Edição 38

Matérias Especiais

Campanha da Fraternidade 2008

camp_frat

A Campanha da Fraternidade 2008 já tem tema: Fraternidade e defesa da vida, e o lema é: Escolhe, pois, a vida. Esse tema assume importância sempre maior no Brasil e no mundo em vista das ameaças e agressões constantes à vida, o bem mais importante e precioso sobre a face da Terra.

Nas suas múltiplas formas e manifestações, a vida é um bem impagável e indisponível; cada ser vivo manifesta, à sua maneira, a sabedoria e a insondável providência de Deus Criador. Não criamos a vida, mas temos o tremendo poder de destruí-la, e a destruição da vida por descuido e imprudência humanos ou pela ganância sistemática e cega é ofensa ao Criador. Muitas formas de agressão ao ambiente, bem como a interferência leviana na natureza dos organismos vivos, colocam em sério risco a existência de muitos seres vivos, vegetais ou animais. Vem ao caso perguntar: que tipo de mundo e ambiente estamos preparando para as gerações que virão depois de nós?

Tratando-se da vida humana, as questões se tornam ainda mais preocupantes. A pobreza extrema e a falta de políticas sociais adequadas deixam a vida humana exposta a situações de risco e precariedade. A violência endêmica e o crime organizado ceifam numerosas vidas humanas; lamentavelmente, muitas delas em plena flor da juventude! Submetida à lógica do mercado e da vantagem econômica, a vida humana acaba valendo muito pouco. A degradação ambiental, a contaminação e poluição das águas e do ar, em conseqüência de políticas econômicas irresponsáveis, desencadeiam mecanismos que põem em risco a própria vida no nosso planeta.

É impressionante o número de abortos clandestinos realizados todos os anos no Brasil. São seres humanos inocentes e indefesos rejeitados, aos quais é negada a participação no banquete da vida. E, com os abortos clandestinos, tantas mulheres também perdem a vida como conseqüência de procedimentos malfeitos. Legalizar o aborto seria a solução para salvar a vida de muitas mulheres? É o que alguns pretendem. Mas essa solução seria trágica, cruel e imoral, pois ambas as vidas são preciosas, tanto mais quanto menos culpa têm a pagar. A vida da mãe e do filho precisa ser preservada. A solução é a educação para a maior valorização da vida humana e para comportamentos sexuais conseqüentes com a grande responsabilidade de transmitir a vida a um novo ser humano.

Ameaça não menos preocupante para a vida humana é a pretensão de legalizar a eutanásia, uma intervenção intencional e direta para suprimir a vida humana. O ser humano, desde o início da História, sempre teve a tentação de se tornar senhor absoluto da vida e da morte; claro, é pretensão dos fortes sobre os mais fracos. E isso não lhe trouxe nada de mais conseqüentes com a grande responsabilidade de transmitir a vida a um novo ser humano.

Ameaça não menos preocupante para a vida humana é a pretensão de legalizar a eutanásia, uma intervenção intencional e direta para suprimir a vida humana. O ser humano, desde o início da História, sempre teve a tentação de se tornar senhor absoluto da vida e da morte; claro, é pretensão dos fortes sobre os mais fracos. E isso não lhe trouxe nada de bom. Só Deus é Senhor da vida, porque só Ele é capaz de chamar do nada à existência e de dar plenitude à vida humana. Por isso, escreveu no coração do homem esta ordem: “Não matarás!”.

Proteger, defender e promover a vida é tarefa primordial do Estado, sobretudo a vida indefesa e frágil, como a dos seres humanos ainda não-nascidos, das crianças, dos idosos, dos pobres, dos doentes ou das pessoas com deficiência. É ação política por excelência, que não poderá ser orientada pela lógica do “salve-se quem puder”, que só beneficiaria os mais fortes; ela requer o envolvimento solidário de todos os cidadãos. A defesa da vida e da dignidade dos outros seres humanos contra toda forma de agressão, prepotência ou aviltamento interessa a toda a família humana; é manifestação suprema de fraternidade.

O lema — Escolhe, pois, a vida (Dt. 31,19b) — é tomado do livro do Deuteronômio. O povo hebreu, beneficiado pela ação libertadora e salvadora do Deus da vida, é colocado por Moisés diante da grave alternativa: escolher a vida e um futuro esperançoso para si e seus descendentes, permanecendo fiel aos mandamentos de Deus, ou escolher a morte, andando por caminhos de idolatria e servindo a “deuses” fabricados para a própria conveniência. Isso vale para a globalidade das decisões humanas: nossas escolhas têm conseqüências sobre a vida e o futuro. A escolha livre e responsável do respeito aos mandamentos de Deus e do seu desígnio de vida significa bênção, esperança, futuro. O desprezo ao desígnio do Deus da vida e aos seus mandamentos traz a desgraça, a morte.

Essa é a grande questão posta pela Campanha da Fraternidade 2008, que será ocasião para refletir sobre a complexa problemática que atinge a vida sobre a Terra, em especial, a vida humana. Está em jogo o futuro da vida na Terra, nossa casa comum, e de todos os seus habitantes. Uma solução responsável só poderá ser solidária e fraterna no pleno respeito ao desígnio de Deus Criador e Senhor da vida.

camp_frat01

D. Odilo Pedro Sherer – Bispo Auxiliar de São Paulo – Secretário-geral da CNBB – Fonte: www.cnbb.org.br.

cubos