Edição 15

Projeto Didático

A poesia é tradição, é folclore

Como fechamento do recital, selecionaram-se textos de domínio popular, destacando-se, nas várias modalidades, o aspecto do anonimato da literatura folclórica.

Duas adivinhas
José Paulo Paes

1
Subo e desço o dia inteiro
no dentista e no barbeiro.
Se elétrica, logo mato.
Mas, na eleição, me cobiça
todo e qualquer candidato…

2
Do direito, faço esquerdo;
do esquerdo, faço direito.
Bonito, me acho feio.
O de fora ponho dentro,
mas meu dentro está fora.
Quem sou eu? Me diga agora.

Respostas:
1. cadeira; 2. espelho.

Personagem: — Mas a gente não pode esquecer a poesia popular, não é?
Personagem: — Ah! Sim! Quanto encanto e quanta sabedoria há nas quadrinhas populares!
Personagem: — Pois é! O povo também cria e muitas vezes nem vem assinar!
Personagem: — E como é isso?
Personagem: — Só dizendo: o que é? o que é?
Personagem: — Isso é adivinha! Agora vou dizer uma parlenda, que é coisa que nem todo mundo conhece pelo nome!

Parlenda
Domínio popular

Hoje é domingo,
pede cachimbo,
o cachimbo é de ouro,
bate no touro,
o touro é valente,
bate na gente,
a gente é fraco,
cai no buraco,
o buraco é fundo,
acabou-se o mundo.
Amanhã é domingo,
pé de galinha,
a areia é fina,
que dá no sino,
o sino é de ouro,
que dá no besouro,
o besouro é valente,
que dá no tenente,
o tenente é valente,
que dá na gente,
a gente é valente
que senta o… no batente.

Domingo
Luísa Ducla Soares

Amanhã é domingo,
Toca o sino.
O sino é de ouro,
mata-se o touro.
O touro é bravo,
ataca o fidalgo.
O fidalgo é valente,
defende a gente.
A gente é fraquinha,
mata a galinha
para a nossa barriguinha.

Encadeadinho
Paulo Seben

Segunda-feira
falo besteira.
Besteira nada,
falo na fada.
Se a fada é boa,
falei à toa?
Toa não ouve,
não come couve…
Que houve comigo?
Não sei o que digo…

Personagem: — E você já viu o conto acumulativo?
Personagem: — Acumulativo? Por que acumulativo?
Personagem: — É porque nele as idéias vêm encadeadas, umas após as outras… É tão engraçado! Vejam só!

O Castelo de Chuchurumel
Recolha de Luísa Ducla Soares

Aqui está a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do casteloDe Chuchurumel.

Aqui está o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está o carniceiro
Que matou o boi
Que bebeu a água
Que apagou o lume
Que queimou o pau
Que bateu no cão
Que mordeu o gato
Que comeu o rato
Que roeu o sebo
Que unta o cordel
Que prende a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Aqui está a morte
Que levou o carniceiro
E que entrega a chave
Que abre a porta
Do castelo
De Chuchurumel.

Personagem: — E o trava-língua? Esse é um nó!
Personagem: — E vocês aí? Conhecem algum trava-língua?…
Pois diga que quero ouvir!!! (dirigindo-se ao auditório)
Personagem: — Lá vão dois pra vocês:

(Domínio popular)

Se o papa papasse papa,
se o papa papasse pão,
o papa papava tudo,
seria o papa papão.
Num ninho de mafagafos
cinco mafagafinhos há,
quem desmafagafar o ninho
bom desmafagafador será.

Personagem: — Meu Deus, que aventura! Acho que aprendi um bocado sobre a poesia infantil e suas modalidades!
Personagem: — É! E das populares, tem muito mais! Tem o cordel, o acalanto…
Personagem: — Sim, senhor! É o mesmo que cantiga de ninar…

Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa menina
Que tem medo de careta.

Personagem: — E as cantigas de roda? Como se diz lá em Portugal: as “cantilenas infantis”…?
Personagens: — Ah! Sim! Líricas, épicas ou satíricas são um encanto.
Personagens: — Então, vamos brincar de roda?
Todos: — Vamos!!! (todos brincando de roda no palco)

O cravo brigou com a rosa
debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido;
e a rosa, despedaçada.

Terezinha de Jesus
deu uma queda, foi ao chão.
Acudiram três cavaleiros,
todos três chapéu na mão.

Passarás, passarás,
o derradeiro há de ficar.
Se não for o da frente,
há de ser o de detrás.
Tenho dois filhos pequeninos,
não posso mais demorar, demorar…

Pai Francisco entrou na roda
tocando seu violão…
Vem de lá seu delegado,
e pai Francisco entrou na prisão.
Como ele vem se requebrando,
parece um moleque se desmanchando.

Eu fui no Tororó
beber água e não achei.
Achei bela morena
que no Tororó deixei.

Aproveita, minha gente,
que uma noite não é nada.
Se não dormir agora,
dormirá de madrugada.

Na cantiga Passarás, os alunos se dirigem ao auditório, interagindo com a platéia. Fecha-se a cortina, indicando o final da apresentação. No entanto, aparecem no palco a fada e o mágico, desta feita encerrando o recital.

Personagem: (fada) — Ei, pessoal! Olha aqui, ouçam bem:

O poema é uma bola de cristal.
Se apenas enxergares nele o teu nariz,
não culpes o mágico.
Mário Quintana

Personagem: (mágico) — É isso mesmo! Temos que descobrir os segredos da palavra:

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade

Personagem: (fada) — E aí, gente! Vamos todos brincar de poesia?
Personagem: (mágico) — É, vamos! É um convite! É Convite!
Todos: Recitação do Poema Convite, de José Paulo Paes, projetado no centro da tela ao fundo do palco.

Música: Aquarela – Toquinho e Vinicius de Moraes

Durante a música, todos voltam ao palco acenando, congratulando-se, aplaudindo, brincando…

cubos