Edição 42
Matérias Especiais
Chegança
Antônio Nóbrega e Wilson Freire
Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianomâmi, sou Tupiguarani,
sou Carajá.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinaé,
Potiguar, sou Caeté,
Fulniô, Tupinambá.
Depois que os mares
dividiram os continentes,
quis ver terras diferentes.
Eu pensei: “Vou procurar
um mundo novo
lá depois do horizonte.
Levo a rede balançante
pra, no sol, me espreguiçar”.
Eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro…
Botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Mas, de repente,
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio, na praia, atracar.
Da grande nau, um branco
com barba escura,
vestindo uma armadura,
me apontou pra me pegar.
E, assustado,
dei um pulo da rede;
pressenti a fome, a sede;
eu pensei: “Vão me acabar”.
Me levantei
de borduna já na mão,
aí senti no coração:
o Brasil vai começar.