Edição 106

Construindo mais conhecimento

Os 11 livros mais polêmicos da História

Texto de Heloísa Noronha

A obra da discórdia

Fiéis, cientistas, ateus e diversos outros grupos levantam dúvidas sobre autoria, idiomas e datas. Além disso, seu conteúdo sempre gerou incertezas e muitas análises, principalmente as partes do pecado original, o Apocalipse e a criação divina, e ainda trechos sobre penas de morte, sacrifícios, violência contra crianças, bebedeiras e sexo sempre trazidos à tona por seus detratores. A Bíblia também é muito analisada por seguidores de outras crenças além da católica, o que contribui para que gere polêmicas.
Livro: Bíblia (ano indeterminado) Autor: vários (mais de 40)

Manifesto do mal

A “cartilha do nazismo” expressava as ideias antissemitas e racistas do ditador, que escreveu o primeiro dos dois volumes na prisão. Foi meio que uma sementinha da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, já que, em suas páginas, Hitler persuadia os alemães a combater os judeus, que, segundo ele, pretendiam dominar o país. O estado da Baviera, na Alemanha, se recusa a permitir a reedição da obra.
Livro: Mein Kampf (1925/1926) Autor: Adolf Hitler

Tá de macaquice

Um dos livros mais importantes da história das ciências, apresenta a Teoria da Evolução, cujos preceitos se tornaram a base da biologia moderna. Na obra, Darwin analisa a luta pela sobrevivência e a seleção natural das espécies, mas foram as teorias de que o Homem veio do macaco que geraram comoção, principalmente porque contradizem totalmente o livro de Gênesis, na Bíblia, que trata da suposta criação do mundo por Deus.
Livro: A origem das espécies (1859) Autor: Charles Darwin

Ao alto e além

Precursor da filosofia moderna, o livro se baseia na teoria do astrônomo e matemático Copérnico, que afirmava que a Terra não era o centro do Universo. Para o autor, o Universo seria infinito e com um número infinito de mundos, todos em sistemas heliocêntricos (ou seja, que têm um sol como centro), com seres inteligentes. O autor acabou executado como herege pela Inquisição.
Livro: Acerca do infinito, do Universo e dos mundos (1584) Autor: Giordano Bruno

Mil e uma perversões

Não é à toa que o nome do autor deu origem à palavra sadismo: o livro tem escatologia (uma cena narra um banquete com pratos com fezes), incesto, tortura (inclusive de crianças), orgias e assassinato. Uma leitura mais atenta aponta que a violência foi o recurso do escritor para afrontar as instituições Igreja, família e Estado. Preso diversas vezes e perseguido ao longo da vida pelo comportamento libertino, Sade morreu em um hospício.

Livro: Os 120 dias de Sodoma (1785)
Autor: Marquês de Sade

O sonho acabou?

Obra em que o Pai da Psicanálise relaciona os sonhos às projeções do inconsciente. Para o médico austríaco, qualquer sonho pode ser explicado, diferentemente do que alguns estudiosos acreditavam. Mal recebido, o livro causou polêmica por contrariar as teorias da época, que diziam que os sonhos não eram inteligíveis. As interpretações sexuais foram um dos motivos de maior escândalo.
Livro: A interpretação dos sonhos (1900) Autor: Sigmund Freud

Maldizendo a madame

Avançada para os padrões da época, a fictícia Madame Bovary comete adultério e se entrega ao consumismo desenfreado (e às dívidas que vêm junto) para dar sentido à sua vida carente de aventuras. Acaba tendo um final trágico e meio moralista: ela se suicida ingerindo arsênico. Por fazer críticas ao clero e à burguesia, o romance causou furor na época, com o autor sendo levado a julgamento por ofender a moral e a religião. Absolvido, Flaubert declarou no tribunal: “Emma Bovary sou eu”.
Livro: Madame Bovary (1857) Autor: Gustave Flaubert

Amor não tem idade

Rejeitado por várias editoras, que o taxaram de pornografia pura, Lolita é um romance escrito em primeira pessoa que conta a história de Humbert Humbert, professor de poesia francesa quarentão que se apaixona por sua enteada de 12 anos e vive uma relação amorosa e erótica com ela. Humbert se define como um pervertido e atribui seus atos a um romance malsucedido da juventude. Inspirou dois filmes, também controversos.

Livro: Lolita (1995)
Autor: Vladmir Nabokov

Sentença de morte

A obra conta a aventura de dois muçulmanos que sobrevivem a um atentado à bomba em um avião. Depois da queda, um deles desenvolve chifres, cascos e um rabo. O outro cria uma auréola. Recheado de ironias e críticas ao Alcorão e ao islamismo, o livro culminou na busca pela cabeça do autor — líderes religiosos oferecem US$ 6 milhões como recompensa pelo seu assassinato. Rushdie teve que se manter no anonimato durante muitos anos.
Livro: Os versos satânicos (1989) Autor: Salman Rushdie

Blasfêmia lucrativa

O biólogo britânico expõe argumentos para provar a não existência de Deus, faz apologia ao ateísmo e aponta a religião, de modo geral, como principal causa dos males modernos: guerras, ignorância, intolerância, etc. Sucesso de vendas, a obra inflamou a discussão entre religiosos e ateus no meio acadêmico e gerou dezenas de artigos e até livros contrários a suas ideias. Dawkins virou ícone do ateísmo.
Livro: Blasfêmia lucrativa Autor: Richard Dawkins

Prodígio da polêmica

É um romance supostamente baseado na infância do autor, representado por um garoto de 12 anos, chamado Cherry Vanilla, que deseja virar uma mulher famosa. Com forte carga de prostituição e abuso sexual infantil, a história caiu no gosto até de celebridades. Em 2006, o autor foi desmascarado e revelou-se que a pessoa que se passava por LeRoy era modelo contratada. A real autora era uma ex-operadora de telessexo. A farsa contribuiu ainda mais para o seu sucesso.
Livro: Sarah (1999) Autor: JT LeRoy

Fonte: Fontes: Cassiano Ricardo Tirapani, coordenador da Casa da Palavra, em Santo André (SP); Fernando Sá, professor e editor da Editora PUC-Rio; Noemi Jaffe, escritora; Rodrigo Petronio, escritor; Rosangela Petta, jornalista e dramaturga.

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