Edição 71

A fala do mestre

Relativismo na Educação

Nildo Lage

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Chegar à genealogia do relativismo é uma tarefa fácil. Em uma breve parada para uma conversa com os discípulos de Hume, Kant e Berkeley, compreendemos que a ramificação de pensamentos do trio deu origem à doutrina filosófica relativista. Entre fugas e conflitos, dissensões e adágios, todos se apreendem no ponto de confluência, pois descartam a razão e ressaltam que a intuição humana é a rota para compreender e desvendar o mundo, decretando como regra a percepção, a partir da qual a classificação entre certo e errado dependerá da ótica definida pela interpretação.

O relativismo, de tão subjetivo, se converte em uma atitude epistêmica ao decretar que a verdade absoluta é um alvo tão difícil, que atingi-lo pode se tornar um sonho inalcançável, pois as experiências do indivíduo são a sua identidade. É exatamente essa condição que o faz um sujeito único, não podendo, portanto, ser desconstruído.

Relativismo x absolutismo

Para contrapesar a disputa entre essas duas correntes, é preciso desenvoltura, pois a primeira acredita que a existência é fruto do coerente. Por deter essa confiança, percebe o porquê do existir de todas as coisas. Ao passo que a segunda é resoluta no confronto com o mundo, por ser simplesmente absoluta e, na altivez da sua irredutibilidade, afirma que tem argumentos para satisfazer sua superioridade.

Esses conflitos de pensamentos fazem com que o relativismo — que compreende o mundo, as coisas, as pessoas por meio do próprio universo — adote a liberdade como fundamento e o respeito ao conhecimento coletivo como princípio, divergindo do absolutismo — que é egocêntrico e salienta a individualidade como plataforma para reger suas informações. Incoercível, interpreta e decreta que cada um é responsável pelo próprio crescimento, por acreditar que o choque de diferenças que proporciona maturidade é o combustível que aciona o crescimento pessoal.

Mesmo o mundo se rendendo à tecnologia, que consente ao homem abraçar o planeta e explorar os seus pontos mais remotos, o humano é fundamental. Resgatar a espiritualidade e a moralidade é permitir fortalecer o caráter, moldar a personalidade, pois a humanidade vive tempos de guerra, de desamores, exatamente por permitir que essa herança, que devia ser um patrimônio hereditário, a cada dia, desvalorize suas ações numa sociedade cada vez mais capitalista.

A globalização aproximou nações, difundiu culturas, mas não reteve forças para refrear a inversão de valores, pois o homem, na ânsia de superar oscilações socioeconômicas, se embaraça no instante em que busca domínio e poder com felicidade por se expor ao mundo como uma mercadoria que deve ser submetida ao processo de universalização.

Mesmo o mundo se rendendo à tecnologia que consente ao homem abraçar o planeta e explorar os seus pontos mais remotos, o humano é fundamental.

Se o Eu não for destaque, valores absolutamente humanos perderão o sentido, e nem mesmo a verdade resistirá, pois o Eu vai superar o Nós numa disputa individual para conquistar o próprio lugar ao sol, e o “princípio da vida” se converterá no início das afrontas. Nessa guerra, a ação correta é uma arma letal aos que buscam a vitória, pois nem mesmo o amor, que concentra suas forças para iluminar e mover o mundo, sobrevive para que a paz reine entre os homens, para que a não violência seja um hino cantado por todos os povos.

Nesse clima de tensão, valores relativos podem equilibrar e ser uma perspectiva de resgate dos valores humanos perdidos através dos tempos, pois o relativismo facilita a compreensão dos valores absolutos, a principiar pela verdade, que deve ser plena até o limite da justiça, para que a ação correta estimule a humanidade a compartilhar o seu valor mais sublime: o amor.

É preciso absolutismo para que valores absolutos, como respeito, amor, afeto e dignidade sejam trabalhados. Para que valores intrinsecamente relativos sejam ressaltados com o propósito de discernir e equilibrar os relacionamentos. Somente, então, a construção da cidadania cultural acontecerá, e, assim, a Educação conseguirá direcionar o humano para crescer no seu próprio universo.

A afronta está lançada, e o sistema terá que encontrar alternativas coerentes por meio de políticas educacionais, principalmente para a Educação Básica, e, a partir de então, proporcionar um ensino que desenvolva competências, sem afastar o educando das suas bases sociais, culturais e familiares.

Nessa transição, o envolvimento de todos aciona a bússola que estabelece diretrizes, bases, e estas não podem ter efeito “corretivo” para evitar que a história de vida do educando seja extinta. A escola tem que ser ponte para interligar sonhos com realizações, e não abismo, em que valores e tradições são disseminados no universo do nada.

Desafios e desacertos da Educação…

O agir da Educação é fundamental para monitorar comportamentos e direcionar a aprendizagem por um terreno onde ser e existir não impeçam o indivíduo de chegar… Pois sua verdadeira função é gerenciar, por meio de técnicas pedagógicas, a construção do conhecimento, transformando as ações em sala de aula em instrumentos do saber.

Contudo, a Educação, por obedecer a um sistema que não se decide, conserva-se na contramão e, completamente desprovida de estrutura e sem rumo definido, passa a bola, incumbindo à Pedagogia a missão de descobrir uma fórmula que realmente dê certo, para, então, compreender o porquê das influências socioculturais se inter-relacionarem no comportamento e, consequentemente, no coeficiente de aprendizagem. Esta, que se origina do grego paidós (criança) e agogé (condução), fecha os olhos e aciona o piloto automático por acreditar na sua habilidade para guiar a Educação, por ser a ciência do ensino.

Para agradar a todos, é engenhosa na edificação da plataforma futurista. A destra condutora expõe um cardápio exótico com uma pitada científica, incrementos antropológicos preparados à moda filosófica, e, quando servidos, a escola se depara com um pirão à brasileira. Na primeira garfada, provoca alergia, ruindo os próprios pilares do conhecimento, exatamente por não respeitar a ciência do seu cliente — o aluno.

É nesse instante que se percebe a dimensão do desacerto: a escola não cumpriu o seu papel social, a Educação não atingiu a sua meta. Pelo fato de a escola e a Educação não terem modernizado suas ferramentas para receber a geração fast-food, que avança esfomeada do novo, as readequações, as TICs e a chuva de programas foram insuficientes para originar o desenvolvimento cognitivo, pois o sistema entrega os pacotes — de programas — nas mãos dos gestores com um sorriso radiante e um amistoso “se vira!”, e a escola se maquia para dissimular a exclusão disseminada em medidas distribuídas na grade curricular.

Como a retentiva é colocar remendo novo em tecido velho, camuflar se tornou a veia de escape, e, assim, caminhos paralelos são abertos para ampliar a exclusão enrustida na promoção automática, pois, dessa forma, ninguém fica para trás — não importa como se chega —, uma vez que a flexibilização da avaliação escolar é uma forma sutil de dizer àquele aluno esquecido no fundo da sala para elevar sua autoestima: “Eu sabia que você conseguiria!” e de fechar o ano com chave de ouro ao salientar a pais e comunidade que escola é realmente um local de transformação.

O fato é que o relativismo na Educação é uma resistência que deve ser rompida. Pois, na verdade, tudo é relativo. Se quisermos contabilizar vitórias, a Matemática nos oferece os números relativos e, mesmo no cotidiano, é constante a interferência do relativo para que valores não sejam aniquilados.

No universo educacional, o relativismo se ressalta num ponto crucial: a ética — tão ausente nos locais de trabalho e, principalmente, no espaço escolar. O relativismo lança mão dessa ferramenta exatamente para que bem e mal possam ser abstraídos e, assim, mantidos nos seus devidos ambientes, para defender a veracidade por meio de análises de fatos e circunstâncias, ao ponto de salientar que a verdade absoluta poderá até imperar, mas mediada pela justiça.

Minerva-Studio_1319008_optAnte os desafios, responsabilidade, respeito e comprometimento devem ser adicionados para encarar a Educação como processo de fomentação de valores, e não devemos dar vazão às falácias de que o desequilíbrio familiar dificulta, o crescimento populacional superlota as escolas, o professor não tem suporte, aporte e ainda é desmotivado pelos baixos salários e pelas péssimas condições de trabalho.

O desequilíbrio familiar vai até o limite do doer no bolso, pois esse entrave não impede os pais de enviarem os seus filhos para a escola — para não perderem o Bolsa Família. Se doer em outro ponto, muitos descobrirão o endereço da escola com lufa-lufa para assumirem suas obrigações na formação do filho; a superlotação é crítica, leva o educador ao delírio, mas a China, por exemplo, que representa 20% da população humana do planeta e possui uma grande diversidade — mesmo com a sua Educação sendo paga e com a sua gama de problemas sociais, determinou metas e conciliou desenvolvimento econômico com crescimento humano, a ponto de atingir o topo mundial no teste que avalia a capacidade cognitiva do aluno.

Se o Brasil é especialista em importar tendências, deveria seguir exemplos que deram certo, como o sucesso dos chineses, que não foi por acaso, mas devido ao respeito à cultura, às tradições, à religião, bem como ao investimento que fizeram em treinamento, valorização profissional, entre outros pontos de relevância sociopolítica e econômica para o país. Mas o X da questão — que é a maior dificuldade da nossa educação — é correlacionar valores relativos com absolutos, pois absoluto e onipotente é o sistema, que atropela culturas, tradições… o próprio educando.

E a ponta do iceberg está visível: a Educação não é prioridade e, por não ser encarada como valor absoluto, ninguém é intimado para assumir seu posto num processo que exige comprometimento da sociedade, da família, do educador, do governo… do sistema. O Bolsa Família fixou o aluno na carteira, mas estar na sala de aula no “País dos Bolsas” não está sendo sinônimo de aprendizagem, muito menos de desenvolvimento humano.

A LDBEN e a pluralidade culturalAlexander-Raths_964512_opt

Não é complicado correlacionar relativismo com Educação. O sistema, que muitas vezes age impulsionado pelo combustível político, rompe os limites demarcados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que constitui uma direção determinada. Pois o homem, na estuação de atingir a culminância, recorre a artifícios, e estes induzem a universos cuja perfeição está além do potencial humano.

Dizer se isso é certo ou errado pode ser heresia, pois, no confronto entre fé, cultura e tradições, geram-se contradições — muitas burlescas —, visto que a própria lei permite-se ser interpretada para, assim, se fazer justiça, mas, quando o alvo é fazer justiça, o homem se esquiva da lei, lança mão de insídias, como acreditou Aristóteles:

O homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da justiça. Logo, quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais e o pior em relação ao sexo e à gula.

Essa degeneração reflete na identidade da escola, que se distancia da família, do professor… Do próprio aluno. O pedagogicamente certo é acatado pela instituição de ensino por confiar que o absolutismo científico é o correto. Mas a escolha equivocada vem provocando a desordem, em que o descaso e o atropelamento de valores, principalmente os familiares, são constantes, pois os relacionamentos professor-aluno, professor-gestor, escola-família-comunidade são cada vez mais tensos.

Que saudade da “professorinha” que tinha autonomia, apoio da família, do sistema e, mesmo sem a valorização salarial, apesar da deficiência de recursos didáticos, cumpria metas, atingia propósitos. Pois o amor pela profissão se tornava um diferencial em sala de aula, e o respeito ao Eu do aluno era a mola propulsora que projetava o crescimento da aprendizagem.

É preciso investir no cliente da Educação para, assim, valorizar esse capital de bens culturais no mercado educacional e para que essa moeda, o aluno, tenha uma formação, e não uma sobrecarga de conteúdos.

Para atingir esse propósito, basta empenho, pois, hoje, a Educação é servida com pratos de primeiro mundo: profissionais aptos a exercer a função, escolas equipadas e readequadas, livros, computadores, Internet… São tantas opções de recursos didáticos e pedagógicos que o educador se confunde nas escolhas, pois poucos reservam um tempo para analisá-los por julgar em que “aluno é aluno, qualquer coisa o entretém. O importante é chegar ao final do ciclo”.

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Desse modo, o progresso não acontece. Pois os avanços vão até se refrearem nos limites demarcados pela lei. Cada um cumpre suas obrigações, e fica tudo lindo nos relatórios. Mas um país não pode viver de leis e maquiar a Educação com números e cifras para dissimular a carência de bons educadores.

Os resultados salientam que apenas formação, capacitação, recursos didáticos, tecnologias e salários não formam bons educadores. Bons educadores se formam com conhecimento, sim, mas se complementam com obrigações desempenhadas através da Educação, com respeito ao Eu do aluno, para que sua dignidade não seja esmagada e espargida por salas e corredores.

Sabemos que nossa sociedade vive a era do caos: caos familiar, social, econômico, político; que o educador realmente necessita de mais respeito, dignidade, formação, melhores condições de trabalho; e que, mesmo falho, o sistema de ensino não para, pois sua busca por respostas é constante.

Por que não fazemos melhor? Por que as discussões em torno das questões multiculturais têm ocupado um ponto de destaque no contexto da sociedade contemporânea?

A LDBEN, mesmo com diretrizes concretas, não concilia educação com multiculturalismo. Como o alvo é uma meta obrigatória, corre para todos os lados, e não atinge o alvo plural; assim, esbarra nas dificuldades para inserir a diversidade cultural no contexto educacional, intensificando a proliferação do preconceito.

É preciso ponderação, responsabilidade, desenvoltura e competência para edificar uma plataforma em que o conhecimento possa transformar comportamentos e certificar que eu não sou apenas mais um “sem lenço e sem documento” no seio de uma sociedade. Sou cidadão que necessita ser ouvido, pois a minha voz é a minha cultura, a minha religião e, por mais excluído que eu seja, faço parte de um grupo. Grupo que necessita de abertura para que a minha cultura e minha etnia sejam ressaltadas.

O norte já existe. Se os propósitos da LDBEN forem cumpridos, avanços surpreendentes acontecerão. O fato é que LDBEN e Educação não falam a mesma língua, e, com esse bilinguismo, a pluralidade cultural deixa de ser explorada no espaço escolar, pois as Diretrizes Curriculares Nacionais — que delineiam a formação de professores da Educação Básica, do Ensino Superior, de cursos de licenciatura, graduação plena — não são cumpridas.

Muito pouco foi feito. Os discursos brilhantes que ratificam:

“[…] reforça-se, também, a concepção de professor como profissional do ensino que tem como principal tarefa cuidar da aprendizagem dos alunos, respeitada a sua diversidade pessoal, social e cultural” (Brasil; 2002, p. 06).

Essa proposta, de tão tentadora, despertou sonhos, acerou sentidos. O projétil vai atingirem cheio o alvo. Dessa vez, a Educação trilhará o caminho que proporcionará o crescimento humano, pois a bússola LDBEN retém dispositivos capazes de traçar caminhos seguros, ao ponto em “[…] que aprendam a diferenciar o espaço público do espaço privado, ser solidários, cooperativos, conviver com a diversidade, repudiar qualquer tipo de discriminação […]” (Brasil; 2002, p. 07).

Só que o sistema não contava que a bateria antiaérea da sociedade retém tecnologia para rastrear cada milímetro do seu espaço e destruir qualquer objeto que facilite o coexistir com a diversidade. E, como o alvo é o novo, o diferente deixa de ser para se tornar, tão somente, mais um, cuja voz não ecoa para que a sua cultura e seus valores sejam ressaltados.

Na prática, quais as consequências da influência do relativismo aplicado à Educação a curto, médio e longo prazo?

O relativismo na Educação, mesmo num processo de curto, médio e longo prazo, exige precaução para não atingir o Eu do educando. Como o desafio é exatamente não arraigá-lo do seu universo, é nesse terreno que o relativismo, principalmente religioso e cultural, entra em ação, salientando que a “minha” religião e a “minha” cultura são corretas e que, por serem “certas” e “eficazes”, podem instigar desentendimentos.

A escola terá que romper uma barreira de paredões, pois o relativismo, no ápice da sua radicalidade, subdivide e, como a escola não tem estrutura para atender uma sociedade multicultural, costura uma colcha de recortes, para, assim, camuflar os conflitos.

Temos que admitir: o planeta se rendeu à contemporaneidade. Pensar a longo prazo já é permitir que educandos da escola do presente sejam usados como cobaias, pois estabelece ao educador que decole e se enverede por essa rota para educar uma sociedade regida por influências que dominam, muitas vezes excluem, devido às oscilações provocadas pelo desequilíbrio familiar, abrem caminhos colaterais e levam às drogas, à prostituição, estimulam a violência e afiançam a corrupção, que se tornou uma ferramenta de injustiças.

Ivelin-Radkov_11692370_optEssas mudanças e transformações exigem que o educador da contemporaneidade se refaça para cumprir a missão de reconstruir vidas. Sim. Reconstruir. Pois transferir conteúdos não é o bastante e, mesmo adotando processos que passam valores, princípios, não atendem anseios. Levar a missão a cabo estabelece ir além, desempenhar papéis que são exclusivamente da família.

É nesse ponto do processo educacional que o relativismo pode abrir abismos, pois, se o educador não for prudente, poderá introduzir a sua visão de mundo no universo do aluno e, displicente, aniquilar sonhos. Pois o sistema, muitas vezes, esquece que o Eu do educando tem suas expectativas, suas reservadas ideologias, por ser um mundo imaginário que busca se materializar por meio da Educação.

Assim, o relacionamento entre Educação e relativismo deve ir até o limite em que educador e educando reconheçam que o Outro é um mundo de valores peculiares e essas mudanças exigem pressa. A globalização avança planeta adentro com passos ágeis, e a escola não poderá ignorar seus efeitos, que compactam a sociedade por meio das migrações contemporâneas, enquanto estas descompactam culturas e disseminam etnias.

E, quando o relativismo não é respeitado, o educador se converte num vilão etnocêntrico e entra em cena para inverter o enredo: “É assim que eu quero” e é exatamente assim que prevalece, impedindo que a relativização amplie a ótica do educador para vislumbrar um universo que, muitas vezes, pede para ser compreendido e respeitado pelos próprios valores. Como acredita o antropólogo Franz Boas: “Cada ser humano vê o mundo sob as perspectivas da cultura em que nasceu”.

Culturas, tradições devem ser respeitadas e, mais, ressaltadas no espaço escolar como patrimônio de um grupo, de um povo… Mas é preciso ação — pedagógica — para que o universo do aluno não seja bombardeado. Esse mundo é um satélite com sonhos e sentimentos, e não um HD que permite ser formatado e reinstalado com programas inovadores. O Eu é único. Tem limites e limitações. Ampliar a memória para expandir a velocidade pode ser fatalidade. Pois esse mundo é um misto de cultura, religião, valores familiares, e não um vírus. Portanto é identidade, e identidade não pode ser excluída.

Culturas, tradições devem ser respeitadas e, mais, ressaltadas no espaço escolar como patrimônio de um grupo, de um povo… Mas é preciso ação — pedagógica — para que o universo do aluno não seja bombardeado.

É inevitável que, em tudo, absoluto e relativo estejam presentes. Até mesmo a Matemática, com suas complexas operações, exige o relacionamento entre absoluto e relativo e nem por isso deixa de obter resultados exatos. É importante que o absolutismo se projete, mas com valores relativos a uma formação sólida, para que a Educação seja balanceada de valores humanos e disseminada em mentes férteis que buscam o aprender como referência para uma vida de conquistas e, assim, permita que o amor, o respeito e a cordialidade sejam semeados, mesmo com bases pedagógicas, mas que consinta que o ser do Outro seja respeitado.

O relativismo nos ajuda a entender que educação não é escolarização, que informação não são valores e aponta de quem é a responsabilidade de regar princípios para formar indivíduos ativos: a própria história de vida. É nessa trajetória que o humano arma a sua estrutura com valores colhidos no seu devido tempo, e essas porções não são entregues numa embalagem, cada um se encarrega de concentrar a sua dose. Absorvê-los exige proximidade para tocar, momento para sentir e liberdade para viver. Essa gama de valores sociais, culturais, religiosos, familiares só se agregam ao humano por meio do convívio.

Relativismo direcionado educa, amadurece, capacita o humano para os desafios do mundo, pois o mundo que o rodeia não é um mero espaço de relacionamento social, é um universo em que valores e tradições se produzem, reproduzem, brotam, florescem e alimentam o humano, que não apenas se fortalece, torna-se condutor responsável por transportar esses denodos às novas gerações. Como acredita Martinelli (1996, p. 15): “A vivência dos valores alicerça o caráter e se reflete na conduta como uma conquista espiritual da personalidade. No dinamismo histórico, os valores permanecem como herança divina em cada um de nós, apontando, sempre, na direção da evolução pelo autoconhecimento. Nesse grandioso drama humano, criado por nossos erros e acertos, os valores abrem espaço e trazem inovações essenciais para a sobrevivência da espécie e o cumprimento do papel do ser humano na criação. Vivemos tempos críticos, violentos e desesperados; isso acontece devido ao fato de a humanidade ter esquecido seus valores e tê-los considerado até ultrapassados e desinteressantes”.

Acredite, educador. Acredite que o seu potencial é capaz de superar diferenças, pois somente assim a escola atrairá para a sala de aula o diferente. E, quando o diferente é acolhido, aceitam-se a cultura, os valores, a religião, o Eu do Outro.

O relativismo, mesmo sendo uma doutrina para muitos, educa pela liberdade, e, quando a liberdade impera, transforma o espaço escolar num local de questionamentos e respostas onde sonhos ganham asas e desejos são realizados. E, quando desejos se realizam, humanos são mais felizes, e isso só acontece com educadores que retêm habilidade para transitar entre o certo e o errado, o falso e o verdadeiro, sem extrair as essências do indivíduo, de tal modo que conduza o educando pelo caminho que o leva à vitória. Assim, seja relativista, pois, quando Relativismo e Educação conseguem caminhar juntos, a escola se torna um ambiente atrativo, sedutor, e mundos ganham tons, cores, vidas, pois esses mundos dependem do seu agir para se tornarem planetas independentes.

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