Edição 130
Professor Construir
RECOMPOSIÇÃO DE APRENDIZAGENS
Cautela e ponderação são essenciais para a adoção de práticas pedagógicas que reparem os danos provocados pela pandemia.
No planeta inativo por 2 anos, todos os setores da sociedade foram arremessados a desafios sem precedentes. Com a educação, não poderia ser diferente. A palavra de ordem é recompor. Recompor as perdas do humano, que sofreu danos psicológicos e emocionais ante a ausência de entes queridos e familiares e necessita se reconstruir psicoemocionalmente para prosseguir sem tantos percalços.
O caminho a trilhar não pode ter atalhos para impedir desacertos. Cautela e ponderação são essenciais para a adoção de práticas pedagógicas que reparem os danos provocados pela pandemia.
Distribuídos taticamente na linha de fogo, educadores que não foram preparados para o ensino remoto afrontam, sem estrutura técnico-pedagógica, o desafio de recompor aprendizagens e encaram o exército de problemas — sociais, emocionais, familiares e psicológicos — questionando: como recompor tantas necessidades?
O travamento do penta pelas ações da Covid é o fato. Mas o contexto da crise é o reflexo da cadência de desacertos do sistema pela falta de formação, pela desvalorização do trabalho docente e pela inexistência de recursos, principalmente tecnológicos, que facilitem os trabalhos em sala de aula.
Se não houver adaptações no currículo e formação docente para que práticas pedagógicas atinjam objetivos propostos, o educador não granjeará equilíbrio para trabalhar as competências na sala de aula.
O que fazer?
É preciso presteza por causa da grandeza do problema. Se o fazer agora contemporizar a inexistência da recomposição, abrirá um buraco negro aonde sonhos, planos, vidas serão arremetidos e esquecidos.
Se o sistema se negar a refletir a importância de formar para a vida, jamais reorganizará suas estratégias para apresentar propostas com alternativas para atender ao agora. Esse agora decreta a avaliação diagnóstica como o primeiro procedimento, para se certificar do equívoco de não ter capacitado o educador e refreado a entrada das ferramentas digitais na sala de aula.
É uma tarefa difícil? É! Mas onde estão e o que perpetram os titãs do MEC? Sejamos objetivos! Nossos educadores receberam uma formação universitária para tão somente espargir conteúdos, crentes de que estão promovendo a aprendizagem. Não é inaptidão, é deficiência de estrutura técnica mesmo.
Visão cumulativa é aprendizagem? Acumular dados é formar? Se é assim, basta livro didático para guiar o professor, HD externo para o aluno distribuir em pastas os conteúdos das disciplinas e descartar competências e desenvolvimento humano.
Se o sistema se negar a refletir a importância de formar para a vida, jamais reorganizará suas estratégias para apresentar propostas com alternativas para atender ao agora.
BNCC e recomposição de aprendizagens
Compreendemos que a BNCC ingressou como um asteroide desgovernado e calhou no colo do professor com um “Cuida de mim, pois sou a salvadora da Pátria Educação!”.
Sabemos também que, no ambiente profissional, há os que fazem a diferença, os que maquiam e os que cumprem propósitos. Na educação, não é dessemelhante, pois temos ciência de que existe professor que tem tanta oposição em aprender para ensinar melhor que, durante a pandemia, não ligou o computador para buscar o novo, com receio de que o vírus o contaminasse num ataque online.
Só que recomposição de aprendizagens estabelece exposição, sincronia de ações docentes com a comunidade escolar, a destacar a equipe técnica. Nesse processo, suas ferramentas, mesmo não estando ajustadas, por ser uma novidade para a educação, convertem-se no marco zero para iniciar procedimentos que priorizam aprendizagens fundamentadas no recomeço do ensino presencial.
Se resistirmos em enveredar pelas trilhas delineadas por esse documento, não inserindo, no planejamento, suas ferramentas, jamais sairemos do lugar-comum, e tudo que não pode sobrevir é permanecer na mesma. Falácias não recompõem conteúdos não aplicados! Discussões acaloradas não promoverão aprendizagem discente, porque a pandemia bloqueou tudo, inclusive a aprendizagem docente.
A recomposição tem que ser homogênea porque o professor precisa dominar competências, e, para isso, é preciso que o sistema o capacite com a recomposição de saberes para, assim, irromper os desafios da sala de aula através de tarefas descritas no currículo, para promover conhecimentos que universalizem a compreensão, porque, ao universalizar as aptidões dos elementos curriculares, é possível vislumbrar o que é prioritário para o aluno e, até mesmo, a turma.
Se o ensino for universalizado por meio da formação para atender a turma, certamente o professor dominará habilidades e competências para singularizar as aprendizagens, por tomar ciência do que necessita repor em cada aluno; porque o respeito ao diferente e o respeito ao individual são a certificação de que nenhum aluno é igual ao outro.
Se resistirmos em enveredar pelas trilhas delineadas por esse documento, não inserindo, no planejamento, suas ferramentas, jamais sairemos do lugar-comum, e tudo que não pode sobrevir é permanecer na mesma.
O papel do professor na recomposição de aprendizagens
Capacitar o professor para desenvolver um trabalho cadenciado é compreender que aprendizagem significativa requer conhecimentos prévios para fortalecer a base do ensinar. Sem esse embasamento, é impossível elaborar uma proposta que atenda à necessidade dos alunos que não conseguem fazer leitura de mundo. Como eles conseguirão dilatar e atualizar as informações anteriores para encontrar um significado para seus conhecimentos?
Os desafios de uma sala de aula decretam estrutura profissional, e tudo o que o sistema não faz é investir no professor. Todavia, o eco procedente desse universo tem que retinir para que gestores entendam que, no processo de ensino-aprendizagem, atuar efetivamente na mediação do conhecimento é alargar os horizontes do saber para que o conhecimento intercedido atinja o alvo almejado pelo procedimento pedagógico.
Do contrário, as dificuldades de aprendizagem do aluno permanecerão como obstáculos intransponíveis, uma vez que os conhecimentos prévios promovidos pela aplicação dos conteúdos curriculares não sobrevirão, e o professor não consegue trabalhar o individual para agenciar a recomposição.
Assim, as ferramentas da BNCC ajustam a distância entre a aplicação de conteúdos e a aprendizagem, mas a essência do currículo não as emprega, e, de tal modo, um novo ano letivo avança sem que as habilidades prioritárias sejam trabalhadas.
Por quê? Quem responde? O próprio aluno! Se ele conseguir concorrer a um vestibular, é porque a recomposição de aprendizagem estabelece ousadia para que o conjunto de táticas que agencia a desaprendizagem promovida pelo distanciamento social seja suprido por competências e habilidades desenvolvidas por um conhecimento sólido.
Se atuar não for preciso, os alvos não serão atingidos. O agir docente é tudo, porque ensino-aprendizagem não é aplicação de conteúdos; é um processo, e este só sobrevém com resultados positivos se houver abarcamento, acompanhamento, participação, e o mediador do conhecimento é tão extraordinário quanto os métodos pedagogicamente efetivos. Pois ser efetivamente verdadeiro é a diferença entre o fracasso e a superação do aluno.
Porque o professor, além de ser manipulador de conhecimentos didáticos, posiciona-se entre os paralelos dos conteúdos e da aprendizagem construtiva, promovendo o conhecimento intrínseco e a formação humana, sentindo na pele a pressão incitada pelos impactos sociais e familiares a cada abordagem de um contexto que requer maturidade e direcionamento. A recomposição de aprendizagens estimula a positividade discente para facilitar o trabalho em sala de aula, e a estrutura docente para redirecionar conteúdos pedagogicamente apropriados é fundamental.
A superação das deficiências afetivas não acontece através de uma aprendizagem que saliente a adequação dos conhecimentos prévios do aluno com os conteúdos curriculares preestabelecidos. Ou seja, o professor é essencial na formação social do indivíduo no processo escolar.
O papel do sistema
O que fará para proporcionar suporte e aporte para que a recomposição de aprendizagens de 2 anos sobrevenha? Apenas a busca ativa à caça dos perdidos?
É preciso direção previamente definida, porque a recomposição de aprendizagens é um conjunto de ações que vão desde o amparo ao aluno para harmonizar o ambiente escolar com a aplicação de conteúdos a procedimentos justapostos individualmente para facilitar a aprendizagem.
Se as atividades prontas e os livros didáticos se conservarem como roteiro de aplicação de conteúdos, ficaremos na mesma, porque recomposição de aprendizagens é uma operação de emergência, cujas ações estabelecem ajustes ininterruptos no decorrer do próprio processo, que não pode mais ser retardado.
Se conservarmos as mesmas ações, de que adiantará reorganizar os procedimentos pedagógicos? O que fazer? Nada! Sem ações pedagógicas que recheiem esse vazio de 2 anos com conteúdos ricos, prevalecerão as falácias. São necessárias atuações com acompanhamento. Sem acompanhamento para checar se a aprendizagem e a aplicação de conteúdos atenderam ao ciclo, a flexibilização curricular e a avaliação diagnóstica devem ser rejeitadas por serem pura perda de tempo.
Escola e sistema não apresentam propostas para recompor as aprendizagens. O processo é desafiante, e os entraves se iniciam pela inexistência de formação docente. O profissional é acuado ante o desafio maior: desenvolver conteúdo personalizado que acate dificuldades e ritmos específicos para, assim, nivelar o ensino de uma clientela obsoleta e sem interesse de recuperar o tempo perdido.
A aprendizagem significativa dilata os horizontes da compreensão por proporcionar estrutura para ressignificar a realidade do indivíduo.
O papel do coordenador pedagógico
A coordenação pedagógica é fundamental no esboço dos alvos com ações estratégicas. A primeira ação é sempre o agir mais importante: o planejamento para delinear como a aplicação de conteúdo e a avaliação diagnóstica buscarão resultados para definir novos rumos.
Nesses novos rumos, o coordenador pedagógico se torna bússola, pois o seu operar é aporte para o professor, suas orientações norteiam a reorganização das ações para que o aprendizado sobrevenha de forma assinalada por obedecer o mapa das dificuldades numa linha geral, não como reforço escolar ou recuperação, por ser feita de forma adequada e eficiente.
Isso não significa que a recuperação paralela não possa ser perpetrada para atender os que tiveram dificuldades. Esse processo é importante para auxiliar o professor na checagem do desempenho do conhecimento em indivíduos que estabelecem mais empenho para, até mesmo, reavaliar situações obscuras.
Se retrocedermos o olhar, contemplaremos como estão aqueles que foram pegos pela pandemia no 1o ano e como estão no 4o! Não é exagero! Necessitam ser alfabetizados, e o sistema está tão perdido que não consegue responder a questionamentos simples, tipo: como reiniciar o processo do marco zero?
A convergência é determinação para principiar o processo. Cada dia que se perde é um ponto almejado que não é alcançado, porque a aprendizagem requer procedimento que exige conhecimentos fundamentados de quem ensina; e, quando o conhecimento não é significativo, o tempo gasto com futilidade intensifica a crise.
Não adianta camuflar para ganhar tempo. O colapso é evidente, e a recomposição de aprendizagens abrolhou para suavizar o caos, por isso é um processo necessário, pois seus contextos são imprescindíveis. Assim, é preciso atuar agora com atividades delineadas, cuja cadência não pode ser interrompida.
Sua aplicação é tão urgente que nem podemos falar de perdas. O que o aluno perdeu na pandemia para ser reposto? Nada! Porque não adquiriu nada! Temos que oferecer o que foi negado para suprir a deficiência; é como o princípio do processo de equilíbrio. A escola pós-pandemia é antagônica à anterior. Apresenta alunos vazios, perdidos, cujo déficit de aprendizagem e conteúdo é extenso, e a operação do sistema para se recompor deve principiar pelo emocional, pois todos tiveram perdas, principalmente de vidas. Quem não perdeu parentes, amigos ou conhecidos? Todos! Sem contar com as sequelas do isolamento social.
Se o sistema não alocar na sua grade suporte a gestores, educadores, especialistas e, até mesmo, família para que o aluno seja amparado, não teremos avanços. É a partir desse ponto que a recomposição de aprendizagens propriamente dita se inicia.
Porque aprendizagem é o elemento que fortalece a base do indivíduo e o impulsiona aos desafios que proporcionam o crescimento humano, norteando-o a agir como profissional coerente e consciente do seu papel num mercado cada vez mais competitivo. A aprendizagem significativa dilata os horizontes da compreensão por proporcionar estrutura para ressignificar a realidade do indivíduo.
É nessa transição que os pais devem compreender que educação é responsabilidade da família e que a incumbência do professor é, unicamente, ensinar. O êxito do aluno nessas parcelas de responsabilidade depende da determinação e do nível de seu envolvimento, porque é a partir do almejar discente que o processo de reposição de aprendizagem se torna expressivo.
Tempo perdido não se recupera; pode-se recuperar a aplicação dos conteúdos não aplicados, mas aprendizagem não. O que pode ser feito é qualificar aquele que adentra numa sala de aula sem saber o que fazer, para que o tempo vindouro converta o vazio deixado pelo isolamento num horizonte que facilite o ensino-aprendizagem. Porque professor tem ciência de que ninguém ensina; é a forma de aplicar que alavanca o processo que facilita o aprendizado do seu aluno.