Edição 85
Profissionalismo
12 de novembro: Dia do Psicopedagogo
Anita S. M. Pinheiro
Uma dupla homenagem: aos profissionais de Psicopedagogia e à educadora Maria das Graças Sobral Griz, a psicopedagoga referência na área.
Maria das Graças Sobral Griz (in memoriam) foi pioneira na Região Nordeste e autodidata nos estudos da Psicopedagogia e dos problemas de aprendizagem.
Pós-graduada em Psicopedagogia; professora de Modalidades de Aprendizagem do Psicopedagogo e de Psicopedagogia Clínica; coordenadora do curso de Pós-graduação Lato Sensu com Especialização em Psicopedagogia, realizado pela Universidade Católica de Pernambuco – Unicap, e pelo Centro Psicopedagógico de Atividades Integradas – Cepai; presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp – Seção Pernambuco (2010).
Fonte: http://www.cepai.com.br/sobre_personalidades.php
Falar sobre a Psicopedagogia e reconhecer a atuação de Graça Griz implica em certo pleonasmo. Isso porque essa profissional construiu, junto aos seus estudos, a história da Psicopedagogia em Pernambuco. Respaldada pelos estudiosos pioneiros da área (Sara Pain, Alícia Fernandez e Jorge Visca), a educadora e psicopedagoga, de atuação tanto na clínica psicopedagógica quanto nas intervenções psicopedagógicas institucionais, fez parte da construção do desenvolvimento, reconhecimento e institucionalização dessa área importante no processo de ensino-aprendizagem.
Em outras palavras, a história profissional de Graça Griz se confunde com a história evolutiva da Psicopedagogia. Tive o grande privilégio de ser sua aluna (turma 18), e, quando iniciou a aula de Introdução à Psicopedagogia, ela discorria com tanta segurança e precisão que me deixou em dúvida se estava falando de sua formação ou da contextualização histórica. Sua forma natural de passar os conhecimentos despertou em mim uma admiração por sua forma de “ensinagem” (como gostava de se referir). Em seguida, passei a entender que, além de educadora, psicopedagoga e escritora, a Graça Griz era uma eterna apaixonada pela área. Sua atuação extrapolava o papel de educadora dessa disciplina e a declarava propulsora desse conhecimento, através de seus estudos e suas práticas, mas principalmente pelo que concebia sobre a Psicopedagogia.
Entre seus vários artigos, citações e obras, ela propagava e ao mesmo tempo consolidava a essência da Psicopedagogia: um conhecimento em contínuo processo de construção. Também título de seu livro, esse seu pensamento sintetizava suas concepções sobre essa área de conhecimento, tanto no estudo teórico quanto nas aplicações da prática clínica e institucional.
Para homenagear o Dia do Psicopedagogo, em 12 de novembro, aos que escolheram essa profissão, deixamos aqui algumas das concepções de Graça Griz sobre a Psicopedagogia para reflexão com relação à nossa responsabilidade de continuidade dessa construção.
Os problemas seguiam o paradigma da época. Assim é que encontramos vários olhares, vários enfoques dirigidos à problemática da aprendizagem que davam o eixo da ação psicopedagógica: enfoque orgânico, seguindo o modelo médico e biológico (a Psicopedagogia atuava inicialmente com uma conotação curativa, uma vez que era usada para caracterizar uma prática terapêutica, apoiada no modelo médico de tratamento de crianças que apresentavam fracasso escolar); seguido das correntes psicanalíticas, recebendo influência do estudo do meio ambiente e da dimensão emocional; a volta à visão orgânica, agora numa abordagem psiconeurológica, quando então aparecem os reeducadores pedagógicos, fase esta bastante organicista, na qual as afasias, os DCMs, as disortografias, as dislexias, etc. entram em cena, sendo as vilãs dos problemas de aprendizagem, caracterizados como disfunção psiconeurológica. Na sequência, inicia-se a fase psicologizante, em que os vilões dos problemas de aprendizagem vinculam-se exclusivamente aos aspectos psicológicos. […] reduzindo os problemas de aprendizagem a uma ação psicologizante, constituindo-se numa visão ingênua, descontextualizada do social; após essa fase, entra em cena a fase sociologizante, na qual os estudos dos problemas de aprendizagem tinham como fundamentação os pressupostos da Sociologia, que teve como importância maior a atenção dos estudiosos para o contexto social. […] Todas essas visões se caracterizam pela intransigência, pelo radicalismo. No entanto, tudo isso serve de alerta para se analisar que os problemas de aprendizagem não têm uma única causa. Não basta que se descubra o eixo patológico na aprendizagem. É preciso conhecer o sujeito que não está aprendendo. É preciso saber que, por si só, uma área de conhecimento não soluciona o problema (GRIZ, 2009, p. 66, 67 e 68).
Foi através dessa base de conhecimentos que a psicopedagoga Graça Griz conseguiu passar para alunos, colegas de trabalho, família e clientes sua “ensinagem” de entendimento e prática psicopedagógica — constituída para nossa atuação, enquanto psicopedagogos contemporâneos —, expressa numa concepção geral que nos norteia:
A Psicopedagogia percorre espaços multidisciplinares, interdisciplinares e chega ao espaço da transdisciplinaridade. A aquisição do saber deixa de ser vista de forma fragmentada, e o estudo passa a ser do processo de aprendizagem do sujeito aprendente de forma global. A aprendizagem humana passa a ser analisada observando o sujeito nas suas dimensões diferenciadas: sujeito epistêmico, numa visão histórica do indivíduo como construtor de seu conhecimento, numa elaboração objetivante do conhecimento, através de esquemas do real; sujeito psicológico, numa visão histórica do indivíduo como ser de desejo, numa elaboração subjetivante do conhecimento, por meio de sistemas de significação. […] A Psicopedagogia, hoje com uma visão ampliada e baseada numa práxis retroalimentada por vários conceitos teóricos pertinentes, considera que para o sujeito manter uma relação vincular sadia com o objeto de conhecimento, é preciso que estejam articulados e em sintonia o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. Compete ao psicopedagogo criar espaços subjetivos e objetivos nos quais possa surgir a autonomia de pensamento do sujeito aprendente-ensinante/ensinante-aprendente (GRIZ, 2009, p. 69).
Bem, na verdade eu gostaria de propagar não a Psicopedagogia, pois isso nossa mestra Graça Griz já o fez em toda a sua trajetória, mas a própria existência dessa profissional, que nos deixou recentemente no dia 05 de setembro de 2015, só do plano terreno. Seu espírito de “ensinagem” se perpetuará na história da Psicopedagogia, em contínuo processo de construção, agora sob a nossa atuação, de qualidade e competência, fruto do aprendizado com essa mestra que nos deixa, além do legado teórico conceptivo, o exemplo de uma atuação profissional como psicopedagoga de referência.
Anita S. M. Pinheiro é psicóloga especialista em Desenvolvimento e Aprendizagem, Gestão Educacional, Administração com ênfase em Marketing Educacional, Formação de Professores, Psicologia Clínica Infantil e Psicopedagogia Clínica e Institucional. Consultora Interna Pedagógica da Editora Construir.
Contato: anitasilvapinheiro@gmail.com