Edição 60

Mensagem inicial

Remodela-me, senhor!

Regina Célia Suppi

Desci à casa do oleiro a fim de encomendar um vaso.

No momento em que esperava para ser atendido, meus olhos admirados passeavam de um objeto a outro, encantados com sua beleza. Foi quando reparei, em um canto, um pequeno pedaço de barro.

Pareceu-me abandonado. Aproximei-me e, ali mesmo, fui testemunha de uma coisa espantosa.

— Remodela-me, senhor! — repetia com ar sofredor a pobre criatura.

Impressionado, dirigi-me ao oleiro:

— Amigo, sempre apreciei teu trabalho. Como todos sabem, a melhor obra é a que sai de tuas mãos. No entanto, recuso-me a acreditar que, por mero descuido, relegaste um pequeno pedaço de barro à mais triste solidão.

Ele me fitou em silêncio. A princípio, pensei que fosse condenar minha aflição, mas, após alguns minutos, pronunciou-se:

— Caro amigo, aprecio tua preocupação, porém o pequeno barro de nada me serve, garanto a ti que não tem jeito, não.

— Como assim? Recuso-me a acreditar que tão hábil oleiro não saiba o barro aproveitar.

— Julgaste-me mal. Este barro é que é um enganador, garanto que milhares de vezes o tomei entre as mãos e, todas as vezes, decepcionado, vi-me forçado a abandoná-lo. É impossível trabalhar com ele, e, se o deixo perto de mim, é porque mesmo assim o amo de coração.

— Mas que defeito tão grave é este?

— É simples. Não se deixa modelar.

— Entendo! — exclamei desconcertado.

Nesse dia, deixei a olaria pensativo.

Quantas vezes pedimos, imploramos… e não sabemos aproveitar as oportunidades que a vida nos dá? Cada dia uma nova porta se abre à nossa frente. Cada dia somos chamados a fazer a experiência da ressurreição. Podemos aceitar o convite e caminhar ou ficar parado, olhando mais uma porta fechar-se.

— Remodela-me, senhor! — repetia o pequeno barro.

Será que ele queria ser mesmo remodelado? E você?

Revista Família Cristã. Ano 67, nº 786.
Junho de 2001.

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