Edição 110

Como mãe, como educadora, como cidadã

Cinco mulheres, uma história de amor e gratidão

Zeneide Silva

Vou contar uma história real de cinco mulheres que eram vizinhas, amigas e cuidadoras, residentes na rua dos Bultrins, na cidade de Olinda/PE, todas com características peculiares.

visualize quatro casas juntas e uma a 100 metros de distância. Nelas, moravam as cinco mulheres da história: minha mãe, Zélia, doméstica e professora; Dona Mira, doméstica e costureira; Rita, minha madrinha, doméstica e empreendedora, vendia sacolé para ajudar no orçamento de casa; Maria, doméstica e enfermeira (tínhamos medo dela — aplicava injeção); e Dona Alaíde, minha sogra, doméstica até a morte do marido. Ficou viúva aos 28 anos, tendo que assumir uma serraria, com cinco filhos para criar.

Em setembro de 2019, faleceu minha sogra, Dona Alaíde. No momento do velório, apareceu uma amiga sua, Dona Mira, a única viva das cinco vizinhas. Foi uma enorme emoção vê-la. Durante o velório, percebi todo seu silêncio e sua comoção. Num determinado momento, chamei para a frente do caixão alguns dos filhos das cinco mulheres e solicitei que cada um lhe pedisse a bênção. Dona Mira, chorando, nos abençoou e nos contou que não poderia ter deixado de se despedir de uma pessoa que foi tão especial em sua vida.

Contou-nos ainda que, em outra ocasião, quando, indo de ônibus ao cemitério para enterrar sua mãe, percebeu que seu filho menor havia ficado no coletivo. Minha sogra, sabendo do ocorrido, saiu do cemitério e foi à procura do filho perdido. Dona Mira compartilhou quão grande foi sua emoção quando viu seu filho sendo trazido pelas mãos de minha sogra na hora em que sua mãe estava sendo enterrada. Ao narrar esse fato, ainda maior foi a sua emoção em consonância com a de muitos que estavam presentes. Gratidão, sempre gratidão.

Uma rua, cinco casas, cinco mulheres, gratidão!

Hoje, moro num edifício com 33 andares, 66 apartamentos, onde poucos se conhecem e se cumprimentam, até para um bom-dia é difícil ouvir o retorno. Fico a pensar se as pessoas não compreendem que estamos aqui de passagem. Por mais duro que seja, precisamos nos acostumar com o fato de que somos passageiros na vida e que o nosso destino final não é aqui. Infelizmente, também não sabemos em qual estação devemos descer nem tampouco em qual devemos nos despedir das pessoas que amamos. Mas podemos ser gratos, ser cuidadores das pessoas que estão no nosso conviver, deixando marcas positivas na vida das pessoas, como minha sogra deixou na vida de Dona Mira.

Obrigada, Dona Alaíde, por ter sido tão especial na vida das pessoas que passaram em sua caminhada terrena, principalmente na minha. Agradeço por todo carinho de mãe/sogra que sempre recebi.

Diga a Deus que estou mandando um grande beijo para Ele.

Zeneide Silva (@profzeneidesilva)

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