Edição 53

Notícias

O valor do conhecimento

Nildo lage

Desde que ultrapassamos o portal da vida, nos vemos irrequietos para satisfazermos a curiosidade de explorar o desconhecido, trocando o conforto e a proteção do ventre materno por um mundo estranho e barulhento, abarrotado de portais, de caminhos entrelaçados, repletos de armadilhas, de seres estranhos disputando espaços e divisas.

Essa leitura de mundo é a primeira lição que nos instrui e nos alerta de que, a partir daquele instante, somos nós por nós. O mínimo que ganharíamos seriam alguns cuidados e atenções para vislumbrar os horizontes. Devemos aprender, então, a primeira regra: sermos incansáveis, imbatíveis para suprir a necessidade de ser.

Sem saber que caminho trilhar, obedecemos ao instinto e pagamos pelos erros da inexperiência. Aprendemos a segunda regra: usar o racional para não pagar um alto preço para existir. Pois, quando não refletimos ao partir à caça das escolhas para facilitar o próprio viver, pagamos um alto valor, como diz o ditado: “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.

Entre tantos desencontros, o homem se transformou num incansável caçador de valores, denodos que o façam sobressair. De tanto questionar, sem obter respostas satisfatórias, vai além e esbarra numa muralha que se tornou o seu maior desafio: o porquê. Por que isso é certo ou errado? Por que é bom ou mau? Por que posso ou não posso? A guerra dos porquês é tamanha que leva o homem a porquês que o inquietam: Por que existo? Por que estou aqui e para onde vou?

Entre uma colisão e outra, num momento de “transe” da trajetória humana, surgiu algo fantástico denominado filosofia. Essa descoberta revelou a sua parte abstrusa, a mola-mestra que impulsionou o homem a sair do lugar-comum, explorar o mundo e experimentar que a vida vai além do ser, do existir… Do próprio viver.

Esse voo lhe proporcionou a liberdade para transformar a sua realidade, pois o homem adquiriu mecanismos para recriar, sonhar… A mente humana pôs todos os seus neurônios em alerta e rompeu as barreiras do comum, dando saltos gigantes com descobertas que fizeram o homem percorrer caminhos que o levaram a outros mundos. A evolução foi tamanha que Einstein chegou a declarar: “Uma mente que se abre para uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”.

A conclusão dessa teoria está no instinto humano: irrefreável, irredutível… Buscar e conquistar são alvos maiores e, para atingir essa meta, nos agarramos a algo que nos faça sobressair com um quê a mais, e que esse “a mais” nos promova, nos destaque para tornarmo-nos a atração maior.

Essa é a razão que nos atiça num labirinto de desafios, onde nos convertemos em exímios caçadores de conhecimento, por nos conscientizarmos de que este é a bússola que nos orienta pelo sinuoso caminho da realização pessoal e profissional.

Mas que virtude extraordinária é essa que a humanidade, desde os seus primórdios, cobiça com ardor?

O conhecimento é desejado por milhões, que o perseguem em lugares inusitados, nos momentos mais impróprios, por razões irrefutáveis. Mas poucos param para explorá-lo com sapiência ou fazer os mais sábios dos questionamentos: Qual o valor do conhecimento? Que tipo de conhecimento devo adquirir para me tornar uma pessoa melhor, um cidadão melhor, um profissional melhor?

Sem réplicas que nos convençam, apenas o procuramos numa corrida extasiante, na qual não se pode parar para ajustar falhas, corrigir erros, com temor de sermos atropelados ou logrados. Pois, assim como a vida, o conhecimento tem o seu curso, o seu preço, o seu instante de ser absorvido…Afinal, essa essência em constante estado de desenvolvimento atrai, seduz, impele o homem a ir além, desafiar as próprias fronteiras, enfrentar as armadilhas do tempo para decifrar mistérios, encontrar respostas, acumular experiências… Evolui com tamanha presteza que a humanidade tornou-se dependente desse suplemento. Quem não tem conhecimento… meramente existe. Mas não brilha. Não é notado. Torna-se um excluído do mercado de trabalho.

E mesmo os sábios têm dificuldades para descrever o conhecimento. Pois a sua fórmula é complexa a ponto de provocar
o desequilíbrio daqueles que tentam chegar à sua origem e mesmo à gnosiologia — a ciência que estuda o conhecimento —, muitas vezes se perdendo entre conceitos, teorias, descrições, hipóteses e princípios.

O incontestável é o que não há por não existir conhecimento completo nem valor exato que satisfaça a fome de saber do homem, a humanidade busca o conhecimento para evoluir, sem reconhecer a sua verdadeira importância.

Quem transita pelas galerias do conhecimento tem a oportunidade de apreciar a jogatina de quem decide o que é certo ou errado, comum ou científico, pois os conhecimentos se debatem, se dividem, se estraçalham para que o homem compreenda o mundo à sua volta, o porquê da própria existência, instigando-o a buscar respostas que o satisfaçam.

Mesmo com tantas bifurcações, é o centro de discussões, de conflitos, pois o Conhecimento Sensorial, que nos recepciona desde a nossa chegada através das experiências sensitivas e fisiológicas, como paladar, olfato, visão e audição — também presentes nos animais —, é constantemente desafiado pelo Conhecimento Intuitivo, que o afronta o tempo todo para provar que a percepção, a intuição proporcionam a racionalidade por meio das finuras do mundo exterior. Mas essa epifania se dissolve ao ir de encontro aos princípios do Conhecimento Intelectual, cuja propriedade é exclusiva dos humanos, presenteados pelo raciocínio, o qual propicia o relacionamento entre corpo e ambiente, implicando o pensamento lógico — que se esvanece ante a prescrição do Conhecimento Empírico, tão inconsistente a ponto de chegar ao acaso, e nem quer saber se vai ser questionado ou não. Simplesmente impõe, acreditando que, na essência primitiva, exala a herança capaz de propiciar o equilíbrio, no qual existir exige apenas abraçar culturas, tradições, rituais, mitos — ingredientes de que o homem necessita para viver em harmonia, pois a própria trajetória lhe propicia esses valores. A sua composição é de tamanha incoerência que chega ao senso comum, por não se incomodar com padrões, inverdades, nem assume responsabilidades com a postura reflexiva… Como afirma o próprio ditado popular, “vivendo e aprendendo”. Mas quando o seu caminho se cruza com o do Conhecimento Filosófico, que, por ser gerado na árvore da sabedoria, acredita ser o fruto, a origem do raciocínio e da reflexão humana. É o primo despojado do Científico, que simplesmente perde a referência, pois esse construtor de ideias e conceitos se transforma num bisbilhoteiro e, por ser indiscreto, verdades vêm à tona através da persistência das suas investigações e contestações. É tão audacioso a ponto de a metafísica não desviar as suas atenções do alvo maior: o humano.

Nessa interminável guerra na busca do conhecimento pleno, todos os ingredientes são imprescindíveis. E ele entra no páreo para provar que todos estão equivocados, o Conhecimento Científico, fruto da essência da metodologia científica, tem regras próprias e se orienta pelo racional para atingir objetivos claros. A sua persistência o impele a transcender os fatos para chegar à exatidão e, apesar de não assumir que é o senhor absoluto da verdade, tem uma gama de princípios, requer exame específico e, por ser meramente investigativo, estabelece dados e informações concretas para alcançar a veracidade, pois crê que é capaz de decifrar códigos para traduzir os enigmas do planeta. E, pela desconfiança, deve ser o irmão caçula de São Tomé, só acredita no que vê, no que toca, para constatar a composição, a consistência e decreta uma explicação racional da existência. Mas o senhor da “quase verdade” muitas vezes é obrigado a se curvar e silenciar diante daquele que garante ser o conhecimento maior: o Conhecimento Teológico, que, por ser produto da pedra angular do homem, a fé, prova com veemência que o toque de Deus é a fórmula completa, a explicação lógica, a razão. A verdade absoluta, pois, assim como os livros da Bíblia foram escritos por iluminados divinos, os atos do Criador são simplesmente incontestáveis e indiscutíveis. Como declara o pastor Wagner Amaral, mestre em Teologia: “Por isso mesmo, reunindo toda a diligência, associai a fé à virtude; a virtude ao conhecimento; o conhecimento ao domínio próprio…”.

E, por serem caminhos distintos, os sete senhores do conhecimento são a razão de tantas procuras, pois entender o verdadeiro valor do conhecimento é arriscar ir além da própria capacidade de ser, pelo fato de as pessoas agregarem princípios e ensinamentos às informações, acreditando que estão adquirindo conhecimento e preservam a sete chaves, nada além de subsídios do cotidiano, que muitas vezes são esquecidos no instante seguinte, pois o próprio corre-corre da vida para agarrar as oportunidades se encarrega desse desvio. Não assimilam a ligação dessas experiências com as suas necessidades e ambições pessoais.

O grande afã para acompanhar o ritmo da vida é tamanho que não sobra tempo para contabilizar os itens básicos que equilibram o desenvolvimento humano, e é nesse terreno que se fixam as raízes de muitos males, principalmente dos fracassos inexplicáveis, renúncias indiscutíveis de ideais e propósitos. Muitos, para acumular informações, permitem que valores sejam comprimidos pelo próprio conhecimento, que é usufruído de forma errônea, como declara o historiador russo V. O. Kliutchevski:

O valor de todo o conhecimento está no seu vínculo com as nossas necessidades, aspirações e ações; de outra forma, o conhecimento torna-se um simples lastro de memória, capaz apenas — como um navio que navega com demasiado peso — de diminuir a oscilação da vida quotidiana.

O maior educador, o tempo, nos ensina que fracassos e conquistas levam às respostas…
A explicação é a própria força de vontade para superarmos desafios em nome de uma conquista pessoal, pois o conhecimento se eleva apenas com a grandeza de atos e atitudes, mas, se os propósitos não forem canalizados para germinar valores e promover mudanças, o conhecimento continuará a ser, simplesmente, informações… Informações que se esvairão em vez de evoluírem para a sabedoria, por não terem sido aplicadas a nosso favor.

Mas uma verdade até os filósofos admitem: excesso de informações pode se tornar um fardo improfícuo aos que encontram dificuldades para absorvê-las, e essa verdade nos dá a maior das consciências: de que as nossas ideias, por mais brilhantes que sejam, confrontar-se-ão com outras superiores; e devemos, então, aceitar as mudanças como consequência dos fatos, não como os efeitos de nossas teorias, que o que sabemos é nada diante do muito que temos de aprender, e é essa consciência que desafia e impele o homem a ir cada vez mais longe, à caça de respostas exatas.

Entre fracassos e conquistas na busca desse bem precioso, muitos se centram num alvo para que esse fenômeno tão peculiar denominado conhecimento chegue a um nível mais elevado, o da consciência, para que somente assim o psicológico se transforme num Sherlock por meio das habilidades adquiridas, investigue atos e informações e, entre real e ideal, faça exalar a essência do autêntico conhecimento.

Mas o homem, na plenitude da sua imperfeição, na grandeza da sua capacidade de querer absorver os mais singelos movimentos, de reter informações precisas do porquê da própria existência, mostra-se instável, inconsistente, e poucos conseguem domar esse anseio a ponto de evitar o conflito entre o conhecimento sensorial e o intelectual. Por se deparar com dificuldades para organizar ideias, pois se confronta com problemas para gerenciar os instrumentos do conhecer — situação e razão — e transformar esse mecanismo em conhecimento que proporcione o seu desenvolvimento.

Atingir um conhecimento que preencha esse vazio e faça a diferença tornou-se o desafio maior. E o homem recorre a todos os artifícios — Filosofia, Sociologia, recursos tecnológicos — por acreditar que, se desvendar o mistério do vínculo entre a ciência e o pensamento com a origem da vida, encontrará as respostas para as dúvidas que inquietam a humanidade.

Mas como encontrar respostas e soluções para o bem comum se a cada instante aprendemos algo novo?

Essa caminhada foi tão longa que as ideias começaram a se clarear no início da Idade Moderna. Foi uma verdadeira revolução: a Física de Isaac Newton prometia chegar à origem da vida para que o homem se certificasse de onde veio, para onde vai e qual a sua verdadeira missão na trajetória terrena. A Astronomia de Galileu voou mais alto e rompeu a barreira da gravidade, revelando ao mundo que o planeta Terra era um objeto redondo que girava em torno de si mesmo e trazia noites e dias. Porém, dependia do astro maior, o Sol, para iluminá-lo, aquecê-lo e permitir que a vida se procriasse no seu interior.

Com um pé na modernidade, deparamos com Auguste Comte, cujo pensamento é voltado para o raciocínio lógico, responsável pela formação do paralelo entre os fatos: “Nossas pesquisas positivas devem essencialmente reduzir-se, em todos os gêneros, à apreciação sistemática daquilo que é, renunciando a descobrir sua primeira origem e seu destino final”.

Com essa visão, declara que o Conhecimento Científico é tão autêntico na sua plenitude que não admite questionamentos, dúvidas ou indeterminações a ponto de desvincular qualquer outro conhecimento.

Mas transitar entre a ciência — que acredita ter as respostas, a chave dos enigmas da criação do próprio universo — e a vida exige mais do que conhecimento. É preciso chegar a um grau mais elevado, denominado sabedoria, para assumir responsabilidade e respeito pela vida, que se torna cada vez mais vulnerável perante o poder dos conhecimentos que surgem instantaneamente como solução dos problemas da humanidade.

E o homem, insaciável por comodidade, se posiciona em constante estado de alerta à espera da passagem da resposta que promova o conhecimento que proporcione estruturas para a construção de um mundo ideal. Essa fome o instiga a desafiar os limites da ciência, do universo, por acreditar que o científico é a porta de entrada, de saída, o escape… Mas tem o dever de não usar a vida como instrumento de experimentos, fazendo dele uma arma contra a própria vida.

A obsessão de que o acúmulo de dados promove sabedoria impele muitos por um caminho do qual todos se esquivam: o da ignorância, pois poucos assimilam que a informação, na era globalizada, chega na velocidade em que a buscamos, mas a sapiência para aplicá-la vem num ritmo lento, em tempos alternados, em que respostas e soluções emanam do próprio eu. É a partir desse ponto que o conhecimento expõe o seu verdadeiro valor, permitindo que a sabedoria flua ostentada pela consciência de que será usufruída para o bem comum.

Quem ambiciona crescer precisa respeitar a regra geral: “Conhece-te a ti mesmo”.

O físico, matemático e filósofo francês Blaise Pascal acredita que: “É indispensável conhecermo-nos a nós próprios; mesmo se isso não bastasse para encontrarmos a verdade, seria útil, ao menos, para regularmos a vida, e nada há de mais justo”.

Para chegarmos a esse nível, é preciso conhecimento sólido e amadurecido e, como o humano não consegue acompanhar o próprio tempo para que perceba o momento de crescer, aprender e amadurecer, torna-se um prisioneiro das próprias ambições e se enclausura na pior das prisões: a do fracasso de não atingir o objetivo ambicionado.

Esse quadro, que reduz o seu universo de buscas — ser, fazer e ter —, exige o instante específico, e muitos submergem por não terem orientação para alcançar a fonte mais importante, que é chegar a si mesmo e identificar as suas restrições. Essa rota é tão segura que há séculos o mestre Sócrates já advertia: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. Aquele que não se conhece, apenas se explica, muitas vezes se complica, mas não se encontra nem assimila os conhecimentos que lhe convém.

Afinal, o que buscamos como propósito maior em locais únicos pode estar dentro de nós. É só darmos um passo determinado ao autoconhecimento para descobrirmos o tesouro habitado em nosso interior.

A vida nos surpreende a cada dia até nos arremessar nos braços da morte, e poucos adquirem conhecimentos necessários para se projetar no mundo, pois o humano tem dificuldade para ser honesto consigo mesmo: prefere atropelar sentimentos, valores e pessoas do que se curvar diante de si para admitir as próprias fraquezas.

Esse lapso, para se esquivar da própria realidade, sufoca a pergunta que inquieta muitos: “Por que tenho tanto medo de olhar para mim e me certificar de o quanto sou frágil, indefeso, covarde, de que necessito de gestos, coisas pequenas para ser feliz?”.

O poeta líbano-americano Kahlil Gibran é preciso quando afirma:

O conhecimento de si mesmo é a mãe de todo conhecimento. Portanto, estou incumbido de conhecer a mim mesmo, me conhecer completamente, conhecer minhas minúcias, minhas características, minhas sutilezas e cada átomo meu.

A maioria de nós tenta romper as barreiras do mundo sem antes desobstruir os obstáculos lançados pelo próprio eu. E é nesse instante que perdemos o equilíbrio, pois o conhecimento desvanece ante o impacto da queda, e a força do fracasso corrói pessoas preparadas para serem vencedoras.

Recolher-se no próprio universo para fazer uma visita a si mesmo pode ser o mais rico dos conhecimentos, pois oferece a oportunidade de olhar para si e perguntar: “Qual o valor do conhecimento que adquiri na minha trajetória e em que proporção usufruo dele?”.

Entender o valor do conhecimento exige sensibilidade e orientação na busca de discernimento para apreender os valores da vida e inseri-los de forma que estes promovam a autovalorização que determina os valores que preenchem as nossas ambições humanas, pessoais e profissionais. Pois transitar pelas trilhas do ser humano sem abrir chagas exige conhecimento denso, habilidade para não tropeçar nas cicatrizes de sonhos e desejos fracassados, provocados principalmente pela deficiência de conhecimento. Infelizmente, muitos ignoram o valor do conhecimento do mestre tempo. Esse sábio, que já trilhou todos os caminhos, está se encarregando de abrir no homem um vácuo impreenchível, pois, a cada instante, valores são corrompidos a ponto de se chegar ao desrespeito. E, sem respeito, outro valor fundamental é esmagado, o valor da vida. Esse estágio é a bifurcação que desviará o homem da rota que o levaria ao conhecimento mais ambicionado, que é o conhecimento de si próprio.

Se usássemos nós como ponto de partida, aumentariam gradativamente as oportunidades de chegarmos ao eu de todos nós, e entenderíamos o quanto temos que buscar para atingir a grandeza de ser — ou, pelo menos, o autoconhecimento — e não termos de pagar um alto preço para aprender que o conhecimento maior pertence ao Ser Maior; tentar atingi-lo é procurar o sobre-humano.

Mas, no século da informação, muitos ainda desconhecem a fonte de todos os conhecimentos: Deus. Preferem dar crédito à ciência, que é monitorada pelo próprio homem, em vez da verdade eterna.

Pois a humanidade ainda não despertou para se certificar de que o conhecimento é um animal selvagem ao extremo, tão difícil de ser capturado e domado que os próprios envolvidos na história formaram ideias colidentes a seu respeito. O sapiente Confúcio, um dos mais notáveis mestres da arte de viver, anunciou há milênios que “Conhecimento real é sabera extensão da própria ignorância”. O ex-presidente americano John Kennedy comungou essa ideia ao declarar: “Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância”.

Contudo, o russo Isaac Asimov, que chegou a ser agraciado como gênio desde a infância, manteve a prudência e foi precavido quando disse: “Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los”.

Mas como a maioria acredita que só o saber dá origem ao inexistente, impelindo a humanidade a se dispersar à caça desse tesouro, há os que acreditam que o conhecimento está no topo das ambições humanas, como declara o filósofo e místico indiano Swami Vivekananda, que tentou traduzir a voz dos séculos através do livro O Que é Religião?: “O homem tem por objetivo não o prazer, mas o conhecimento”. Todavia, a evolução humana exige mais e, por ter chegado à conclusão de que “o conhecimento é o ato de compreender através do raciocínio”, colocou todos os recursos das áreas do conhecimento em evidência: Psicologia, Filosofia, Epistemologia, Semiótica, Sociologia e Antropologia, que enveredam por todos os caminhos à procura de descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos que levem ao ponto ao qual muitos acreditam que a ciência pode levar: a origem da vida.

E, na era da informação, o que mais se vê são conflitos para desvendar esses mistérios. E essa contenda dificulta a compreensão do valor do conhecimento para que se promova o desenvolvimento humano. Pois crescer por meio da razão e do senso crítico e agregá-lo a princípios sem se desarraigar das raízes sociais, religiosas e culturais é um processo infinito.

O assunto é de tamanha magnitude que a elite da Filosofia mundial que executou trabalhos notáveis nas áreas do conhecimento, como Nonaka, Goethe, Edgar Morin, Kaplan e Steiner, não conseguiu adicionar os ingredientes para concluir a receita e chegar ao conhecimento verdadeiro. Suas buscas os conduziram a descobertas fantásticas, e muitos encontraram alternativas que levaram a uma fonte que proporciona o crescimento humano, como defende o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, um dos maiores pensadores vivos: a sala de aula.

O papel da educação é de nos ensinar a enfrentar a incerteza da vida; é de nos ensinar o que é o conhecimento, porque nos passam o conhecimento, mas jamais dizem o que é o conhecimento. E o conhecimento pode nos induzir ao erro. Todo conhecimento do passado, para nós, são as ilusões. Logo, é preciso saber estudar o problema do conhecimento. Em outras palavras, o papel da educação é de instruir o espírito a viver e a enfrentar as dificuldades do mundo.

Ainda há aqueles que acreditam que o conhecimento exige complementos.

Mesmo quando os confins da Terra não tiverem mais segredos a serem desvendados e a ciência tomar posse do dispositivo para monitorar a mente humana com maestria por meio de recursos capazes de traduzir pensamentos, novos conhecimentos exigirão a sua exploração, pois a necessidade de explorar está impregnada no instinto humano. Para isso, a educação precisará formar cidadãos aptos a absorver informações e transformá-las em conhecimento para que a ignorância seja comprimida pela consciência de que o mundo que queremos dependerá dos nossos atos e atitudes. E, mesmo sabendo que milhões não alcançarão a sabedoria, a humanidade desvendará um dos maiores mistérios, que é o segredo do viver bem usufruindo da exata importância dos valores humanos.

cubos