Edição 12
Espaço pedagógico
“Diz-me como avalias e eu te direi que professor és” (Zabala-1999)
Aproxima-se o final do ano letivo e o processo de avaliação começa a gerar preocupações. Com diferentes olhares, teóricos, estudiosos, educadores, pais e alunos criam expectativas quanto a esses resultados. Vamos iniciar por compreender o tema, através da educadora Gilvaneide Oliveira, da UFRPE.
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Possibilidades da realidade docente
Nesse espaço, estou socializando as minhas concepções e preocupações sobre o tema avaliação da aprendizagem, que considero importante, difícil de ser exercitado e inconsistente no que se refere às práticas avaliativas que ora se configuram na maioria das escolas públicas e particulares de nosso país.
Avaliar é uma tarefa que exige certa objetividade e clareza dos sujeitos nela envolvidos. Porém, apesar das dificuldades na sua realização, não se trata de algo inatingível, que apresenta obstáculos intransponíveis, e sim de algo que necessita ser encarado com todas as suas peculiaridades, como, por exemplo, seu caráter processual. No entanto, ao nos deparar com um momento avaliativo, faz-se necessário pensar sobre questões como: para que vou avaliar? O que vou avaliar? Como vou avaliar?
Ao refletirmos sobre essas questões, estamos nos aproximando do objeto avaliado, no sentido de deixar mais claros objetivos e critérios usados na avaliação. Tais critérios, por sua vez, serão usados nas análises a serem realizadas e no julgamento a ser feito, dando subsídio para a tomada de decisão e o redimensionamento, se necessário, da proposta didática vivenciada.
No encontro da 55ª SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, realizado no período de 13 a 18 de julho na UFPE, especificamente numa conferência sobre avaliação, foi afirmado que: “em nossas escolas, não existe nem nunca existiu avaliação, nossos professores não avaliam, pois, ao aplicarem provas e testes e aferirem resultados, não estão avaliando, por isso não existe uma cultura de avaliação, ou seja, não existe avaliação”.
Questões como essas deixam professores um tanto sem rumo, é como tirar-lhes o chão dos seus pés, afinal trata-se do único referencial que têm sobre como avaliar seus alunos. Essa é uma visão distorcida, dos professores, do conceito de avaliação, que, para a grande maioria, é confundida com o ato de examinar, representado por uma prática de aplicação de testes e provas. Esse relato irá fornecer alguns pontos em nossa reflexão.
Avaliar é uma ação rotineira e espontânea, realizada por qualquer pessoa acerca de qualquer atividade humana; é, assim, um instrumento fundamental para conhecer, compreender, aperfeiçoar e orientar ações de indivíduos ou grupos. É uma forma de olhar o passado e o presente sempre com vistas ao futuro. Faz parte de instrumentos de sobrevivência de qualquer indivíduo, resultando de uma necessidade natural, instintiva, de sobreviver, evitando riscos e buscando prazer e realizações.
Porém, esse procedimento se faz insuficiente quando avaliamos a aprendizagem dos alunos de um determinado curso ou programa. Para esses casos, faz-se necessário um programa avaliativo com características distintas e possibilidades de compreender todas as implicações e dimensões das atividades, dos fatos ou da coisa avaliada, e assim poder redimensioná-los. Com isso, podemos dizer que se entende a avaliação como um processo sistêmico de análise de um determinado dado, permitindo compreender, de forma contextualizada, todas as suas dimensões e implicações com vistas a estimular todo o seu aperfeiçoamento, caracterizando, assim, uma avaliação formativa (Hadji, 2001, Perrenoud, 1999).
Esse norte serve para os professores que, mesmo diante das condições sociopolíticas com as quais lidam no dia-a-dia, no espaço escolar, não têm condições legítimas para o exercício efetivo de uma avaliação formativa. Que pelo menos seja formada uma consciência sobre essas limitações e lhes sirva de estímulo e condições técnicas para construírem espaços de reivindicações e mobilizações na tentativa da implementação da mesma.
Uma discussão que se faz necessária é estabelecer diferença entre o medir e o avaliar. Os atos de medir são geralmente caracterizados pelos exames, que são pontuais e precisos, pois medem o desempenho dos alunos naquele momento, gerando com isso uma classificação em aprovados ou reprovados, em está ou não está na média, caracterizando-se como excludentes, pois não há, necessariamente, uma análise qualitativa desses resultados, um julgamento nem uma tomada de decisão; enfim, não há uma preocupação com a construção do conhecimento. Já a avaliação é processual, dinâmica, inclusiva e construtiva, apresenta uma intencionalidade e se caracteriza por ser informativa para os sujeitos envolvidos, professores e alunos, para que ambos tomem consciência da realidade e possam investir na regulação e no redimensio-namento do processo ensino–aprendizagem.
Considerando a realidade na qual estão inseridos os nossos professores e suas provas e testes, apresentamos como proposta o repensar e reelaborar seus instrumentos, tornando-os mais úteis, no sentido de contribuir, de forma significativa, para o processo avaliativo. Nessa perspectiva, Paulo Ronca e Cleide Terzi apresentam uma proposta: A prova operatória, um instrumento que proporciona ao aluno viver intensamente construção e reconstrução de conceitos ao longo do caminho da aprendizagem e, ao professor, poder verificar se os alunos estão de posse dos conteúdos básicos, se sabem pensar, argumentar e se contrapor, ou seja, se sabem operar tais conteúdos a partir de leitura, compreensão e interpretação de questões.
São características desse instrumento: partir sempre de um texto que apresente um contexto, tornando a análise mais profunda e abrangente; estabelecer relação não mais com o leitor e a pergunta, mas com o leitor e o contexto, via texto; memorizar passa a ser um meio, não mais um fim em si mesmo; considerar um espaço amplo para que os alunos possam criar e escrever seus pensamentos; apresentar enunciados elaborados na forma de problemas que se caracterizam por serem mais interrogativos, mais complexos, mais amplos e exigirem respostas mais elaboradas, com maior composição e combinação; apresentar sempre fatos, idéias, fenômenos e concepções em textos contextualiza-dos, favorecendo o pensamento, a argumentação e a discussão numa perspectiva dialética (Ronca e Terzi, 1991).
Nessa perspectiva, as aulas deverão ser repensadas e reestrutu-radas segundo as características supracitadas, pois deverá sempre haver uma percepção clara da unidade existente entre o ministrar aulas e o avaliar, enfim, o planejar em todas as suas dimensões. Nesse sentido, a aula é caracterizada pela postura do professor que se apresenta como líder de um forte relacionamento interpessoal com os alunos, num intenso controle e com trocas afetivas. Nela, o professor não se sente e não se vê apenas reproduzindo um conteúdo, mas, sim, construindo, junto com seus alunos, o conteúdo a ser estudado, e ambos se sentem co-autores e, conseqüentemente, co-responsáveis em todo o processo educativo.
Gilvaneide Ferreira de Oliveira(giletony@terra.com.br), doutoranda vinculada ao Programa de Gestão Educacional pela European University – Lisboa; Mestre em Educação pela UFRPE, na área de concentração do Ensino das Ciências; Educadora do curso de Pós-graduação de Formação de Educadores pela UFRPE.
giletony@terra.com.br
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