Edição 96

Professor Construir

Alunos e professores: os tipos mais comuns

Içami Tiba

Quem atua no magistério há alguns anos certamente já cruzou com alguns tipos básicos de aluno. Mas existem, também, certos tipos de professor: com qual deles você se identifica?

A finalidade não é julgá-los, mas dar-lhes consciência para que possam se modificar.

A melhor aula é quando o aluno quer aprender e o professor quer e sabe ensinar

Qualquer aluno que deseja aprender de verdade aprende com professores, sem professores ou apesar dos professores. O aluno que quer aprender é grato ao professor que lhe ensina, absorve com facilidade o que ouve e digere com mais facilidade ainda as informações, transformando-as em conhecimento, praticamente sem exercícios.

O aluno que não tem professor, mas quer aprender, pode gastar muito tempo procurando o que quer aprender até “chegar lá”. Ele pode estudar bastante um tema, para chegar ao fim dele e, depois, perceber que o tempo seria o mesmo (e renderia muito mais) se tivesse estudado outro tema mais específico.

A escolha de um livro inadequado pode tirar o foco pretendido e, assim, desestimular o aprendizado. O aluno pode não compreender o que está escrito, mas, se um professor lhe explicasse um pouquinho mais, talvez esse aluno, num instante, teria o clique do aprendizado. O ouvir pode ser independente, mas o aprender depende muito da vontade do aluno. Se um professor não conseguir despertar a vontade de aprender no aluno, sua aula será praticamente inútil.

Existem professores incompetentes, que desestimulam qualquer aluno a aprender. Mas, mesmo assim, existem alunos que querem tanto aprender que acabam aproveitando, de algum modo, o que tais professores falam…

Ao escrever este texto, quis conscientizar os professores do quanto sua maneira de dar aula pode interferir no conteúdo dela. Como o relacionamento professor-aluno depende basicamente dos dois, a melhor aula é quando o aluno quer aprender e o professor quer e sabe ensinar. No extremo oposto, a pior aula é quando o aluno não quer aprender e o professor incompetente não quer ensinar.

Vinte e um tipos de aluno

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Esponja

É o aluno que absorve tudo. Anota em detalhes o que o professor fala e estuda sem fazer distinção. “Come” o que lhe põem à frente, o que não significa que aprendeu tudo. Acaba sabendo de tudo um pouco, mas não adquire um foco.

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Peneira

Utiliza uma peneira (filtro) para selecionar a parte que irá aproveitar da matéria. Ouve tudo, mas anota só o que lhe interessa. Quer saber apenas o que cai na prova. Ignora os temas que não lhe interessam como se não existissem.

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Funil

Parecido com o esponja, represa tudo o que o professor diz para rever em casa, com mais calma, selecionando o material para estudar. É como se precisasse deixar para decidir depois, com mais tempo. Carrega muito para usar pouco.

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Salteado

Aposta na sorte. Mas não é o “sorteado”. Como não sabe o que vai cair na prova, arrisca e estuda qualquer coisa, um capítulo, um trecho ou um tema escolhido ao acaso, na página que abrir primeiro. Seja o que Deus quiser! Chovendo ou não, carrega consigo um guarda-chuva porque é o que tem.

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Sorteado

Este aluno tem fé, acredita que vai cair tal ponto e estuda somente ele. É como quem joga em determinado bicho porque sonhou com ele. Tem sempre um palpite. Quanto mais conhecer o professor ou a matéria, mais chances terá de ser “sorteado”. Tem sempre um palpite antes e/ou depois do sorteio. Diz que sabia qual era o ponto que seria sorteado.

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Última-horista

Um tipo tradicional que só estuda na véspera da prova e faz trabalho escolar na fila de entrega. A maioria da sociedade brasileira é “última-horista”, procrastinadora. Alguns trabalham só no dia que antecede o pagamento.

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Ausente de corpo presente

É o estudante que aproveita a aula para organizar a agenda, fazer tarefas de outras disciplinas, desenhar, entreter-se com joguinhos eletrônicos, mexer no celular, conversar virtualmente, etc. Prestar atenção na aula, nunca, ainda que olhe eventualmente para o professor. Está no lugar fazendo hora, marcando presença, porque a sua cabeça já está no final de semana desde quinta-feira ou ainda não chegou à escola na segunda-feira.

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Sintonia fina

Altamente desmotivado e desconectado, tem o radar ligado em sintonia fina para rastrear e captar qualquer outro tema que não seja aula. Assim qualquer barulho, conversa ou movimento chamam mais atenção que a própria aula.

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Autodidata para fazer prova

Não presta atenção na aula, falta muito, não se mata de estudar e nem se esforça para realizar os trabalhos escolares no prazo estipulado pelo professor. Na véspera da prova, pega o livro e se prepara sozinho. É o aluno autodidata, capaz de aprender por conta própria, apesar do professor. Mas é mau organizador do tempo, gasta-o com coisas de que não precisa e depois sacrifica tudo para poder estudar.

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Chopim

É como o passarinho preto que bota seus ovos para o tico-tico chocar e criar. Não presta atenção às aulas, não anota nada e nem livros tem. Na hora da prova, cola de quem sabe. Sem interesse em aprender, entra nos grupos de trabalho escolar só para assinar o nome. O chopim se aproveita de todos, nada dando em retribuição. Em geral, todo aluno progressivo tem um chopim em seus ombros, como um papagaio de pirata.

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Formiga

É o aluno que estuda todos os dias, tendo ou não tendo provas — trabalha faça chuva ou faça sol. Sabe a matéria e não sofre nas suas férias. Toda formiga tem uma ou muitas cigarras que a prezam.

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Cigarra

É o aluno que usa sua empatia e alegria para conseguir das formigas tudo de que precisa. Acredita que, com seu jeitinho, vai conseguir tudo, ideia que não está completamente errada. Com a sua arte — canto, alegria, simpatia —, julga-se no direito de receber o que deseja de mão beijada.

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Girafa

É o aluno que fala pouco, aparentemente sempre “na boa”, não faz mal a ninguém, ouve o canto da cigarra, espia o trabalho da formiga. Não precisa ameaçar, agredir nem competir com os outros, mas se defende razoavelmente bem quando atacado.

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Gorila

É o aluno enfezado e mal-humorado quase que por natureza. Fica irritado e enfadado com tudo e reage agressivamente contra todos. Geralmente sozinho, seu espaço vital é grande porque não tolera ninguém por perto, muito menos o professor. Temido pelos colegas, consegue o que quer usando a força física, muitas vezes aperfeiçoada com artes marciais, para eliminar rapidamente quem o incomoda.

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Príncipe

É o aluno cujo reinado já começa na escola, mesmo que o rei ainda esteja na barriga. Acha que merece o melhor lugar, a melhor nota, o melhor elogio… Basta existir que todos devem reverenciá-lo. Para que ele precisa ser competente se são os outros que devem servi-lo?

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Tanto faz

É o aluno que se faz indiferente a tudo o que lhe acontece ou que esteja acontecendo com seus colegas. Ser aprovado ou reprovado não faz diferença. Nada o atinge, nada o motiva. Para este tipo, parece que o professor não existe.

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Perdulário

É o aluno, geralmente muito rico materialmente, porém pobre de espírito, que acha que pode comprar todo mundo, arrotando muito peru, mesmo que tenha comido mortadela. Valoriza os colegas pelo que eles têm e não tem o mínimo respeito com quem é pobre, mesmo que seja o professor.

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Sadim (palavra usada pelo empresário e escritor Ricardo Bellino, é um anagrama de Midas — o que toca vira ouro)

Movido a inveja destrutiva, este aluno combate sempre aquele que tira melhores notas ou ganha um jogo, isso porque, no fundo, ele julga que quem merece o prêmio é ele. Solta boatos destrutivos em benefício próprio. É preciso que se identifique o Sadim para não ser o atingido por ele.

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Mimado

É o aluno motivado pelo mimo. Para ser agradado, faz o possível, o inadequado ou até mesmo o que não gostaria de fazer. O seu ego se alimenta de elogios, destaques positivos, pontinhos a mais nas notas, medalhinhas, etc.

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Vítima

É o aluno que se sente sempre perseguido, todos querem prejudicá-lo, ninguém nota quando ele faz algo de bom, mas todos caem matando se ele comete um errinho qualquer.

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Adulador

É o aluno puxa-saco, odiado pelos colegas, porque, para agradar o professor, faz de tudo, até o que os seus colegas não fariam de jeito nenhum. Bem diferente do agrado natural entre seres humanos civilizados.

Dificilmente um aluno se enquadra em apenas um dos tipos. São vários funcionando
simultaneamente e, conforme o interesse do aluno pela matéria ou pelo professor,
podem ser bastante evidentes ou disfarçados.

Dez tipos de professor

Mais do que fazer caricaturas, meu objetivo é apresentar algumas informações que estimulem o professor a refletir sobre sua atuação em classe para que melhore seu desempenho.

Se um professor está disposto a tornar suas aulas mais interessantes, mas nem sabe por onde começar, o que será que está faltando? É bom ter consciência do funcionamento da aula. Sabendo de onde ela parte, como está funcionando agora e adquirindo mais informações sobre os tipos de aula, o professor pode chegar a um autoconhecimento mais eficaz e realizar a grande mudança para o estilo que gostaria de adotar.

De acordo com a Teoria da Integração Relacional, o primeiro requisito para que um professor consiga bons resultados para a mudança pretendida é conhecer bem a si. Teria o professor tentado avaliar-se segundo o olhar de seus alunos?

1. Um aluno faz a média

Trinta e nove alunos tiraram nota baixa na sua prova, mas o professor não se abala porque teve um que tirou nota 8. Isso significa que, se um aluno teve nota boa, o problema é dos demais, pois todos tiveram a mesma chance. Se sua aula fosse ruim ninguém tiraria 8. Os trinta e nove foram mal porque não prestaram atenção. “Eu estou cumprindo minha função de ensinar, tanto que um aluno prestou atenção e se saiu bem.”

Esse tipo de professor tem uma grande vaidade pessoal: avalia seu desempenho em classe em função do melhor aluno, e não da média dos estudantes. Se um dos presentes está interessado, valeu! A aula é interessante.

Pretensões do professor: Que todos se guiem pelo aluno que tirou a nota mais alta, pretendendo nivelar todos pelo maior rendimento.

Resultados: Desestimula os alunos médios, aniquila os fracos, e a maioria desiste de estudar, a não ser para as provas, porque não se sente reconhecida nos seus esforços pessoais.

Qualidades: Poucas. Falta o olhar para o próprio desempenho como professor. Quem tirou nota 8 pode ter estudado em outras fontes, e não na sua aula.

Defeitos: Não leva em consideração as múltiplas inteligências de Gardner, provoca repetência desnecessária e migração escolar.

Estratégia dos alunos: É difícil enganar esse tipo de professor, mas os estudantes podem se desinteressar cada vez mais da matéria e dispor de uma justificativa comovente: a classe toda foi mal. Os pais se tornam mais tolerantes. Afinal, seu filho está na média. Nas provas, muitos alunos vão querer sentar perto daquele que tirou a nota mais alta da classe.

2. Superexigente

Até que haja silêncio absoluto, ele não inicia a aula. E, enquanto passa a matéria, o silêncio é tanto que dá para ouvir uma mosca voando. Ameaçador, ele apavora seus alunos. Amarra o corpo na carteira enquanto amordaça o cérebro. Transforma adolescentes em seres inanimados perante a autoridade em classe. E, desse modo, nega a condição máxima da interação. Todo relacionamento humano é interativo, inclusive o de professor e aluno. É natural que os estudantes se manifestem ocasionalmente, ainda mais se forem adolescentes.

Pretensões do professor: Exigir o máximo dos alunos, também quanto ao comportamento, para que assim rendam mais.

Resultados: Se a qualidade da aula for boa, alguns alunos procuram corresponder positivamente. Essa concentração obriga o aluno a ficar quieto, e a primeira conversinha é logo descartada. Outros acabam desenvolvendo um medo do professor — que procura resolver tudo nas provas escritas para não precisar de uma avaliação individual ou oral.

Qualidades: O silêncio é ótimo quando resulta do interesse espontâneo do aluno em ouvir o professor. Facilita para quem quer prestar atenção.

Defeitos: Como a aula não tem vida, a aprendizagem é tremendamente prejudicada.

Estratégia dos alunos: Embora seus olhos estejam fixos no professor, o pensamento está muito longe dali. O professor pode prender o corpo do aluno, jamais seus pensamentos.

3. Tanto faz

Nada o atinge: se o aluno aprendeu, ótimo! Se não aprendeu, pouco importa. Independentemente do que fizer, seu salário será pago de qualquer jeito. O estudante entregou o trabalho? Bom! Se não entregou, é problema do aluno. Dá nota baixa e pronto. Meio anárquico e desorganizado, esse professor está ali, na frente da classe, quase como uma formalidade. Não é de exigir muito em prova. Se o aluno se queixa, ele vê se dá para mexer em alguma coisa. Se não reclama, continua tudo como está. Esse tipo apresenta uma espécie de indiferença, uma das piores posturas para qualquer emprego, principalmente para o educador. O pior de tudo é que os alunos não se sentem importantes para o professor, e o estudante precisa sentir que é valorizado para se envolver no processo de aprendizado.

Pretensões do professor: Não ser incomodado por ninguém, a não ser que possa ser prejudicado.

Resultados: Não consegue o entusiasmo dos alunos, pois ele lida da mesma maneira com notas baixas e altas.

Qualidades: Caso tenha alguma, com certeza é muito menor que os defeitos.

Defeitos: Raramente o aluno consegue aprender alguma coisa com um professor assim. A tendência é que passe a se acomodar com o mínimo. Para ele, essa aula “tanto faz”.

Estratégia dos alunos: O professor entra na classe, e os estudantes nem percebem a presença dele. Continuam o que estavam fazendo.

4. Vítima

Sofre com a classe, que descobre um prazer sádico em “torturá-lo”. Vale tudo para tumultuar a aula. Enquanto implora silêncio, “Pelo amor de Deus!”, um aluno está atrás dele, imitando seus gestos, dando-lhe uns cascudos, fazendo gozações com a sua pessoa. Será lembrado pelo resto da vida como um professor “zoado pela classe”. Dificilmente alguém se esquece de um professor-vítima. Como ele não consegue se impor, muito menos assumir a posição de coordenador da classe, os alunos fazem o que querem mesmo! Tudo funciona na base da vontade dos estudantes de cooperar ou não. Ele vive pedindo clemência aos alunos — “Não façam isso comigo” — e, às vezes, chega até a chorar.

Pretensões do professor: Um dia dominar os alunos e dar aquela aula inesquecível para todos eles.

Resultados: Consegue mobilizar alguns alunos em sua defesa. Sua competência profissional quase nem aparece, tamanha é a dificuldade de se relacionar com os alunos mais querelantes.

Qualidades: Poucas. Os alunos escolhem sua aula para bagunçar e, no final, aprendem muito pouco. Os alunos não respeitam quem não sabe se defender.

Defeitos: Ele não consegue dar a matéria. Quando chega ao final da aula, desgastado de tanto sofrer com a classe, diz a célebre frase: “Vou considerar essa matéria dada”. Nem assim os alunos se preocupam.

Estratégia dos alunos: Descobrem as maneiras mais variadas de tumultuar a aula, dando preferência a brincadeiras focalizadas na figura do professor. Na hora da prova, recorrem à cola ostensiva do livro ou à troca de provas com os colegas. Esse tipo de professor estimula classes sádicas ou anarquistas. Precisa vestir urgentemente o avental comportamental para proteger sua pessoa, tão vulnerável que é atingida na pele por qualquer ação de seus alunos.

5. Superatual

Usa e abusa de novidades, como recursos da informática, Internet, informações de jornais e revistas, temas abordados em novelas, seriados de sucesso, tudo. Desperta o maior interesse na classe porque incorpora às aulas as últimas notícias, invenções e avanços.

Pretensões do professor: Conservar a mesma linguagem dos alunos, principalmente a dos adolescentes, trazendo a vida deles para dentro da sala de aula.

Resultados: Geralmente são muito bons. Os alunos participam ativamente e aprendem a comunicar o que pensam. Um bom exercício para a vida.

Qualidades: A maior é solicitar a participação dos alunos, que devem levar novidades também. Afinal, ele está sempre pronto a aprender. É capaz de dar uma aula dinâmica e interessante. Esse tipo de professor costuma fazer sucesso entre os alunos.

Defeitos: Às vezes exagera na novidade, tirando o foco da aula, sem relacionar o assunto à sua matéria. É preciso critério para selecionar novidades.

Estratégia dos alunos: Levar cada vez mais novidades para desfocar a aula, porque, para os alunos, a escola é boa, o que atrapalha são as aulas.

6. Rolo compressor

Sua fala é como um rolo compressor que vai passando por cima de todos os alunos, independentemente de como se encontram naquele momento. Ele entra e sai da classe falando ou escrevendo freneticamente o tema da matéria. Não dá espaço sequer para o aluno reagir. Os estudantes podem até conversar, mas ele continua falando. Não faz questão de silêncio absoluto. Na verdade, esse tipo não liga para a classe. Egoísta, dá aula para si mesmo, para demonstrar os seus conhecimentos. E sai satisfeito, com a sensação de que a aula foi muito boa. Cumpriu seu dever. Pouco se importa com o outro.

Pretensões do professor: “Alunos atrapalham as aulas. Se eles ficassem todos quietos a me ouvir, eu seria diferente, mas, como não ficam, um dos jeitos é ir falando para que eles parem de falar. Vou fazendo a minha parte, eles que se virem.”

Resultados: Mal preparados, os alunos geralmente não acompanham a matéria, apenas copiam mecanicamente o que o professor escreveu na lousa. Tal professor não tem boa aceitação dos alunos.

Qualidades: Esse professor expõe sua matéria conforme a preparou e não se deixa influenciar por atrasos, incidentes ou outros movimentos.

Defeitos: O rendimento é prejudicado.

Estratégia dos alunos: Podem aproveitar a aula para estudar outras matérias, fazer trabalhos, etc. Às vezes nem olham o professor. E, quando chega a prova, recorrem à decoreba, às colas, aos estudos de última hora ou aos professores particulares.

7. Crédulo

Excessivamente compreensivo e democrático, ele debate qualquer assunto e acredita em tudo o que o aluno diz, independentemente de ser verdade ou mentira. Se o estudante alega que não entregou o trabalho porque o pai ficou doente, tudo bem, ele lhe dá outra oportunidade. Não importa que a doença do pai tenha ocorrido “cinco anos atrás” e hoje ele esteja muito bem. Se os alunos alegam e argumentam que tal professor já permitiu a classe fazer o que estão pedindo agora, então ele deixará mais uma vez.

Pretensões do professor: Acreditar em quem quer que seja, porque ninguém iria mentir para ele. Ainda questiona quem o adverte: “Para que o aluno iria mentir para mim?”.

Resultados: De bonzinho, esse professor passa a ser “bobozinho”. Professores assim não conseguem o respeito necessário para dar aulas, mas são queridos pelos alunos.

Qualidades: O aluno se faz ouvir. Como esse tipo de professor costuma ser muito querido pelos alunos, pode mobilizar a cooperação da classe e produzir bons resultados.

Defeitos: É fácil ser enganado e manipulado. Se alguns respeitam essa posição, a maioria abusa dela.

Estratégia dos alunos: Os mais espertos podem abusar da boa vontade desse professor e mentem descaradamente para obter vantagens, principalmente em notas, em prorrogação do prazo de entrega dos trabalhos, etc.

8. Crânio

É um profundo conhecedor de sua disciplina, mas um péssimo comunicador. Sabe tudo sobre a matéria, mas não consegue explicar nada. Por timidez, desorganização na forma de se expressar ou falta de capacitação para o papel de professor, ele não consegue transmitir seus conhecimentos. Algo dificulta, paralisa ou tumultua a comunicação de seu saber. A grande maioria não aprendeu a representação cênica do papel de professor nem a se apresentar diante de uma “plateia” de estudantes. Precisa muito do avental do professor.

Pretensões do professor: Conseguir passar o que sabe aos alunos.

Resultados: Os alunos sentem que o professor não tem autoridade educativa, portanto tumultuam a aula.

Qualidades: São poucas, uma vez que ocorre desperdício de talento. As vantagens podem aparecer em tempos de vestibular: quando os alunos se põem a resolver exercícios que caíram em várias provas e encontram dificuldades nas questões, em geral procuram esse tipo de professor, e o resultado costuma ser produtivo. É que nessa ocasião o aluno está pronto para ouvir.

Defeitos: Rigoroso na avaliação, esse professor exige muito além do que conseguiu ensinar, não por espírito de vingança ou sadismo, mas por achar que o aluno deve saber. O grande perigo é desmotivar o estudante para o aprendizado. “Saber tanto, para quê?”

Estratégia dos alunos: Como aprendem pouco, tendem a tumultuar a aula e a utilizar recursos variados (inclusive a cola) para passar de ano.

9. Carrasco

Sempre exige mais do que ensinou. Nas mãos dele, a avaliação vira um chicote. Pergunta o rodapé das enciclopédias, a errata dos jornais. Se durante o bimestre deu exercícios de dificuldade progressiva de 1 a 10, na prova ele pede 15. Elabora questões de Física com tamanha dificuldade que é impossível resolvê-las.

Pretensões do professor: Bastante parecidas com as do tipo superexigente, mas com a diferença de que este tem vontade de “explorar” o aluno. Muito próximo ao sadismo, parece até que se satisfaz um pouco com os sofrimentos dos alunos, com a sensação de vingança cumprida. Onipotente.

Resultados: Apesar de, aparentemente, estar dentro da lei, nenhum aluno vai chegar a ter o conhecimento que ele exige da sua matéria.

Qualidades: Professor-carrasco exige o máximo do aluno, que, se tentar corresponder, poderá progredir muito, estimulado pelo desafio da superação.

Defeitos: Corre o risco de criar nos estudantes um horror pela matéria.

Estratégia dos alunos: Como a maioria não tem meios de aceitar o desafio, dá um jeito de burlar as normas. Xeroca o caderno do melhor aluno na véspera da prova ou simplesmente cola.

10. Sedutor/seduzido

Atraído por conversa, beleza, status, poder ou outra característica de um aluno, torna-se extremamente parcial em seu comportamento: tende a facilitar, favorecer ou privilegiar esse aluno, fazendo uma distinção nítida entre eles e os demais. A aula passa a ser dada para ele. A classe, que logo percebe o jogo, pode sentir-se injustiçada e rejeitada. O “preferido”, por sua vez, nem sempre se acha confortável nessa posição. Ao contrário, pode sentir-se prejudicado, mal interpretado e explorado numa vantagem que não tem nada a ver com os critérios da aula. Sendo rico, por exemplo, e bajulado por todos, até mesmo pelo professor, não ganha uma identidade pessoal, mas sobressai devido ao poder da família. Se a origem da admiração for beleza, força física ou qualquer outro atributo pessoal, sua identidade é reconhecida, mas há risco de muitas complicações. Não é incomum professores se casarem com alunos, mas pode dar uma tremenda confusão uma professora de 30 anos se envolver com um rapaz de 16. Numa classe, todos devem ter direitos iguais, inclusive para aprender a ser cidadãos. Quando demonstra nitidamente a preferência por um aluno em detrimento dos outros, em geral o professor é ridicularizado. Nunca vi algum ser bem considerado por cair na sedução. Geralmente, é tachado de bobo, dominado, possuído. Perde a autoridade perante a classe e tem de apelar para o autoritarismo para conseguir dominar a turma. Há casos, em certas escolas em que, em dias de prova com um professor sedutor/seduzido, as moças usam decotes bastante ousados e fazem poses provocantes somente para distraí-lo.

Pretensões do professor: Pode ser desde querer alimentar o próprio ego, geralmente frágil, até estar de fato apaixonado pelo aluno.

Resultados: Prejudica os estudos do aluno e, frequentemente, a profissão de professor. Este pode ser processado pelos pais do menor por abuso. Um professor que perde o respeito dos alunos não consegue ter autoridade educativa para dar aulas.

Qualidades: Pode usar a sedução pelo lado bom, caprichando mais para dar a aula, fazendo com que a classe se sinta beneficiada, já que ele demonstra ser mais tolerante com ela.

Defeitos: Quase sempre esse comportamento é antipedagógico. O aluno pode extrair vantagens dessa relação e vir a manipular o professor.

Estratégia dos alunos: Quando querem obter algum benefício, apelam para o “preferido”, que vira porta-voz da classe e, em geral, tem seu pedido atendido. Assim, a classe aprende a manipular o professor. Investe no que o atrai em proveito próprio.

Esses são alguns dos tipos de professor. E, vale observar, podemos reler os vinte e um tipos atrás citados para descrever alunos: será igualmente fácil fazer a transposição dessas características para os professores e vice-versa. Ou seja, cada qual no seu papel, professores ou alunos podem vestir-se com os tipos elencados — e todos perceberemos quanto tais tipos são pertencentes às características da personalidade humana. Entretanto, as maiores reclamações dos professores surgem para os alunos do tipo gorila, mimado, sadim e vítima.

Professor nota 10

É o atualizado, competente, ético e integrado relacionalmente. É aquele que, a partir de episódios práticos e cotidianos dos alunos, consegue introduzir os conhecimentos teóricos, para que os estudantes passem a dominar o fenômeno. Ele consegue despertar no aluno o desejo de aprender pelo prazer de saber. São os construtores do futuro do Brasil, porque são mestres na formação dos cidadãos felizes, competentes, educados, éticos e progressivos.

Cada cidadão ético, competente, feliz e progressivo traz dentro de si a imagem viva de um desses educadores e sempre demonstra gratidão e reconhecimento pela sua ajuda, homenageando-o sempre por tê-lo acompanhado desde os tempos de estudante.

O tipo perfeito de professor é o que tem a capacidade de se adaptar às características do aluno com a finalidade de estabelecer um bom relacionamento para o aprendizado. Os bebês e as crianças foram os grandes mestres de Piaget, o pai do construtivismo.

Os adolescentes foram os meus mestres, porque eles me ensinaram como funcionam! Eu simplesmente teorizei seus funcionamentos quando criei a Teoria do Desenvolvimento Biopsicossocial da Puberdade e da Adolescência, que está em Puberdade e Adolescência – desenvolvimento biopsicossocial.

O educador aprende com o seu estudante;
O mestre aprende com o seu discípulo;
Os grandes mestres do mestre são seus próprios alunos.

Extraído de: TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: novos paradigmas na educação. São Paulo: Integrare, 2006.

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