Edição 53

Editorial

Editorial

Prezado Educador/Prezada Educadora,

Muitos têm a ferramenta, mas poucos sabem usá-la.
Iniciarei este editorial com uma história muito interessante, ressaltando o valor do conhecimento.
Conta-se que um caldeireiro foi contratado para consertar um enorme sistema de caldeiras de um navio a vapor que não funcionava bem.
Após ouvir do engenheiro a descrição do problema e ter feito algumas poucas perguntas, o caldeireiro dirigiu-se à sala de máquinas. Durante alguns minutos, ficou olhando
para o labirinto de tubos retorcidos, escutou o ruído surdo das caldeiras e o silvo do vapor que escapava. Com as mãos, apalpou alguns dos tubos. Depois, cantarolando distraidamente, procurou no avental alguma coisa, até tirar de lá um pequeno martelo, com o qual bateu apenas uma vez em uma brilhante válvula vermelha. Imediatamente,o sistema inteiro começou a trabalhar com perfeição, e o caldeireiro voltou para casa.
Quando o dono do navio recebeu a conta de 10 mil reais pelo serviço, queixou-se ao caldeireiro. Argumentou que ele só havia ficado na sala de máquinas por 15 minutos e pediu-lhe, então, uma conta pormenorizada. Eis a descrição da nota de prestação de serviço:
Conserto com o martelo: R$ 5,00
Saber onde martelar: R$ 9.995,00
Total: R$ 10.000,00
Interessante, não?
Lembrando do grande educador Darcy Ribeiro, “Sempre há o que aprender, ouvindo, vivendo e, sobretudo, trabalhando, mas só aprende quem se dispõe a rever as suas certezas”.
A Educação é um processo em que reunimos o maior número de certezas para lidar com as incertezas. Tentamos falar sobre algo — o conhecimento — que compreendemos parcialmente e só podemos fazê-lo de forma precária, humilde e compartilhada. O conhecimento é nosso foco neste número da Construir Notícias.
A Educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado. O conhecimento é causa de erros e ilusões. Devemos destacar, em qualquer sistema educacional, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer. O conhecimento permanece como uma aventura para a qual a Educação deve fornecer o apoio indispensável.
Conhecemos tudo, menos o principal: de onde viemos; o sentido profundo do que fazemos e para onde nos encaminhamos. A informação é o primeiro passo para conhecer. Conhecer é relacionar, integrar, contextualizar, incorporar o que vem de fora. Conhecer é saber, desvendar, é ir além da superfície, do previsível, da exterioridade.
Conhecer é aprofundar os níveis de descoberta, é penetrar mais fundo nas coisas, na realidade, no nosso interior. Conhecer é tentar chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção da grande síntese, que se consegue ao se comunicar com uma nova visão do mundo, das pessoas e com o mergulho profundo no nosso eu. O conhecimento se dá no processo rico de interação externo e interno.
Levar o aluno a construir seu conhecimento é um grande desafio para a escola, já que, de forma geral, os alunos estão habituados a um sistema de aprendizagem socrático, no qual eles dependem de um professor para prestar atenção. Relembrando Piaget, “Quem decora esquece, quem constrói jamais esquece”.
Na escola, sua principal contribuição é construir uma ponte entre o mundo real, isto é, o das sociedades modernas em constante transformação, e o mundo da escola, que tem diante de si a tarefa de formar os cidadãos.

Um grande abraço!

 

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