Edição 128
Construindo mais conhecimento
A contribuição da afetividade no processo de ensino e aprendizagem na educação infantil
Maria Yhasmym Pinto Bezerra
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo primordial compreender a importância da afetividade na Educação Infantil, levando em conta as mudanças e os avanços no processo de ensino e aprendizagem, ressaltando a importância de considerar a subjetividade de cada criança. A metodologia da pesquisa é bibliográfica, realizada a partir da consulta de livros, artigos científicos e obras especializadas. Conclui-se que a afetividade possui grande importância no processo de ensino e aprendizagem, além de ter ligação direta com a aprendizagem na Educação Infantil.
Palavras-chave: Educação Infantil, afetividade, ensino e aprendizagem.
1 INTRODUÇÃO
Afetividade é definida como a capacidade que o indivíduo tem de experimentar diversos fenômenos afetivos, ou seja, sentimentos e emoções. O afeto é um agente que modifica os comportamentos, e as mudanças de comportamento geram, no sujeito, um significado que é fundamental para o desenvolvimento.
Quando uma mãe reage aos sons emitidos pelo seu bebê, expressa com gestos (palmas, sorriso) que está feliz, e ele reage repetindo os sons. Com isso, a criança é estimulada a desenvolver a fala, aumentando, assim, seu repertório.
O processo de ensino e aprendizagem no âmbito escolar vem se desenvolvendo cada vez mais em decorrência dos avanços sociais, culturais e históricos. De acordo com Donato (2013), mesmo as escolas passando por diversas melhorias e mudanças, é preciso ter uma atenção especial e analisar a relação entre aluno e professor, principalmente a afetividade, que é construída por ambos.
Cada criança possui sua forma de ser no mundo, e sua individualidade deve ser respeitada. É fundamental levar em consideração a construção de tal subjetividade, que se dá no dia a dia a partir dos estímulos e das limitações que são impostos pelo meio e pelas pessoas, como, por exemplo, a escola, os pais, os professores.
É comum que, no âmbito escolar, em especial na Educação Infantil, professores se deparem com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, que afetam os desenvolvimentos escolar e geral. Nem todas as dificuldades de aprendizagem estão ligadas a problemas neurológicos; é nesse momento que o professor precisar ter um olhar mais sensível sobre a relação de afetividade que está sendo construída com o seu aluno e como isso vai auxiliá-lo.
Atualmente, a afetividade se relaciona com a educação, mas ainda é necessário que se desconstrua a ideia de os educadores separarem cognição de afetividade, fazendo com que a escola enfatize cada vez mais a razão e tudo o que se relacione diretamente com o mérito intelectual. Segundo Donato (2013), as experiências cognitivas e afetivas, quando são trabalhadas de forma relacionada na prática pedagógica, reforçam o sentido da íntima interação entre ensinar, aprender, produzir e reproduzir discurso, entre escolarização e subjetividade, construindo uma metodologia que prioriza a formação do indivíduo como um todo, e não apenas o seu intelecto.
O presente projeto tem como tema a afetividade e aprendizagem significativa no âmbito educacional.
A principal interrogativa deste projeto de pesquisa é: sendo a afetividade um ponto de grande relevância no processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil, qual a sua importância nesse processo?
Segundo Sarnasky (2014, p. 7), “O educador, enquanto sujeito mediador do processo ensino-aprendizagem, faz-se consciente de que não basta apenas educar para a afetividade, é preciso educar na afetividade”.
A afetividade possui grande importância no âmbito escolar, em especial na Educação Infantil, quando as crianças são mais sensíveis e necessitam de atenção e cuidados especiais para aprender.
Publicações acerca da resistência e dificuldade de relacionar a afetividade com o processo de ensino e aprendizagem de crianças no âmbito escolar reforçam a relevância de se chamar a atenção dos pedagogos e psicólogos escolares para a importância da psicologia do afeto e de orientar os pais para que esse processo aconteça da melhor forma possível, trazendo benefícios para a criança.
Com isso, o presente estudo relata a importância da afetividade na Educação Infantil, assim como discute a relação aluno-professor, refletindo sobre a importância da afetividade e verificando as estratégias da psicologia enquanto instrumento no processo de ensino e aprendizagem.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 História da Educação Infantil no Brasil
No Brasil, a história da Educação Infantil é recente. A inserção de crianças em creches e pré-escolas se tornou mais comum e significativa nas últimas décadas. Isso por conta da entrada da mulher no mercado de trabalho, que, na grande maioria dos casos, não tem com quem deixar os filhos e recorre às instituições de educação (BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
Foi a partir da Constituição de 1988 que a Educação Infantil do Brasil reconheceu o direito de as crianças frequentarem a creche e pré-escola. Nesse período, ocorreu a reafirmação do direito ao ensino público para todos os níveis. Tanto as creches como as pré-escolas começaram a ser incluídas na política educacional do País, passando de uma perspectiva assistencialista para uma perspectiva pedagógica, que vê a criança como um ser social, histórico e pertencente a uma determinada cultura (BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
A Educação Infantil deve ser entendida em um sentido amplo, que englobe todas as práticas educativas vividas pelas crianças, tanto no âmbito familiar como no âmbito social, antes mesmo de chegarem à fase da escolaridade obrigatória. Envolve tanto a educação familiar e a comunitária como a educação que é recebida na escola (PROINFANTIL, 2005 apud BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
A Educação Infantil tem uma função pedagógica, ou seja, é um trabalho que tem como ponto de partida a realidade e os conhecimentos das crianças e que, a partir disso, desenvolve atividades com significados concretos para a vida, possibilitando e assegurando a aquisição de novos conhecimentos. É crucial que o educador infantil tenha um amplo olhar e se preocupe em pôr em prática, de forma organizada, atividades que ajudem no desenvolvimento das crianças (BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
É preciso considerar que as crianças são diferentes umas das outras e que cada uma tem um tempo diferente de aprendizagem. Por isso, faz-se necessária uma preparação por parte dos pedagogos para que possam lhes proporcionar uma boa educação, levando em conta as condições de aprendizagem e considerando a subjetividade de cada criança (BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
O maior desafio da Educação Infantil e dos profissionais é compreender, conhecer e reconhecer que cada criança possui sua subjetividade, seu jeito único de ser e estar no mundo (BARRETO; MELO; SILVA, s.d.).
2.2 Relação aluno-professor na Educação Infantil
Segundo Lopes e Vieira (2010), as conexões sociais antecedem a relação com o mundo, onde o “outro” possui função primordial na conquista dessa relação. O papel social representado pelas pessoas no decorrer da vida tem como base os vínculos afetivos; por isso, a importância da interação entre o ser humano e o mundo e entre si. Nesse contexto, não se pode esquecer que é fundamental levar em conta a subjetividade dentro das relações.
É sabido que, no período da infância, constrói-se a base da identidade que vai permear na vida adulta e que os adultos (professores, pais e familiares próximos) que fazem parte do desenvolvimento da criança são referência de comportamento e moral a serem seguidos (LOPES E VIEIRA, 2010).
De acordo com Lopes e Vieira (2010), é essencial considerar o meio social para a formação do ser humano como um todo. No âmbito escolar, o professor possui papel de mediador entre a criança e o ambiente social. É na escola que ocorre uma ampliação nas relações com o outro e com o meio, e é no período escolar que a criança constrói para si a concepção social do mundo.
O vínculo aluno-professor é um ponto de grande relevância para o processo de ensino e aprendizagem e representa uma busca da praticidade, afetividade e eficiência para a vida do aluno. Isso vai além do profissional e dos conteúdos que são cobrados em sala; é uma relação marcante para ambos e deve buscar e priorizar a afetividade e o diálogo na construção do espaço escolar. O professor não possui apenas a função de transmissor do conhecimento, mas também tem um papel mais amplo, que requer amor, dedicação e habilidades, apropriando-se de um fazer adequado à sua sala de aula e que gere significado para seus alunos (JESUS, 2013).
Müller (2002) diz que a relação aluno-professor é uma condição dentro do processo de ensino e aprendizagem, pois é por meio dessa relação que esse processo passa a possuir dinâmica e sentido.
Mesmo estando cercada por normas e programas da escola, a relação aluno-professor forma o centro do processo educativo e, por apresentar como base o convívio de classes sociais, culturas, valores e objetivo diversos, pode ser bastante conflituosa. É possível observar três características marcantes na interação entre o aluno e professor: 1 – transmissão de conhecimento; 2 – a própria relação pessoal entre ambos; e 3 – as normas disciplinares impostas. Essa relação deve se basear na confiança; com ela, o professor orienta seu aluno para o crescimento interno, ou seja, amplia e fortalece as bases morais e críticas, não focando apenas nos conteúdos pedagógicos (MÜLLER, 2002).
2.3 Afetividade no processo de Ensino e Aprendizagem na Educação Infantil
O afeto é primordial em qualquer relação e deve estar presente em todas as fases da vida do indivíduo, mas, atualmente, os vínculos vêm se distanciando cada vez mais da afetividade e banalizando os sentimentos. A consequência é que crianças estão se tornando “pequenos adultos”, apresentando um comportamento antissocial, frio e, em muitos casos, agressivo (SILVA, 2013).
É preciso considerar que as crianças são diferentes umas das outras e
que cada uma tem um tempo diferente de aprendizagem.”
Henri Wallon é um autor que ilumina a questão da relação cognitiva e afetiva com suas colaborações na área educacional, pois relaciona a dialética com a afetividade, a cognição e os níveis biológicos e socioculturais, trazendo várias contribuições para o processo de ensino e aprendizagem, além de considerar a relação aluno-professor como elemento importante no desenvolvimento do indivíduo (FERREIRA; RÊGNIER, 2010).
De acordo com Silva (2013), não se pode negar que existe uma ligação entre afetividade e aprendizagem, já que, na escola, a criança se relaciona emocionalmente com os que estão à sua volta. É de suma importância trazer a afetividade como instrumento facilitador no processo de ensino e aprendizagem, estimulando, no aluno, a motivação, a segurança e melhores desenvolvimento e desempenho escolar, por meio de atividades e atitudes que o direcionem ao conhecimento de si mesmo e da sua realidade.
É importante pontuar que o âmbito escolar ainda tem forte influência dos métodos tradicionalistas, que frequentemente desvalorizam a importância da afetividade na formação do aluno, nos quais este é apenas um espectador, e o professor evita se envolver afetivamente com o estudante.
Segundo Ferreira e Rêgnier (2010), o interesse pelo estudo da afetividade no âmbito escolar é recente. Por ser, na maioria das vezes, classificado como “não científico” ou “sem relevância”, esse estudo tem dificuldade em ser inserido no campo educacional, sendo marginalizado ou usado de forma generalizada para justificar as dificuldades em lidar com aqueles que quebram as regras escolares.
A presença da afetividade no âmbito escolar contribui positivamente para o processo de ensino e aprendizagem, já que o professor não transmite só o conhecimento, mas ouve e estabelece uma relação de troca com o seu aluno, que deve ser cercada de afeto. Assim, o aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente seguro e competente para participar ativamente das aulas. O gosto pelo aprender não surge espontaneamente no indivíduo, por isso cabe ao professor despertar no aluno esse desejo (SARNOSKI, 2014).
Sarnoski (2014) diz que o professor é o elemento mais importante para o desenvolvimento da afetividade do aluno, despertando, assim, sua vontade de aprender. A afetividade no âmbito escolar faz parte de um campo importante do conhecimento, pois é uma grande aliada da aprendizagem e deve ser explorada pelo professor desde as séries iniciais, fazendo com que essa relação de afeto seja uma via de mão dupla entre ele e o aluno.
Toda criança é um ser único e tem seu jeito de pensar e agir, por isso é necessário que a relação professor-aluno seja prazerosa, para que ocorra uma aprendizagem mais satisfatória. Isso irá acontecer mais intensamente se a afetividade estiver incluída nessa relação, porque está presente em todas as esferas de nossa vida: no trabalho, no lazer e, principalmente, na escola, pois é no ambiente escolar que ocorre a aprendizagem mais específica do conhecimento. Por isso, o ambiente escolar como base no processo de ensino-aprendizagem do aluno pode e deve favorecer, ao educando, a afetividade em todos os aspectos cognitivos, levando o indivíduo à sua autorrealização e ao crescimento (SARNOSKI, 2014, p. 2).
3 METODOLOGIA
Este trabalho foi uma revisão de literatura com abordagem qualitativa e analítica, possuindo cunho exploratório, a partir de consulta da literatura especializada.
A seleção dos artigos foi executada de forma sistemática e padronizada, assegurando o rigor metodológico. Foram feitas buscas nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e PubMed. No final da busca, foram excluídas as referências duplicadas.
Foram selecionados artigos dos anos de 2000 a 2019, com intuito de observar a evolução da problemática do presente estudo, uma vez que o tema ainda é pouco abordado na literatura. Em relação ao idioma, houve preferência por artigos em português.
Devido a altercações no processo de busca na indexação nas bases de dados, optou-se por realizar a pesquisa com descritores aleatórios, sem o uso de vocábulo controlado. Isso favoreceu a recuperação de uma quantidade maior de referências, com a detecção da maioria dos trabalhos publicados dentro dos critérios preestabelecidos.
Posteriormente, realizou-se uma leitura exploratória, leitura seletiva e seleção do material que se ajusta aos objetivos e ao tema do presente estudo; fez-se também uma leitura analítica e análise dos textos, finalizando com a realização de leitura interpretativa e redação.
Foram incluídos artigos originais do período de 2000 a 2019, com delineamento bibliográfico de trabalhos que relatavam a contribuição da afetividade no processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil, sendo esse trabalho experimental ou observacional.
4 CONCLUSÃO
O presente artigo, mediante pesquisa bibliográfica, reforçou que a afetividade possui grande importância no processo de ensino e aprendizagem, além de relatar sua ligação direta com a aprendizagem na Educação Infantil.
O foco principal foi compreender a importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem, em especial na Educação Infantil, e, assim, fazer com que as crianças tenham experiências positivas no desenvolvimento da aprendizagem, principalmente nas séries iniciais.
Para finalizar este artigo, espero que outras pesquisas sejam realizadas a partir da temática da afetividade no processo de ensino e aprendizagem na Educação Infantil e que, dessa forma, possam contribuir positivamente na aprendizagem das crianças, ampliando o conhecimento e diversificando as práticas pedagógicas.
Maria Yhasmym Pinto Bezerra é formada em Psicologia pela Faculdade Leão Sampaio, Especialista em Psicologia Aplicada à Educação pela Urca e professora acadêmica.
E-mail: yhasmymbezerra@outlook.com
Referências
BARRETO, L. G. M.; MELO, S. S.; SILVA, N. A história da Educação Infantil: Centro de Educação Infantil Eusébio Justino de Camargo, Nova Olímpia-MT. Disponível em: http://need.unemat.br/4_forum/artigos/luciani.pdf. Acesso em: 22 mar. 2019.
FERREIRA, A. L; RÊGNIER, N. M. A. C. Contribuição de Henrie Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Educar, v. 1, n. 36, 2010.
JESUS, A. V. Relação professor/aluno na Educação Infantil. Disponível em: http://www.pedagogiaaopedaletra.com/posts/relacao-professoraluno-na-educacao-infantil/. Acesso em: 29 maio 2019.
LOPES, M. D.; VIEIRA, A. S. A afetividade entre professor e aluno no processo de aprendizagem escolar na Educação Infantil e séries iniciais. 2010. 66 f. Monografia (curso de Pedagogia). Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium. São Paulo, 2010.
MÜLLER, L. S. A interação professor-aluno no processo educativo. Integração Ensino, Pesquisa, Extensão, v. 8, n. 31, 2002.
SARNOSKI, E. A. Afetividade no processo de ensino-aprendizagem. Construir Notícias, ed. 82, 2015.
SILVA, N. A. A importância da afetividade na relação professor-aluno. Disponível em: http://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-importancia-afetividade-na-relacao-professor-aluno.htm. Acesso em: 28 maio 2019.