Edição 97
Espaço pedagógico
Discutindo sobre a problemática da leitura nas escolas
Nauzanir Santana Menezes Teles
A leitura
Sabe-se que a leitura é de grande valia: auxilia tanto na contextualização como na habilidade do aluno em relacioná-la à sua vida, ao seu contexto social, vinculando-se, assim, à realidade vivida. Além disso, a leitura é uma atividade importantíssima desenvolvida na escola e também uma habilidade linguística difícil e complexa a ser adquirida, pois não nascemos leitores. Sendo esta um processo de aquisição da linguagem escrita, que compreende três momentos fundamentais: a decodificação, a compreensão e a aplicação.
Os trabalhos no âmbito da leitura, no Brasil, começaram a se desenvolver a partir da década de 1970. Atualmente, são inúmeros os trabalhos de investigação e discussão sobre sua teoria e metodologia no processo educacional. Apesar dessas discussões acerca do assunto, o que se percebe é que a escola continua ensinando a leitura como um simples ato de decodificar e reproduzir textos, uma vez que a leitura, segundo SOLÉ (1998, p. 22), “[…]é um processo de interação entre leitor e texto; neste processo, tenta-se satisfazer os objetivos que guiam sua leitura”.
MARTINS (2003, p. 23) também comunga a mesma ideia, dizendo que “Muitos educadores não conseguiram superar a prática formalista e mecânica, enquanto para a maioria dos educandos aprender a ler se resume à decoreba de signos linguísticos”.
É preciso romper com aquela leitura que visa tão somente à repetição, à memorização e à decodificação, aquela leitura que não se encontra pautada na realidade concreta, que não desperta prazer, que não leva à reflexão, à compreensão, à criatividade e muito menos à criticidade. A leitura precisa ser analisada como um mergulho no mundo mágico das palavras.
Nesse contexto, ler significa conhecer, decifrar, interpretar as ideias do autor e selecionar, através da leitura, os aspectos mais importantes, mais significativos. Pela leitura também aprofundamos os conhecimentos, aumentamos o vocabulário e, por último, comunicamos nossas ideias de forma clara.
Diante dessas colocações, Martins (2003, p. 25) esclarece: “A leitura seria a ponte para o processo educacional eficiente, proporcionando a formação integral do indivíduo”.
Por outro lado, para que a leitura apresente resultados satisfatórios e proveitosos para a formação integral do indivíduo como diz a autora, faz-se necessário que o leitor leve em consideração: atenção, intenção, reflexão, espírito crítico, análise e síntese, para assim melhor compreender o que está lendo e os múltiplos significados da leitura. Com isso, cabe ao professor, no contexto educacional, propiciar aos alunos estratégias de leitura que possam desenvolver esses pré-requisitos.
Ler significa conhecer, decifrar, interpretar as ideias do autor e selecionar através da leitura os aspectos mais importantes, mais significativos. Pela leitura também aprofundamos os conhecimentos, aumentamos o vocabulário e, por último, comunicamos nossas ideias de forma clara.
É necessário evidenciar que o fato de a criança possuir um bom desenvolvimento na leitura depende também da influência que esta tenha no meio em que vive. Quanto maior o incentivo à leitura desde cedo, melhor será o seu sucesso em relação à aprendizagem e ao desenvolvimento da leitura e de outras habilidades. Para Smith (1989, p. 210), “quanto mais lemos, mais somos capazes de ler”.
Saber mais ajuda o aluno a perceber por que ele aprende, e a leitura é, sem dúvida, uma capacidade-chave para o aprendiz, porque não constitui um só saber, mas também abre possibilidades de conhecimentos.
Por que os alunos não gostam de ler?
É mister afirmar que toda prática humana pressupõe reflexão, assim o ato de ler implica também numa reflexão sobre a prática, os seus fins e os seus métodos. Sabe-se que a leitura é de fundamental importância para o estudo, para a construção e reconstrução do conhecimento, e que esta deve ser vista muito mais além do que a mera decodificação de palavras.
Vários são os incentivos voltados à leitura, porém há ainda um grande número de crianças que não gostam de ler. Um dos motivos mais visíveis é devido à dificuldade que o professor tem em estabelecer em suas aulas uma rotina de leitura.
A partir disso, é comum hoje ouvir com bastante frequência professores e pais se queixando das dificuldades dos alunos /filhos em torno da leitura. Os alunos não gostam de ler, não compreendem o que leem, ou seja, não há nenhum interesse e vontade pelas práticas de leitura. Isso é detectado quando os alunos não se sentem motivados pelas aulas de leitura, preferindo até outras disciplinas ou mesmo atividades de lazer.
Faz-se necessário, diante disso, verificar quais os fatores que estão impedindo esses alunos de sentirem prazer pelas atividades proporcionadas pela leitura. Com isso, é importante analisar como a leitura está sendo inserida para esses alunos. Será que os professores a utilizam mecânica e passivamente, gerando assim uma tortura em realizá-la? Ou os professores ainda pensam que dando muitas leituras obrigatórias melhorarão o nível de interesse desses alunos, sendo na verdade, mais um tipo de estratégia que se utiliza da imposição para que a leitura seja realizada sem obter nenhum tipo de resultado, pois, quando é realizado algo por obrigação, todo ser humano tende a fazer como qualquer rotina sem preocupação alguma com as consequências.
Vários são os incentivos voltados à leitura, porém há ainda um grande número de crianças que não gostam de ler.
É importante evidenciar que a leitura como forma de tortura seja uma das causas que está cada vez mais levando o aluno a não gostar de ler. A leitura precisa ser realizada através do diálogo entre aluno e professor; é através desse diálogo e interação com a leitura que as aulas se tornarão um ambiente favorável, em que a memorização mecânica e a obrigatoriedade deixam de existir, passando para atividades do tipo: falar, discutir, relatar, debater, dentre outras atividades.
Além disso, diversificar as leituras de acordo com o nível dos alunos é fundamental, disponibilizando livros de histórias fantásticas, de aventuras, de ficção científica, clássicos, histórias em quadrinhos. Dessa forma, o professor estará desempenhando o trabalho de preparar leitores que gostem de ler.
É preciso ressaltar que muitas crianças não gostam de ler devido ao ambiente, que não possibilita o acesso a diferentes materiais de leitura (livros, revistas, jornais, etc.), em que há pessoas que não leem, não escrevem, não respondem suas perguntas, ou fazem essas atividades com baixíssima frequência.
Além disso, diversificar as leituras de acordo com o nível dos alunos é fundamental, disponibilizando livros de histórias fantásticas, de aventuras, de ficção científica, clássicos, histórias em quadrinhos.
A contribuição da família no ato de ler
Segundo Bamberger (1995, p. 71), “A prontidão para a leitura é determinada, em grande parte, pela atmosfera literária e linguística reinante na casa da criança”.
A partir disso, é notável como a influência no processo do ensino da leitura é importante e imprescindível para tornar o aluno um leitor ativo. A família é a peça fundamental para desenvolver um bom leitor, pois a influência de alguém no gosto pela leitura, propiciando à criança o contato com livros de histórias e materiais diversos que a estimulam a ler desde as imagens até chegar às palavras. As contações de histórias também contribuem significativamente para a formação de leitores, que se inicia desde os primeiros contatos da criança com o mundo.
De acordo com Perez (1993, p. 92), “A criança, desde muito pequena, demonstra um interesse especial pelo ouvir e pelo contar histórias. A história faz parte do seu universo simbólico. Através da história, ela identifica modelos e papéis que a auxiliam em sua relação com o mundo”. Diante disso, tanto a família como os professores que trabalham com as crianças das turmas pequenas, necessitam de um repertório de histórias que as encante para que através delas as crianças desenvolvam consequentemente o hábito de ler por toda a sua trajetória escolar e vida profissional.
A prontidão para a leitura é determinada, em grande parte, pela atmosfera literária e linguística reinante na casa da criança.
Bamberger (1995, p. 72) dá alguns conselhos aos pais com relação ao desenvolvimento da leitura no ambiente familiar.
a. Contar histórias e ler em voz alta para os filhos com a maior frequência possível.
b. Organizar uma biblioteca pessoal para o filho, apropriada à idade, aos seus desejos, às suas necessidades e à fase de desenvolvimento em que ele se encontre.
c. Instruir os filhos para gastarem parte do seu dinheiro miúdo em livros.
d. Zelar para que se reserve algum tempo para a leitura no maior número de noites possível, no qual cada membro da família lerá o seu próprio livro.
e. Participar da leitura dos filhos, isto é, conversar sobre o que eles estão lendo.
f. Ajudar os filhos a reconhecerem que podem aplicar e usar o que leem; que os livros dão segurança, luz e beleza à vida.
Acredita-se, portanto, que as crianças que são estimuladas desde pequenas e tenham contato com livros ou pessoas no ambiente que realizem leituras com certa frequência tendem a desenvolver o hábito pela leitura.
Considerações finais
Sabe-se que a leitura é uma atividade que requer do leitor a capacidade de ler e compreender o que está escrito e que através dela se adquire o conhecimento intelectual. Segundo Cagliari (1997, p. 148), “A leitura é a extensão da escola na vida das pessoas. A maioria do que se deve aprender na vida terá de ser conseguido através da leitura fora da escola. A leitura é uma herança maior do que qualquer diploma”.
Dessa forma, a leitura precisa ser vista como uma atividade que envolve o leitor e o autor mediado pelo texto; a partir disso, percebe-se a necessidade de o professor, ao desenvolver o processo de leitura em sala de aula, levar em consideração o aluno e as suas leituras incluindo a vivência de cada um como também a sua bagagem de conhecimento. Partindo desses pressupostos, a escola não mais pode vir trabalhando o ato de ler como simplesmente uma atividade repetitiva, mas, sim, introduzir gradativamente o ensino da leitura na perspectiva de formar sujeitos leitores críticos e que também compreendam o que leem.
Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, ensina e esclarece que:
Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê, que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização. (1998, p. 54)
Com essa afirmação, verifica-se que, para formar leitores competentes, faz-se necessário que os professores juntamente com a escola vejam a leitura por outro ângulo, que enxerguem a leitura muito mais além de que um ato repetitivo ou mecânico, que a percebam como um meio importantíssimo para se chegar ao conhecimento e também para a formação de um bom profissional.
Em suma, pesquisas e estudos confirmam a importância da prática pedagógica e o incentivo tanto por parte do professor como pela família na formação de leitores ativos e competentes.
A escola não mais pode vir trabalhando o ato de ler como simplesmente uma atividade repetitiva, mas, sim, introduzir gradativamente o ensino da leitura na perspectiva de formar sujeitos leitores críticos e que também compreendam o que leem.
Referências
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito de leitura. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000.
CAGLIARI, Luiz C. Alfabetização e linguística. 10. ed. São Paulo: Scipione, 1997.
KATO, Mary. O aprendizado da leitura. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2003.
MILANI, Aloísio. In: Revista Educação. São Paulo: set., ano 9, n. 101, set. de 2005. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – Terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: Língua Portuguesa – Secretaria de Ensino Fundamental. Brasília: MEC – SEF, 1998.
PEREZ, Carmem Lúcia Vidal. Com lápis de cor e varinha de condão… Um processo de aprendizagem da leitura e da escrita. In: GARCIA, Regina Leite (Org.). Revisitando a pré escola. São Paulo: Cortez. 1993.
TV ESCOLA. Brasília: Agosto e setembro, n. 24, agosto e setembro de 2001.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. A produção da leitura na escola. 2. ed. São Paulo: Ática, 2000.
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Trad. Daise Batista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Trad. Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
Nauzanir Santana Menezes Teles é graduada em Letras Vernáculas pelo Centro Universitário UniAGES, especialista em Coordenação Pedagógica pela Finom, professora. Atualmente exerce a função de coordenadora pedagógica da Educação Básica do Colégio Integrado AGES em Paripiranga/BA. E-mail: nauzanirsantana@gmail.com.