Edição 41

Matérias Especiais

Vamos Aprender a Estudar

Reinilda Maria Salgado

INTRODUÇÃO

O conhecimento de técnicas de estudo é condição básica para uma boa aprendizagem. O estudo visa a desenvolver o homem para integrá-lo na sociedade, na qual deve ser uma força atuante: ser mais para servir melhor. O estudo é um processo de apreensão ou captação de dados, de retenção e evocação, de integração e de ação ou aplicação para resolver problemas novos. Deve-se estudar, principalmente, por não haver outro meio de saber. Para aprender as relações do sentido, através de um material misto, sensorial e simbólico, precisamos esforço e perseverança. Temos, então, que compreender e executar a aprendizagem sistematicamente, e não só fazer esforço mental; é preciso ter concentração e atenção para captar elementos de leitura.

As técnicas de estudo são várias. Além das aulas, usam-se também resumos, pesquisas, esquemas, anotações em aula, dicionários, fichas, etc.

1 LEVANTAMENTO DOS HÁBITOS DE ESTUDO

Para se introduzirem técnicas de estudo, o primeiro passo a ser dado é o diagnóstico dos hábitos de estudo dos alunos. A partir daí, as técnicas serão introduzidas e desenvolvidas gradativamente.

Esse trabalho poderá ser feito através de um levantamento de opinião que levará, posteriormente, a uma sensibilização dos alunos no que se refere à sistematização de seus estudos.

2 COMO PARTICIPAR DAS AULAS

Depois de ter feito o levmento e a sensibilização para o treinamento das técnicas de estudo, serão dadas sugestões quanto à participação nas aulas, que podem estar em um texto, e será realizada uma posterior dramatização para melhor assimilação do quadro.

2.1 Pontos Principais a Serem Abordados

Vontade de participar das aulas.
Freqüência e pontualidade.
A conversa com os colegas.
Atenção dispensada ao professor.
Barulho incômodo.
Explicação não compreendida.
Perguntas desnecessárias.
Brincadeira.

Nas aulas, não basta a presença física; é preciso aproveitar ao máximo, com espírito ativo:

Preste toda a atenção possível, concentre-se, evite asdistrações.
Faça perguntas a si e ao professor.
Anote o assunto, suas reflexões e os pontos interessantes.
Sublinhe as passagens importantes.
Complete o texto em vista do que foi exposto na aula.

3 COMO ESTUDAR EM CASA

Outro grande problema para os estudantes são as atividades extraclasse: os estudos para as provas.

3.1 Pontos Principais a Serem Abordados

3.1.1 Escolha do local

O local deve ser cômodo para estudar, ser claro, arejado e silencioso.
Não estude diante de TV, rádio, etc.
Evite ruídos e distrações.
Organize seu local de estudo.

3.1.2 Posição

Devemos ter a preocupação de não procurar sofás, camas ou lugares que nos permitam deitar, que nos convidem ao relaxamento. É preciso criar disposição para o estudo.

Deve-se obedecer a pequenos detalhes:

– Sente-se de forma ereta em frente a uma mesa, numa cadeira dura, com encosto, observando a postura correta para estudar.

– Afaste todas as preocupações e concentrar-se no que está estudando.

3.1.3 Concentração

As pessoas vivem se preocupando com várias coisas ao mesmo tempo. Mas, na hora de estudar, isso não deve acontecer. Procure concentrar-se. Se não conseguir, tente escrevendo numa folha o assunto estudado. Aos poucos, sua atenção virá para o que lê.

Observe os seguintes detalhes:

– Estabeleça uma seqüência dos assuntos estudados.
– Preste atenção apenas no que você vai estudar.
– Evite pessoas, lugares e circunstâncias que provoquem distrações e tensões emocionais.
– Tire da cabeça — e, mesmo, da mesa — tudo que não diz respeito ao que vai ser estudado.
– Tente não deixar que suas preocupações o perturbem na hora de estudar.

3.1.4 Horário

É necessário que se faça um roteiro para bem estudar.

Deve-se fazer uma previsão para o dia seguinte, mas também para o dia de hoje, em especial. Ver os horários de estudo, de folga e o tempo disponível para as prioridades.

– Elabore um roteiro semanal de estudo.
– Veja o mais importante, o mais urgente, o mais demorado.
– Determine o tempo destinado a cada uma das disciplinas, evitando períodos intensivos de estudo.
– Observe o horário em que você produz mais, a fim de evitar o cansaço, o desinteresse.
– Intercale as matérias. Não estude matérias muito parecidas em seqüência.
– Estude primeiro as matérias em que você tem mais dificuldade, depois mude para outra em que tenha mais facilidade.
– Estude todos os dias no mesmo horário e, de preferência, no mesmo local.
– Faça modificações no seu planejamento sempre que julgar necessário.
– Deixe lugar para um imprevisto e tempo para compensá-lo.
– Faça pequenos intervalos de descanso.

4 TÉCNICAS DE ESTUDO

4.1 Resumo

O resumo não é só um esquema. É também uma interpretação do que foi dado. Para um bom resumo, usamos algumas técnicas a fim de captar a idéia principal e os detalhes, como sublinhar e colocar setas ao lado dos assuntos importantes.

4.2 Esquema

Fazer esquemas ajuda e obriga a participar mais ativamente da aprendizagem.

Para saber se entendemos ou memorizamos, é bom repetir. No esquema, essa repetição é feita para se usar em seguida, quando for repassar a matéria.

4.3 Anotações em Aula

Tomar nota é essencial para um estudante. Daí a importância de fazer isso desde cedo.

– Deve-se ter rapidez, através da utilização de abreviaturas e sinais próprios, e procurar captar o essencial.
– Não precisa escrever muitas notas nem deve haver elementos supérfluos.
– Não tome notas esparsas, mas estruture as idéias — se possível, usando palavras próprias. Por isso, não copie apenas o que está escrito no quadro.
– É fundamental isto: trabalhe as anotações, complementando-as com as de dois ou três colegas, pois a pesquisa e a discussão ajudam a suprir o que se perdeu, a entender melhor, a memorizar mais.
– Faça isso o mais cedo possível, enquanto ainda entende a letra.
– Dê às notas o aspecto pessoal que corresponde à maneira como o seu espírito captou (e vai poder reter e evocar) o conteúdo do curso.

4.4 Fichas para Documentação Pessoal

As fichas, quando bem organizadas, servem de base para novas idéias, boas associações, futuros descobrimentos.

As anotações feitas em fichas são melhores do que as em cadernos: o fichário é vivo, dinâmico. Quando uma ficha se torna inútil, coloca-se outra no lugar.

4.4.1 Tipos de ficha

– Ficha organizada: é a anotação do essencial de um livro ou um artigo, com indicações de autor, livro, página, etc. Fazê-la é um bom exercício intelectual, que ajuda a memória, facilita voltar à fonte, condensa o que é valioso do texto e exige método e síntese.
– Ficha hierarquizada: utiliza a técnica de resumo e esquema e indica as idéias principais e secundárias do livro, estruturando-as e dando-lhes a importância proporcional a seu valor.

4.4.2 Elaboração da ficha

– Tamanho: há vários tipos: 20 cm x 12,5 cm; 20 cm x 25 cm; etc.
– Pode-se escrever dos dois lados da ficha (no verso, de cabeça para baixo).
– O cabeçalho deve trazer o título e a fonte destacados do resto. As continuações repetem o título, o primeiro elemento da fonte e o número da ficha (2, 3, etc.).
– Transcrever os dados exatamente, para não perder tempo procurando a fonte.
– Indicar com aspas (“ ”) as citações do autor; com um asterisco (*), os resumos; e com barra dupla (//), as idéias pessoais, não as do livro.

4.5 Estudo Dirigido

Os estudantes não devem decorar para passar de ano, mas incorporar o conhecimento novo ao que já possuem. Isso é complexo e supõe orientação que lhes dê segurança, método de trabalho, técnicas de assimilação e disciplina intelectual.

O estudo dirigido ajuda a iniciar o estudo. Ativa todos os meios sensoriais possíveis: motiva o aluno, anima-o no desânimo que começa a chegar com o cansaço, ensina-o a usar os elementos auxiliares (dicionários, leituras de tabelas e gráficos, etc.) e a interpretar fórmulas e regras. O estudo dirigido pode ser feito em grupo ou individualmente.

As indicações gerais para os dois tipos são as seguintes:

– Fase inicial, de esclarecimento e motivação, de distribuição do material e de indicação clara do que se visa.
– Fase de acompanhamento dos estudos da turma (pelo professor) para conduzir aos resultados do trabalho.
– Fase de conclusão para corrigir os resultados, avaliar o trabalho e sugerir modificações.

4.6 Estudo Eficiente e Técnicas de Estudo pela Leitura

A eficiência do estudo depende do método, mas este depende de quem o aplica (de sua capacidade, tipo de personalidade, feitio de inteligência, experiências e hábitos). O método do estudo eficiente tem finalidade, abrangência e processamento.

4.6.1 Finalidade

Desenvolve hábitos válidos, pelo processo de transferência, para todas as situações da vida.

4.6.2 Abrangência

Serve para todas as necessidades e interesses, em qualquer nível de escolaridade, podendo ser melhorado por recursos próprios.

4.6.3 Processamento

– Fazer leitura do texto, questionando: “quando”, “onde”, “por quê”, “como”, “qual”, “quem”, etc.
– Fechar o livro e escrever todas as informações que conseguir memorizar.
– Comparar o resumo com o texto original: número de informações importantes, seqüência lógica das idéias.
– Avaliar a leitura: tempo gasto, qualidade do resumo.
– Atitude para a leitura: posição do corpo, do livro, concentração e questionamento (ressonância).

4.6.4 Como se concentrar

A atenção depende do interesse e da disponibilidade dos sentidos (concentração da visão e da audição para maior captação de informações).

Como canalizar o interesse:

– Leia os títulos do tema a ser estudado, deixando que o assunto se revele.
– Descubra por que estudar o assunto. Ex.: Vou estudar os aparelhos e os sistemas do corpo humano para me conhecer melhor e entender o funcionamento do meu corpo.
– Coloque o corpo em posição correta, concentrando a visão e a audição.
– Leia o texto e avalie: número de motivos encontrados para o estudo, tempo gasto na leitura, número de informações dadas, qualidade do resumo.

4.6.5 Como enriquecer o vocabulário

Jogos para verificar o nível do vocabulário:

– Escreva, em 1 minuto, o máximo de nomes próprios que conhece iniciados com a letra A.
– Escreva, em 1 minuto, o máximo de nomes de objetos domésticos que estão na memória.
– Escreva, em 1 minuto, o máximo de nomes de espécies de animais domésticos que possam ser lembrados.
– Escreva, em 1 minuto, o máximo de nomes de alunos da classe.

4.7 Estudo em Grupo

O trabalho em grupo pode ser espontâneo ou provocado (procurado pelos alunos ou marcado pelo professor).

A participação do grupo consiste em:

– Fazer um esforço de cooperação, persuadido de que se vai fazer um trabalho inteligente.
– Respeitar os companheiros, de modo especial, ouvindo-os.
– Cooperar ativamente para o bom andamento da reunião, isto é, para seu progresso e seu término.
– Trazer sua contribuição inteligentemente, isto é, no tempo desejado (ordem do dia), sem perda de tempo (tempo de cada intervenção), tendo um senso vivo de comunicação.

Evitar:

– Julgar o grupo ou seu interlocutor.
– Dar conselhos muito imperativos.
– Negar sua contribuição pessoal ou demorar a falar.
– Ser orgulhoso.
– Dogmatizar.

4.8 Pesquisa

Mostrar que se deve ter uma imagem tão exata quanto possível de tudo o que se vai estudar antes de começar o trabalho com minúcias.

Para qualquer trabalho de pesquisa, valem estas normas:

– Deve ser um trabalho de pesquisa, não uma simples cópia (declarada ou não).
– Deve ser acessível quanto às fontes e aos trabalhos que vai exigir.
– Deve-se consultar mais de um livro, pois diferentes abordagens enriquecem o seu trabalho e facilitam a compreensão do assunto.
– Pesquise também em revistas: elas fornecem dados atualizados e bem ilustrados sobre temas diversos.
– Cite sempre a fonte de sua consulta.

Observe as seguintes normas para citação de bibliografia:

– Livros:

Sobrenome do autor (em letra maiúscula), seguido pelo nome.
Título do livro em negrito ou itálico.
Número da edição.
Cidade onde o livro foi editado.
Nome da editora.
Ano da edição.
Volume, capítulo e páginas consultadas.

– Periódicos:

Sobrenome do autor, seguido pelo nome.
Título do artigo, sem sublinhar.
Nome da revista em que está publicado (sublinhado, negrito ou itálico), editora, número, volume, mês e ano da publicação.
Páginas em que se inicia e termina o artigo.

CONCLUSÃO

Os métodos e as técnicas de estudo objetivam orientar o estudante, ajudando-o a racionalizar seu tempo de estudo, oportunizando, assim, um maior rendimento e tornando o estudo mais eficiente.

Deve-se lembrar da importância de uma auto-avaliação dos hábitos de estudo, às vezes insuficientes ou inadequados, quando não totalmente inexistentes, a fim de que o estudante faça uma tomada de decisão frente à sua forma atual de estudo. Ele precisa avaliar se é necessário adquirir ou reformular sua técnica.

O estudante deve tornar seu método de estudo uma coisa dinâmica e pessoal. Deve usá-lo de acordo com a sua realidade.

Fonte: Revista Pedagógica. Uma publicação da CTE. Consultoria Técnica Educacional. Ano IX, nº 52. julho/agosto/1991. p. 43-46.

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