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Relacionamento entre gerações na família

Ibeane Campos Moreira

A família é um sistema complexo de relações em que seus membros compartilham de um mesmo contexto social de pertencimento. É o lugar do reconhecimento da diferença, do aprendizado de unir-se e separar-se; a sede das primeiras trocas afetivo-emocionais, da construção da identidade.

Segundo Groeninga, “a família é um caleidoscópio de relações que muda no tempo de sua constituição e consolidação em cada geração, que se transforma com a evolução da cultura, de geração para geração”. Ela se fundamenta na ideia de coesão e continuidade, como uma célula reprodutiva, e vive o paradoxo mudança/estabilidade em todo o seu ciclo vital.

A dinâmica do ciclo vital

A crise característica de processos de mudanças muitas vezes surge como uma ameaça de ruptura. A singularidade de como cada família cuida de seu equilíbrio e de sua sobrevivência interage com os relacionamentos interpessoais e intergeracionais de seus membros.

As etapas do ciclo vital estão marcadas por eventos significativos: nascimentos e mortes, separação da família de origem e formação do novo casal, nascimento do primeiro filho, o primeiro irmão, o nascimento dos filhos na evolução da relação conjugal e parental, a adolescência e passagem à idade adulta dos filhos, a desvinculação progressiva de pais e filhos, o casal conjugal e parental na maturidade e no envelhecimento, o acontecimento avós e netos, a separação pela morte de um dos membros do casal.

O estresse vivido nas fases evolutivas do ciclo vital se cruza com os legados transgeracionais e com as causas externas. Esse processo, que se desenvolve numa dinâmica temporal, é de grande complexidade: quando uma geração está chegando à velhice, a outra está vivendo o ninho vazio; a terceira, o ser adulto e a escolha de seus pares; e a quarta, o inédito de ser o novo membro da família. Atitudes, crenças e mitos transmitidos de uma geração a outra exigem compromissos de lealdade que se entrecruzam, somando-se às diferenças de cultura dos casais e dos pais.

A comunicação do legado

A memória do passado é indispensável para se construir o futuro. “Se não tens saudade, não podes compreender”, dizia Bernard Prieur. Aventurar-se a percorrer os labirintos das relações familiares e ir ao encontro do desconhecido é também deparar-se com tesouros escondidos.

Como vem se transformando o relacionamento entre gerações através do tempo? As gerações primam pela diferença, e, quanto mais permeáveis e definidas forem as fronteiras geracionais, mais fácil será o relacionamento. O processo de crescimento é rico e criativo, e a intimidade só é possível quando os conflitos podem ser enfrentados.

É inesgotável o repertório de como se organizar em família e atribuir significado às gerações, à sexualidade, à aliança entre grupos e indivíduos, e é impossível um formato único que dê conta da complexidade da família e das relações humanas.

Então, de que família estamos falando quando pensamos no relacionamento entre gerações? Certamente de uma família diferente, que não segregue crianças e idosos nem se divida em extratos compartimentados e isolados: a infância, a adolescência, os jovens, os adultos, os velhos. “O que você vai ser quando crescer?”, pergunta-se às crianças. Por quê? Elas não são? Ainda vão ser? E “O que o senhor fazia?”, pergunta-se ao idoso. Por quê? Ele não faz? Então, o que lhe resta a não ser contar bravatas do passado se o presente o olha como quem não faz mais nada?

A troca de experiências entre gerações é a oportunidade de compartilhar sabedoria, crescimento pessoal e aquisição de novos conhecimentos. É necessário educar com o objetivo de estimular gerações para a abertura a novas experiências, maneiras de ser e ideias, e para a manutenção da autonomia, ou seja, da capacidade de fazer escolhas voltadas para o bem-estar físico, social e psicológico.

Ibeane Campos Moreira é pedagoga, especialista em serviço social na saúde e assistência social. Nova Brasília, BA.

Endereço eletrônico: ybeanepoetisa@hotmail.com.