Edição 132

A fala do mestre

Oficina das emoções

Entrevista com Zeneide Silva

A educação no Brasil vem ganhando novos parâmetros e diretrizes nos últimos anos, fruto do debate em torno das demandas observadas por aqueles que estão na linha de frente, os professores e demais trabalhadores das escolas do País. Foi assim que surgiu a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento normativo federal que determina, por meio de “habilidades e competências”, quais objetivos da aprendizagem são essenciais e devem ser alcançados em cada etapa de desenvolvimento do aluno. Primeiro, houve a implementação dos encaminhamentos referentes à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental, e, mais recentemente, entraram em curso as modificações do Ensino Médio.

Além de trazer uma universalização para o sistema educacional brasileiro, a BNCC incluiu, ao lado dos componentes curriculares, não somente as habilidades cognitivas propriamente ditas, mas as chamadas competências socioemocionais. E, a partir do momento que “trabalhar as emoções” passou a ser o foco das escolas, surgiu a necessidade de instrumentos didáticos que pudessem oferecer aos educadores o suporte ideal para o desenvolvimento dessas atividades. Atento a essa crescente demanda, o selo Prazer de Ler, do Grupo Editorial Construir, convidou a escritora, pedagoga e Mestra em Educação Zeneide Silva para idealizar um projeto nesse segmento. Em entrevista à Construir Notícias, a consagrada autora, que já tem mais de 40 anos de carreira, nos conta os detalhes dessa coleção que está prestes a ser lançada, a Oficina das Emoções.

Construir Notícias – Como você recebeu o convite para criar esse projeto focado no socioemocional?

Zeneide Silva – Já há algum tempo, invisto em formações específicas nessa área, porque sei da importância de se trabalhar o lado emocional dos alunos. Assim como afirma a terapeuta norte-americana Jane Nelsen, Doutora em Psicologia Escolar, “Imaginem um trem tentando chegar ao destino com apenas um trilho, isso não é possível. O trem precisa dos dois trilhos, assim como a escola. O primeiro trilho é o acadêmico, o segundo trilho é o desenvolvimento socioemocional”. Cuidar do desenvolvimento emocional dos alunos é fundamental para qualquer processo de aprendizagem e ainda pode contribuir para evitar que o bullying e outras formas de violência aconteçam nas escolas. A elaboração da coleção se deu de forma colaborativa, pois contei com a presença de uma equipe de professores.

CN – A coleção vai contemplar crianças de 4 e 5 anos da Educação Infantil e também todas as séries dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Existe uma estrutura similar em todos os livros?

ZS – Sim, todos têm as mesmas características, apenas com adequação de linguagem e atividades para atender a cada faixa etária. Todo o conteúdo é apresentado de forma bastante lúdica pela Turminha das Emoções, cinco personagens que representam as cinco emoções básicas. Alegrina está sempre com um sorriso no rosto, ao contrário da Trista, que vive chorando pelos cantos. Raivito costuma explodir quando se sente ameaçado por alguém. O Nojito não gosta de sujeira e mãos pegajosas ou objetos com aparência esquisita, e o Medino vive assustado e evita ficar sozinho. A partir das histórias e atividades protagonizadas por esses personagens, vamos oferecendo aos professores instrumentos para ajudar os alunos a identificarem e controlarem suas emoções, mas também a entenderem que elas não são negativas ou positivas por si só, cada uma tem sua função na nossa vida e no nosso processo de desenvolvimento.

CN – Notamos, pela estrutura dos livros, que existe uma metodologia proposta na Oficina das Emoções. Na prática, como vai funcionar?

ZS – Estamos propondo dez encontros em cada unidade, uma vez por semana. Nos livros, trazemos seções fixas, com o detalhamento de cada atividade, como, por exemplo, o momento denominado Vamos nos acalmar, com a descrição de dinâmicas de respiração e expressão corporal para ajudar no relaxamento e controle das emoções. Trazemos seções reflexivas e momentos de tomada de decisão, além de dicas de filmes de temáticas emocionais e sociais. Incluímos atividades de confecção de materiais, como o termômetro das emoções e os fantoches dos personagens, a partir de objetos simples e de itens que vêm no próprio livro, como papel cartonado e adesivos. Mais do que um livro didático, Oficina das Emoções é um roteiro lúdico para o estabelecimento de boas práticas nas escolas, onde os alunos possam exercitar diariamente a empatia, o respeito, a gentileza e a escuta ativa, desenvolvendo sua autorresponsabilidade.

Cuidar do desenvolvimento emocional dos alunos é fundamental para qualquer processo de aprendizagem, e ainda pode contribuir para evitar que o bullying e outras formas de violência aconteçam nas escolas.”

CN – De que maneira esse projeto pretende fazer da educação socioemocional o espaço coletivo de escuta e o ponto de apoio, que é base para o desenvolvimento dos alunos?

ZS – Pensamos na Oficina das Emoções como um projeto que envolva toda a comunidade escolar, e não como uma disciplina com um único professor responsável, para que toda sala de aula seja um ambiente seguro e acolhedor, onde as crianças tenham liberdade para se expressar e contar suas experiências e se sintam protegidas para compartilhar o que sentem. No Manual do Educador, trazemos orientação didática e dicas de condução específicas para cada uma das páginas do livro do aluno. E propomos, ainda, atividades envolvendo as famílias. Como primeiro encontro (uma espécie de aula inaugural), será promovida a “Festa” de Entrega dos Livros, com cartazes dos personagens, fotos, bótons dos personagens e outros materiais lúdicos, e os pais fazem simbolicamente a entrega do exemplar da Oficina das Emoções ao seu filho.

CN – Quais são as expectativas para o lançamento da coleção?

ZS – Sabemos do papel da escola como lugar de formação, e, com o suporte da Oficina das Emoções, temos certeza de que os professores vão poder oferecer uma educação verdadeiramente integral. As competências socioemocionais não se desenvolvem de forma separada das habilidades cognitivas, como raciocínio lógico e memória; por isso, criamos uma metodologia que articula os conteúdos. E, sentindo-se acolhido e respeitado no ambiente escolar, o aluno pode também aprender mais e melhor; pois, como questiona Jane Nelsen, “De onde tiramos a absurda ideia de que, para levar uma criança a agir melhor, precisamos antes fazê-la se sentir pior?!”. A Oficina das Emoções nasce do desejo de fazer a criança se sentir bem na escola e, assim, poder desenvolver seu máximo potencial em todos os aspectos.

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