Edição 102

Como mãe, como educadora, como cidadã

Respirar primeiro não é um gesto egoísta

Zeneide Silva

“Na vida, como nos aviões, devemos colocar primeiro a máscara de oxigênio em nós.”
José de Almeida

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“Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão automaticamente do compartimento acima de sua cabeça. Por favor, coloque a máscara de oxigênio primeiramente em você antes de auxiliar crianças pequenas e outras pessoas que precisem de ajuda.” Se você já fez um voo de avião, certamente já ouviu essa mensagem. Caso ainda não tenha tido oportunidade, ela faz parte dos avisos de segurança aos passageiros em caso de uma emergência.

Com o nosso instinto natural de mulher e mãe que há em nós, é complicado atender à orientação dada dentro dos aviões. Parece uma contradição, pois, nas filas para embarcar, os adultos acompanhados de crianças têm prioridade. Mas temos a certeza de que a orientação dada dentro dos aviões tem lógica, sim: como poderíamos ajudar quem quer que seja estando sufocados, desmaiados ou despressurizados?

Temos que viver uma vida verdadeira, primeiramente cuidando de nós mesmos. Seja o que for, comece por você.

-Quer ser respeitado? Respeite a si e aos outros.
-Quer ser bem atendido? Faça o mesmo.
-Quer que as pessoas estejam motivadas? Aprenda a se automotivar.

Para fazer a diferença na vida e no trabalho, uma boa medida é liderar pelo exemplo, porque ninguém dá o que não tem.

É simples, mas é isso: se você não consegue respirar, você não vai conseguir ajudar ninguém. Se você não se amar primeiro, não vai conseguir amar ninguém nem ser amado como merece. Se você não for feliz, não vai conseguir fazer ninguém feliz.

Então, prezado educador, não se sinta culpado por pensar em si próprio. Cuide do seu espírito, do seu humor. Arrume seu dia a dia. Quando estiver tudo organizado consigo mesmo, vá em frente e mostre aos outros como se faz.

Concluo fazendo uma reflexão de uma pequena história que encontrei em minhas histórias. Eu acompanhava o trabalho de um vendedor quando começou a chover e nos abrigamos em local próximo. Dali a pouco, chegou correndo um menino, com seus nove ou dez anos, carregando uma caixa de picolés. Impaciente com o clima, fez do isopor um pêndulo, movimentando-o de um lado para o outro. Simpatizei com o jeito dele e iniciei uma conversa, dizendo: “Assim não vai sobrar nenhum picolé pra você vender!”. E ele argumentou, mostrando o interior da caixa: “É que não tem nenhum picolé aqui!”.“Mas você não quer vender?”, perguntei. “Sim, mas com esta chuva ninguém vai querer comprar”, respondeu ele. Talvez, por força do hábito, eu tenha pretendido ensinar algo e falei: “Que pena. Se você tivesse picolés, mesmo com chuva, já teria vendido pelo menos dois aqui”. A chuva passou, e seguimos trabalhando. Quando, lá pelas tantas, vem ao nosso encontro o menino, abre um lindo sorriso e diz: “Ainda bem que consegui encontrar a senhora. Agora já tem picolés na minha caixinha!”. E foi com satisfação que relembrei a minha infância e o ajudei a vender todos eles para os vendedores ali reunidos. Afinal de contas, ele mereceu, porque atitude também é conteúdo e oxigênio.

cubos