Edição 81

Lá Vem a História

Queremos aprender, e não copiar!

Nildo Lage

mulher_professora_pedi_fmtEra uma sexta-feira daquelas. Final de bimestre, direção cobrando os avanços; coordenação pedagógica, os relatórios; pais desejando os resultados… Nervos à flor da pele, esgotamento físico, emocional e psicológico no limite. Os alunos? Daquele jeito, sem ocupações, na maior euforia.

A professora Zefinha não sabia mais o que fazer para dominar a turma de quinto ano que transformou a sala numa salão de festa.

Revisou o planejamento. Havia esgotado todas as atividades.

Mesmo não tendo desordem, o barulho de vozes embaralhadas e risadas se intensificou.

Já havia gritado, ameaçado, enviado três para a direção e nada.

Sem saber o que fazer para conter a hiperatividade dos educandos, sentiu-se perdida.

Foi então que deliberou fazer o que a maioria dos colegas fazem. Asfixiá-los de conteúdos para mantê-los entretidos e ter “aquele abençoado minuto de paz” até o toque do sinal.

Abriu o livro didático de Língua Portuguesa num gesto mecânico, escolheu o primeiro texto, voltou-se para o quadro-negro e mandou ver. Escreveu um longo texto — após ordenar que todos o copiassem no obsoleto caderno de cópias.

Um pesado silêncio caiu sobre o ambiente, e, naquela camuflada percepção de paz, a professora relaxou.

Ao terminar, com a face embranquecida, cuspindo giz, foi surpreendida ao voltar-se para a classe e certificar-se de que todos, simplesmente todos, estavam distraídos, despojados, e nem perceberam as suas ações, pois permaneciam em outro planeta, com as atenções voltadas para a tela dos celulares, enviando mensagens, ouvindo música, batendo papo nas redes sociais ou jogando.

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Sentiu-se insultada e antes que o sinal soasse para o final da aula, difundiu a sentença:

— Quero na próxima segunda-feira que todos tragam cem cópias deste texto! — e abandonou o recinto.

Ato contínuo. Todos ficaram de pé, fotografaram o texto com celular, smartphone, tablet e abandonaram a sala.

No dia determinado, entregaram o número exato de cópias impressas e mais: encadernadas e autografadas: “Para tia Zefinha, com admiração e carinho”.

Petrificada ante a audácia e a criatividade dos alunos, questionou apontando a pilha que se formou sobre a sua mesa:

— O que significa isso?

— Ué, tia, esqueceu que somos da geração Ctrl? — Joãozinho saiu na defesa dos colegas — A senhora não exigiu cem cópias? Copiamos! Só que optamos em modernizar e navegamos na onda do momento: Ctrl T, Ctrl C e Ctrl V… “IMPRIMIR”… Não foi assim que a senhora fez na faculdade quando lançaram a internet? — e, encarando-a diretamente nos olhos, finalizou — QUEREMOS APRENDER — MAS DO NOSSO JEITO —, E NÃO COPIAR!

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