Edição 72

Matérias Especiais

As “desaprendizagens” do professor

Júlio César Furtado dos Santos

Aprender, segundo o dicionário, significa ficar sabendo, reter na memória, tomar conhecimento de algo. Porém, com o tempo, o sentido contextual da ação de aprender sofreu mudanças ideológicas e conceituais.

Na Antiguidade clássica, o sentido reinante da aprendizagem tinha caráter espiritual, moral e filosófico. Aprendiam-se lições transcendentais com o intuito de se adquirir a genuína essência do ser. Os mestres narravam histórias e experiências que traziam material para a profunda reflexão do senso de existir.

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A aprendizagem visava à construção de um homem pleno.

Na Idade Média, a aprendizagem vestiu-se de um caráter clássico e religioso. Na Era das Sombras, aprender era apreender as verdades culturais clássicas, revestidas por seus significados religiosos. Foi uma época em que a aprendizagem conviveu com dogmas e mistérios.

Na Idade Moderna, como advento do conhecimento, a aprendizagem incorporou um sentido científico. Com o surgimento do método científico, o mundo tinha de ser desvendado, descoberto, explicado. Aprender passou a ser “saber explicar” o mundo à nossa volta.

Na Idade Contemporânea, o sentido reinante da aprendizagem vem atravessando diversas dimensões. A aprendizagem científica da Idade Moderna cedeu lugar a uma aprendizagem técnica, de caráter prático, não abandonando, porém, o sentido científico. Tal transformação se deu em função da Revolução Industrial. Aprender, aí, era absorver conhecimentos técnicos. Era “saber como funciona”.

Na segunda metade do século XX, o conceito de aprendizagem foi incorporado pela dimensão psicológica. Aprender passou a ser modificar comportamentos. O conteúdo aprendido, de alguma forma, interage com a bagagem individual e resulta numa síntese própria. Surgiu, nessa época, a separação mente, corpo e espírito, expressa através da criação das expressões: aprendizagem cognitiva, psicomotora e afetiva. Tal conceito de aprendizagem ainda é bastante presente em nossas escolas.

Nas duas últimas décadas do século passado, surge a tentativa de voltarmos a integrar mente, corpo e espírito, na chamada “aprendizagem holística”, que parte do princípio de que o homem é um todo inseparável e, somente como tal, consegue aprender.

Paralelamente ao conceito holístico, surge o sentido de aprendizagem instrumental. Aprender a aprender se tornou a mais rápida e prática definição de aprendizagem. O século XXI traz consigo a necessidade de o ser humano possuir muito mais instrumentos que lhe possibilitem uma reconfiguração do que informações estáticas, que o rotulem como academicamente culto.

Ao longo dos tempos, a escola procurou se estruturar de acordo com o conceito de aprendizagem. Tal estruturação, no entanto, foi muito mais teórica do que prática. Podemos afirmar que o modelo da escola voltada para uma aprendizagem científico-cultural perdura até hoje. Contraditoriamente encontramos, na Antiguidade, um modelo de escola bem mais próximo do discurso do século XXI.

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O modelo comportamental de aprendizagem ainda é reinante e continua trazendo consigo uma filosofia bastante nociva ao pensamento pós-contemporâneo: o aluno não sabe nada. O professor sabe tudo. O professor ensina e o aluno aprende. O aluno é preenchido pelo conhecimento do professor. Aprender é um movimento de fora para dentro do indivíduo. Aprender não envolve esforço ativo e criativo por parte de quem aprende. O esforço é somente passivo e reprodutivo. A prática da imensa maioria das escolas nos leva, sem esforços, a essa constatação. Essa prática é alimentada e reforçada por uma sociedade que está no meio do caminho no percurso entre o discurso e a prática.

Estamos aprendendo novas lições sem desaprender lições velhas, que dificultam a prática real de um novo modelo. Desaprender exige quebrar paradigmas, quebrar lógicas, ousar, fazer diferente. A atitude cumulativa da escola, nesse sentido, impede de fato uma desaprendizagem saudável daquilo que não serve mais aos tempos atuais.

Romper o paradigma comportamental significa “desaprender” verdades que estão há muito sedimentadas nas almas educadoras e educandas. O modelo de pensamento que se faz necessário nesse início de século é paradoxal: a permanente preparação para a mudança. Esse modelo exige preparação para quebra de lógicas, postura ousada e responsável; enfim, exige que se prepare o homem para uma constante postura de reconfiguração.

Uma espécie de contramodelo que nos parece bastante possível é o modelo dialogal de aprendizagem, que prega, por assim dizer, a antítese do paradigma comportamental. Esse modelo traz consigo uma filosofia libertadora, na qual aprender é um movimento de dentro para fora, fruto da quebra de lógicas pré-existentes. Quem aprende precisa ter papel ativo e criativo. O professor auxilia o aluno em seu papel de aprender, desafiando, confirmando, incentivando o movimento de construção e reconstrução de seu conhecimento. O modelo dialogal parte do pressuposto de que o aluno não é um ser vazio. Ele traz consigo toda uma gama de experiências e conhecimentos previamente construídos que devem ser respeitados e servir de ponto de partida para a construção de novos conhecimentos.

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O termo dialogal, escolhido para denominar tal “contramodelo”, se deve ao fato desse paradigma de aprendizagem ter o diálogo como sua base de ação. O diálogo — quase que totalmente ausente no modelo comportamental. A função do diálogo é fazermos real contato com o mundo do aluno. É identificarmos seus valores, crenças, necessidades, anseios, sonhos e lógicas. Somente a partir e através do diálogo podemos estabelecer uma relação de ensino-aprendizagem.

Voltemos, porém, à árdua tarefa de desaprender. O que diferencia o homem dos outros animais é a inteligência. No entanto, o que coloca o homem em movimento é a sua vontade. Administrar a vontade talvez seja a principal tarefa humana. A inteligência precisa estar aliada à vontade. Inteligência sem vontade é recurso estéril. Vontade sem inteligência é perigo de ação irresponsável. Aliar inteligência e vontade é tarefa básica de quem quer reconfigurar suas crenças e atitudes.

A aliança inteligência-vontade é particularmente importante no processo de aprendizagem-desaprendizagem-reaprendizagem de hábitos. Os hábitos se configuram como aprendizagens automatizadas e enraizadas em nosso cotidiano. Essas raízes, porém, alimentam-se de nossas mais profundas crenças. Vale dizer que a verdadeira mudança de hábitos fundamenta-se na mudança de nossas crenças, e mudar crenças é tarefa que passa pelo constante autodesafio e pela autodeterminação.

Desaprendizagens do professor

As nossas ações em sala de aula baseiam-se, há séculos, em crenças fortemente sedimentadas. Essas crenças alimentam o que podemos chamar “hábitos de resistência” a uma mudança mais profunda em nosso fazer. Tal resistência nada mais é do que o sinal claro de que não sabemos outra forma de caminhar. Temos de desaprender.

As desaprendizagens de hábitos, há muito enraizados por parte do professor, passam, necessariamente, pela mudança das crenças limitantes que alimentam “tais raízes”. Observando-se a ação do professor em sala de aula percebe-se a necessidade urgente da desaprendizagem dos seguintes hábitos.

Ensinar é falar

Hábito

A linguagem oral sempre foi o principal meio de comunicação entre os homens. A oratória, o nosso principal meio de ensinar. Desde a Antiguidade, falar sempre foi a forma mais contemplada de ensinar.

Crença

O professor que melhor fala é o que melhor ensina. Ensinar talvez possa ser reduzido ao “falar bem”. Aprende-se, principalmente, através do ouvir. O que é ouvido não precisa ser processado, mas “absorvido”, “gravado”. As pessoas absorvem bem o que ouvem, e todos têm a audição como canal preferencial de aprendizagem.

Reapredizagem

Aprender, a partir da ação, do exemplo, é mais significativo do que aprender a partir do discurso. O que é ouvido precisa ser processado, refletido, sintetizado e ganhar sentido no contexto mental de quem ouve. As pessoas não ouvem as mesmas coisas. O que é ouvido é contaminado pela maneira de ver o mundo de cada um, que é fruto da história de vida. Nem todos elegem a audição como seu canal preferencial de aprendizagem. A maioria das pessoas é visual, ou seja, as imagens são essenciais para seu processo de aprender. Outras aprendem melhor através dos sentidos. Essas precisam experimentar para aprender.

Professor fala e aluno ouve

O hábito

Normalmente, a fala, em sala de aula, se estabelece em via de mão única. O diálogo não é prática comum no processo de aprendizagem. Ficamos, às vezes, aborrecidos quando o aluno fala na nossa hora de falar.

A crença

A aprendizagem é tão maior quanto mais atenciosamente os alunos ouvem o que o professor fala. Tomar nota do que se ouve aumenta a possibilidade de “aprender”. O silêncio favorece aprender a partir do que é ouvido. Só é possível aprender quando quem ensina está em posição ativa (o que fala) e quem aprende está em posição passiva (o que ouve). Falas paralelas atrapalham o processo de aprendizagem. O aluno não tem nada a dizer a respeito do que está sendo falado.

A reaprendizagem

A aprendizagem não ocorre necessariamente em relação direta com a passividade. O diálogo, a discussão, ao longo da exposição de temas, intensifica a aprendizagem. O aluno pode ter muito a dizer sobre o que está sendo exposto e esse conteúdo pode ser enriquecedor para o grupo, inclusive para o professor.

Aprender é reproduzir

p9-monkeybusiness_4840_optO hábito

A reprodução do que foi ensinado é a demonstração de que houve aprendizagem. Propomos aos alunos muito mais atividades que privilegiam a reprodução do que foi ensinado do que a produção a partir do que foi aprendido.

A crença

Aprender é reproduzir o que está pronto. Aprendizagem não é processo pessoal, que sofre adequação, reconfiguração. É, sim, processo mecanicista de apreender o mundo tal qual ele é e está, de forma homogênea. O conhecimento não é construído ou reconstruído, mas sim absorvido, apreendido.

A reaprendizagem

Aprender é processo produtivo, pessoal e reconfigurativo. A objetividade do conhecimento é um mito. Conhece-se de forma subjetiva, interativa e reconstrutiva. O mundo não pode ser apreendido de forma homogênea. A apreensão do mundo se dá a partir dos olhares que lançamos para ele. Esses olhares são temperados por nossas crenças, valores e expectativas.

Errar é o contrário de acertar

O hábito

Quando um aluno erra um exercício é porque ele não aprendeu. Apontamos o erro para que ele possa repetir até que “acerte”, ou seja, até que ele chegue à resposta esperada. Quando um aluno acerta frequentemente significa boa aprendizagem. Somente o acerto deve ser validado, pois, somente quando acertamos, demonstramos que aprendemos.

A crença

Quando se aprende não se erra. Quando ocorre o erro é porque não houve aprendizagem. Somente acertos traduzem sucesso. Somente acertos são produtivos. O erro deve ser eliminado. O erro é sempre indesejável. O erro é inútil. É impossível acertar, errando. Erro e acerto são dimensões mutuamente excludentes. Erro é ausência de aprendizagem.

A reaprendizagem

Se aprender é processo predominantemente produtivo, a experimentação ganha imensa importância nesse ato. O ato de experimentar engloba naturalmente o erro. Fala-se aqui do erro produtivo. Referimo-nos ao erro que possibilita aprendizagem. O erro que nos facilita achar o caminho do acerto. Logo, o erro pode também levar ao sucesso e ser produtivo. O erro é importante e parte integrante do processo de aprender e, de certa forma, é desejável para que o acerto seja construído. O acerto antecedido de erros se configura de maneira mais sedimentada e consistente. Erro e acerto são dimensões não excludentes do processo de aprender.

Bom aluno é aluno obediente

O hábito

Valorizamos excessivamente a obediência no processo de classificação do bom aluno. Parece-nos pré-requisito essencial. Geralmente punimos o aluno que não “faz como dissemos pra ser feito”. Lançamos para este um olhar de reprovação e sentimo-nos ultrajados, desobedecidos, desrespeitados. A partir desse hábito altamente comum na prática docente, proibimos o aluno de nos contradizer, complementar ou até mesmo desafiar. Rotulamos de “chato” o aluno que insiste em se comportar dessa forma “desobediente”.

A crença

A postura do aluno para com o professor deve ser sempre a de obediência. O aluno deve fazer, sem questionar, tudo o que o professor ordenar. Desobedecer é sinal de indolência, desacato. A verdade é exclusividade do professor, logo, o papel do aluno é sempre o de obedecer ao professor. Obedecer sempre ao professor leva o aluno a aprender mais regras impostas. A punição frequente de toda e qualquer desobediência impede o desenvolvimento de uma das atitudes mais essenciais para a aprendizagem nesse novo século: quebrar paradigmas, ousar, reconfigurar. É, no mínimo, contraditório termos que educar para a mudança, para a reconfiguração constante, reprimindo permanentemente a ousadia.

Só se ensina seguindo-se a fórmula: Início – Meio – Fim

O hábito

Os alunos, às vezes, nos dão sinais de que já refletem acerca de um fato; de que já possuem informações e formam algum juízo sobre uma determinada realidade. Esses sinais, no entanto, nem sempre são captados por nós, professores, que insistimos em ignorá-los e “dar o conteúdo” seguindo a nossa tão conhecida fórmula: introdução – desenvolvimento – conclusão – fixação – avaliação. Esse hábito, muitas vezes, provoca uma sensação de desrespeito no aluno. Tudo o que ele traz não serve pra nada. Nós repetimos, dentro de uma lógica pré-estabelecida, o conhecimento pronto do início ao fim. Nos falta habilidade de começar pelo meio ou, quem sabe, pelo fim e assessorar o aluno pra que ele construa o início-meio-fim à sua maneira.

A crença

O aluno pode fazer algum comentário sobre o assunto, mas não sabe, ao certo, do que está falando. O conhecimento, para todos, possui uma mesma estrutura predefinida. Não seguir a estrutura “lógica” do conhecimento impede o aluno de aprender. O aluno é incapaz de organizar o conhecimento por si só. É preciso que eu, professor, organize para ele.

A reaprendizagem

Os alunos, muitas vezes, estão melhor informados do que imaginamos. Eles, em geral, têm mais tempo para interagir com a mídia, que está cada vez mais didática. O conhecimento não possui uma estrutura uniforme. A estrutura do processo de conhecer assemelha-se mais ao caos do que à lógica positivista. Dessa forma, o processo de aprendizagem individual não segue, necessariamente, uma estrutura lógica. O aluno pode e deve organizar o seu próprio conhecimento. Quando o professor organiza para ele, não permitindo que ele o faça, está dificultando o seu desenvolvimento. A aprendizagem é processo que ocorre independente da intenção de ensinar e, às vezes, para sorte de nossos alunos, apesar da nossa intenção de ensinar.

Avaliação é instrumento de manutenção do poder

O hábito

Dizemos que a atividade será objeto de avaliação da aprendizagem como forma de imposição da nossa vontade. Fazemos essa declaração em forma de ameaça ou de vingança, quase que profetizando que os alunos terão dificuldades. Temos o hábito de usar a avaliação como instrumento de manutenção de nosso poder, na maioria das vezes apostando no fracasso dos alunos.

A crença

Se não submetermos os alunos à tensão de uma avaliação, eles não dão o valor merecido ao processo de aprendizagem. Professor só é respeitado pelo seu poder de julgar, avaliar e atribuir notas. No fundo, o que importa é a nota.

A reaprendizagem

Aprender é ato que precisa ser motivado. A aprendizagem é tão mais significativa quanto maior motivo interno ela possui. O desafio é fazer nascer esse motivo dentro do aluno, e não criá-lo fora dele. Aprender para tirar boa nota é motivo que se extingue ao se obter a nota requisitada e, na maioria das vezes, termina também aí o sentido do que foi aprendido. O professor conquista o real respeito dos alunos quando consegue levá-los a manter vivos os seus motivos para aprender.

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Indisciplina é sempre falta de respeito

O hábito

Aluno, grupos de alunos ou turmas indisciplinadas são sempre encaradas como “rebeldes sem causa”. Não se justifica nós, professores, estarmos empenhados em ensinar e os alunos não estarem interessados no que temos a dizer ou a propor. A falta de interesse em aprender é sempre um ato indisciplinar que desrespeita a priori a figura do professor.

A crença

Indisciplina é sempre sinal de desinteresse infundado. Os alunos têm que estar sempre dispostos a aprender o que temos para ensinar, independente do método que usemos, da linguagem empregada ou da motivação que apresentemos. Indisciplina é, sempre, falta de respeito.

A reaprendizagem

Indisciplina, geralmente, é sinal de desinteresse, sim. A questão é que nós, professores, somos parte inseparável desse processo. Precisamos estudar a melhor maneira para que os alunos (ou pelo menos a maioria deles) se interessem por aprender. O aluno não tem a obrigação de estar naturalmente disposto a aprender. Precisamos considerar o nível de interesse do aluno ao planejarmos uma aula. Precisamos “ouvir” a indisciplina como um sinal de que a aula não vai bem e partirmos daí para criarmos uma cumplicidade com os alunos e mudarmos o rumo das coisas. Indisciplina, às vezes, é sinal de que estamos precisando mudar.

Por um professor que “não sabe”

Nós, professores, vimos, ao longo do tempo, baseando nossas ações em crenças rígidas, criadas ao longo da história e mantidas por nossa insegurança de mudar. Estamos diante da Era da Incerteza, com a função de preparar nossos alunos para a mudança e nos mantemos ainda arraigados à existência de verdades absolutas, de posturas inflexíveis e fundamentados em um modelo comportamental de aprendizagem. Sabemos que o melhor caminho para a mudança de hábitos é a mudança de crenças, e mudar crenças é um processo doloroso, que, às vezes, parece nos tirar o chão. Precisamos construir novo chão. Um chão que esteja dentro de nós, para que possamos pisá-lo por inteiro. Não há mais chão que seja seguro todo o tempo. Qualquer chão é acidentado, exige que fiquemos atentos a cada metro quadrado. Não há mais lugar para certezas absolutas. Precisamos ensinar as verdades relativas. Precisamos ensinar flexibilidade, convívio em grupo, habilidades de relação, ousadia, quebra de lógicas, prontidão para mudar. Como ensinarmos isso sem sermos isso? Como favorecer essa aprendizagem instrumental usando instrumentos que não mais funcionam?

Para que possamos implementar de fato o “aprender a aprender”, precisamos aprender a “desaprender” nosso modelo de ensinar. E não esqueçamos: desaprender e reaprender são tarefas que só têm êxito quando aliamos nossa inteligência e nossa vontade a serviço de nossa autodeterminação.

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