Edição 114
Como mãe, como educadora, como cidadã
Vendedor de balões
Zeneide Silva
Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse.
Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho se soltar e se elevar nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões.
Havia ali perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões.
Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de vista.
O menino, de olhar atento, seguia cada um. Ficava imaginando mil coisas… Uma coisa o aborrecia, o homem não soltava o balão preto.
Então aproximou-se do vendedor e lhe perguntou:
— Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?
O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto este se elevava nos ares, disse:
— Não é a cor, filho. É o que está dentro dele que o faz subir.
Selecionando algumas metáforas para os lives de que venho participando, encontrei a do vendedor de balões. E refletindo um pouco sobre a pergunta do menino ao vendedor: “— Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?”, lembrei de dois momentos que passei em uma das minhas viagens a São Paulo. O interessante foi que os dois aconteceram no mesmo dia.
Indo para uma editora, peguei um táxi. Como de costume, gosto de sentar ao lado do motorista para irmos conversando. O senhor era alto, forte, paulista e negro. A conversa estava muito prazerosa, falávamos de família, de Deus, de seu trabalho, até o momento que ele começou a elogiar o genro, um rapaz trabalhador, honesto, e concluiu dizendo que era um negro com alma de branco.
Tomei um choque. Uma conversa tão prazerosa se tornou um silêncio profundo. Parei um pouco e falei: “Meu senhor, o que é isso ‘negro com alma de branco?’. Seu genro é bom pelas qualidades e valores que ele tem”. O senhor ficou repetindo que era assim mesmo.
Ao chegar no meu destino, agradeci e lhe disse: “Valorize a sua cor, sua raça, pois o ser humano vale pelo que ele é. Deixe de ser preconceituoso”.
Passei o dia pensando na ignorância desse motorista, “negro com alma de branco”. Quem pode aceitar isso?
De volta para o hotel, mais um taxista negro. Novamente, sentei-me ao seu lado e, entre o seu banco e o meu, vi a Bíblia, perguntei se podia ler algo para nós. Ele pediu o salmo 37. Li e refletimos um pouco. Falou de suas conquistas, sua família e acima de tudo de gratidão. Chegamos até a cantar.
Chegando ao nosso destino, perguntei se poderia receber um abraço dele, respondeu que sim, desceu do carro e nos abraçamos. Naquele abraço senti meu coração tocando no coração de um negro de alma negra.
Nossos alunos precisam de família e professores que acreditem no fim de todo preconceito.