, não nos comportamos como alguém do século XVIII. Tampouco pensamos como ele. Vivemos no século XXI e nos comportamos como tal.

O desenvolvimento das ciências, seus experimentos e suas descobertas trouxeram uma nova luz à maneira como enxergamos o mundo e a nós mesmos como indivíduos e como pessoas que vivem coletivamente no mundo. Entendemos, por exemplo, que existe em nós — que é só nosso, subjetivo — a nossa personalidade, com seus dons e talentos, disposições inatas; que essa personalidade recebe influência dos relacionamentos e dos valores familiares, da sociedade, da cultura, da religião, da mídia.

Com esse vislumbre da nossa situação e da influência que o mundo exerce sobre nós, podemos investigar que conceitos e valores têm pautado a nossa vida e os nossos relacionamentos.

Será que o amor que temos nutrido é aquele que provém do coração de Deus para o nosso ou é algum tipo de amor que o homem, em cada época, com base no seu próprio entendimento, concebeu como bom, viável, verdadeiro, em sua tentativa de preencher o vazio que sente desde a Queda e o seu distanciamento do Criador?

Essa é uma avaliação difícil, e não temos como apresentar aqui uma síntese de cada concepção de amor, confrontando suas distorções e fragilidades. Esse não é nosso objetivo com esta obra. Podemos apenas sinalizar que essas concepções existem e estão presentes em nossa cultura, oferecendo o olhar, o entendimento que os escritores bíblicos, inspirados por Deus, tinham sobre o amor, o que este representa na vida do homem, assinalando que a perversão dos propósitos divinos pelo pecado introduziu a operação de erro na mente humana, distorcendo suas capacidades cognitiva, afetiva e volitiva.

Comecemos, pois, pelos tipos de amor presentes na Bíblia.

Alguns tipos de amor

Na Bíblia — tanto pela relação do homem consigo mesmo, com seus semelhantes, com Deus, com sua pátria como pelas palavras empregadas para designar o amor —, podemos conceber alguns tipos de amor: o conjugal (entre marido e mulher), o paterno (dos pais pelos filhos), o filial (dos filhos pelos pais), o fraterno (entre irmãos ou amigos), o nacional (pela pátria), o divino (o de Deus pelo homem), o espiritual (gerado por Deus no homem, capacitando-o a amar a Ele, a si mesmo e a seu próximo com o amor divino). O termo hebraico usado no Antigo Testamento para designar a ação de amar é ahabah, que vem de ahab e denota tanto o amor humano por outro ser humano (o amor conjugal, o fraternal, o filial, o paterno) como o amor de Deus pelo homem (o amor divino).

No entanto, no Novo Testamento, escrito em grego, há uma palavra específica para designar cada tipo de amor. Assim, storg designa afeição dos pais pelos filhos e dos filhos pelos pais; eros, o amor conjugal, erótico; filio, o amor entre amigos e entre irmãos; ágape, o amor divino.

Expressões do amor de Deus

Todos os três primeiros tipos de amor podem ser compreendidos teologicamente como uma espécie de variação, em menor grau, do amor divino, bem como expressões desse amor que o nosso Criador usou para comunicar-nos tanto os graus de nossa grande necessidade d’Ele como alguns aspectos do amor infinito que Ele tem por nós e que deseja compartilhar conosco por meio dos relacionamentos. Estes podem atrair nossa atenção e servir de ponte para um relacionamento mais estreito com Ele (seja por constatarmos o cuidado com que Deus nos cercou de afeto uns pelos outros, seja pela verificação de que os relacionamentos humanos não dão conta de tudo aquilo de que precisamos em termos de amor).

Assim, por meio dos nossos relacionamentos humanos, podemos compreender que Deus é o nosso Pai, aquele que cuida, provê as necessidades naturais, emocionais, espirituais e físicas, ensina, orienta e defende; e nós somos seus filhos (Sl 103:13; Jr 31:9; Hb 12:6). Podemos entender que Ele quer caminhar conosco diariamente e tornar-se nosso melhor amigo, como foi de Abraão (Tg 2:23), e que um dia nos uniremos a Ele como uma noiva ao seu noivo (Is 62:5; Ef 5:25–32; Ap 21:2).

O amor, um dom e um sobremodo excelente

Contudo, nossa compreensão é limitada e deve ser ampliada dia após dia, “até ser um dia perfeito, e conheceremos Deus face a face”. Não é isso que nos sugere o apóstolo Paulo quando fala do amor como um dom que precisa ser usado e aperfeiçoado em nós à medida que crescemos e amadurecemos na vida cristã?

Depois de afirmar que o amor é o dom mais excelente (1 Co 12:31) e de definir as características do amor divino que precisamos desenvolver, Paulo diz:

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino. Porque, agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido. (1 Co 13:11–12)

Note que, para Paulo, o amor é um dom que nos permite viver bem, felizes, ligados intimamente a Deus e representando-o para os homens, mas também um caminho sobremodo excelente (1 Co 12:31), ou seja, um meio de crescimento sobre Deus, pondo-nos cara a cara com Ele. Então, ao conhecermos mais o Senhor, também nos conhecemos como somos conhecidos por Ele: de forma mais plena e verdadeira. É uma via de mão dupla. O amor é também um gomo do fruto do Espírito (Gl 5:22); algo doce, que alimenta e sustenta, produzido pelo Espírito de Deus em nosso espírito. O amor está intimamente associado a outras virtudes, como a alegria, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio. Essas virtudes se desenvolvem juntas, e uma dá suporte à outra.

O amor verdadeiro

Quais são as características do amor divino, o amor verdadeiro, que se precisa desenvolver? A resposta está em 1 Coríntios 13:4–8:

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus próprios interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba.

Em outra versão bíblica:

Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento nem orgulhoso nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo.

Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor é eterno.

Com base nesse texto que acabamos de ver, é esse o tipo de amor que temos visto no mundo? Definitivamente não! O amor não faz mal ao próximo, de sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13:10). O que temos visto assemelha-se mais ao que Paulo disse sobre os últimos dias da Igreja na Terra:

Nos últimos dias, haverá tempos difíceis. Pois muitos serão egoístas, avarentos, vaidosos, xingadores, ingratos, desobedientes aos pais e não terão respeito pela religião. Não terão amor pelos outros e serão duros, caluniadores, incapazes de se controlarem, violentos e inimigos do bem. Serão traidores, atrevidos e cheios de orgulho. Amarão mais aos prazeres do que a Deus; parecerão ser seguidores da nossa religião, mas com as suas ações negarão o verdadeiro poder dela… (2 Timóteo 3:1–4)

E por que tem sido assim? Deus já havia previsto que a ciência teria desenvolvimento fantástico (Dn 12:4) e o amor esfriaria, porque a iniquidade se multiplicaria sobremodo (Mt 24:12).

De nada adiantará ter riquezas, status, ser belo, talentoso, famoso, admirado por muitos, se não houver amor, porque a vida será vazia e infrutífera. Foi essa a conclusão a que Paulo também chegou:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará. (1 Coríntios 13:1–3)

Após alguém ser perdoado por Deus e receber a paz que excede todo entendimento, precisa receber também o amor e ser aperfeiçoado n’Ele e por Ele. Só assim, será uma pessoa feliz, e sua vida terá algum valor na eternidade.

Muitas pessoas passam seus dias apressadas, ocupadas com 1 milhão de coisas para fazer. No meio de tanta agitação, é fácil esquecer aquilo que mais importa e para o que fomos criados: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos.

O amor é o ápice da experiência humana. Dar e receber esse sentimento é a maior vocação do ser humano. Como filhos de Deus, precisamos ter a convicção de que recebemos o amor, mas, como só podemos controlar o que oferecemos, e não o que ganhamos de volta, nossa responsabilidade é doar amor em todos os lugares aonde vamos e a todas as pessoas que encontramos.

Uma vida significativa não depende do tipo de sapato que se calça, de morar em certa rua, de uma casa grande e luxuosa. Não depende da marca do carro que se dirige, do time para o qual se torce, da universidade onde se estuda ou onde os filhos estudarão. Viver não é nada disso.

Uma vida significativa não depende do dinheiro, da posição social, do poder que alguém tenha nem do fato de ser famoso ou não. Viver bem não está ligado ao fato de passar as férias ou não nos lugares desejados. O sentido real da vida é o amor. Logo, depende de amarmos e de sermos amados.

A Palavra de Deus nos ensina: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós, porque esta é a lei” (Mt 7:12).

Somos estimulados a amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos. Isso é possível porque o Senhor nos amou primeiro. Ele construiu o vínculo, investiu amor em nós, a fim de que nos sentíssemos amados e amássemos os outros também. Esse tipo de amor que Deus espera de nós não é algo abstrato, não é um amor só de palavras; é algo concreto e prático, expresso por nossas escolhas e atitudes para com os outros.

Somos estimulados ao amor prático

Deus nos amou de forma prática. Como disse João, “Deus nos amou de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha vida eterna” (Jo 3:16). E, como cristãos (pequenos Cristos) nesta terra, somos estimulados ao amor genuíno e às boas obras. Elas testificam nosso conhecimento sobre Deus e o Seu amor por nós.

Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos; quem não ama seu irmão permanece na morte. Aquele que aborrece seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem, perante Ele, a vida eterna. Conhecemos a caridade nisto: que Ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o coração, como estará nele a caridade de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas por obra e em verdade. (1 João 3:14–18)

Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor precede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado.

Nós amamos porque Ele nos amou primeiro. Se alguém disser: ‘Amo a deus’ e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte d’Ele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão. (1 João 4:7, 8, 12, 19–21)

O amor é outro segredo do sucesso; é um ingrediente indispensável para quem deseja uma vida plena, feliz, abençoada. É também a condição para sermos recebidos no Céu, como filhos legítimos do Deus que ama e é amor.

Devemos amar independentemente do fato de sermos amados. Deus nos deu sementes do seu amor para plantarmos em todos os corações, e é Ele que tem o poder de fazê-las brotar e crescer. Nós podemos apenas lançá-las e regá-las com palavras e atitudes dignas e condizentes com a nossa condição de filhos de seu amor. Ele nos amou primeiro. Com isso, deu-nos condições para amar até os nossos inimigos, e fazendo-lhes o bem.

Como disse C. S. Lewis , em Peso de Glória:

É à luz dessas possibilidades esmagadoras e com o devido temor e circunspeção que devemos orientar as nossas relações com os outros; toda amizade, todo amor, toda recreação, toda política. Não existe gente comum. Você nunca falou com um simples mortal. As nações, as culturas, as artes, as civilizações — essas são mortais, e a vida delas está para a nossa como a vida de um mosquito. Mas é com criaturas imortais que brincamos, trabalhamos ou casamos, e a elas que desenhamos, censuramos ou exploramos — horrores imortais ou esplendores perenes. Não significa que devamos ser perpetuamente solenes. Precisamos divertir-nos. Mas nossa alegria deve ser aquela (aliás, a maior de todas) que existe entre pessoas que sempre se levaram a sério — sem leviandade, sem superioridade, sem presunção.

E a nossa caridade deve ser um amor autêntico e precioso que se ressinta fortemente do pecado, mas ame o pecador — não mera tolerância ou indulgência que parodie o amor, como a leviandade parodia a alegria. Depois da santa ceia, o nosso próximo é o objeto mais santo que se apresenta aos nossos sentidos. E se ele for nosso irmão na fé, a santidade que nele existe é quase idêntica, pois nele também Cristo — o que glorifica e é glorificado, a própria Glória — está latente (Lewis, 1993, p. 23).

O amor é o segredo da felicidade, o bálsamo que cura as feridas da alma, a porta que nos leva a novos horizontes e a chave que abre o nosso coração para Deus e para sermos guiados por Ele a uma vida plena. Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus!

O amor é a maior energia positiva que rege o mundo espiritual. É uma vibração. Temos de estar inundados, cheios do amor ágape, espiritual, para fazer o bem e contagiarmos os outros. Isso fará toda a diferença na vida das pessoas.

Referência bibliográfica

MALAFAIA, Elizete. Bíblia da Mulher Vitoriosa: Segredos para uma Vida Completa. 1. ed. Rio de Janeiro: Central Gospel Ltda, 2009.

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