Edição 63

Editorial

Editorial

Prezado Educador/Prezada Educadora,

Não é fácil lidar com a morte, mas ela espera por todos nós… Deixar de pensar na morte não a retarda ou evita. Pensar na

morte pode nos ajudar a aceitá-la e a perceber que ela é uma experiência tão importante e valiosa quanto qualquer outra.

Philippe Ariès

Quando resolvi escolher este tema — Como falar de morte para a criança —, fiquei pensativa sobre qual seria a reação dos

educadores, mas mesmo assim continuei pesquisando e lendo sobre a morte e vivendo o luto em busca de muitas perguntas sem

respostas.

Eu percebi que, diante da morte, as reações são absolutamente únicas. Alguns tentam ignorar a tristeza. Outros acabam se

fechando em si mesmos. Existem ainda aqueles que reprimem a dor. Nada disso adianta. A dor é real e precisa ser corretamente

vivida.

Em seu livro A Arte de Falar de Morte para Crianças, Lucélia Paiva escreve que, no passado, de acordo com o livro A História

da Morte no Ocidente (Airès, 1977), a morte era um evento público e social, ou seja, fazia parte da vida de todos, inclusive

contava-se com a participação de crianças nesse evento. Hoje, a morte é colocada do lado de fora da vida, entretanto ela está

muito próxima. Basta nos depararmos com a violência que encontramos em nossa sociedade — envolvendo assaltos, sequestros,

acidentes —, cenas que estão se tornando banais, dando a
impressão de que isso é natural.

A morte faz parte do cotidiano de todos nós, inclusive de nossas crianças, como algo inerente ao processo de viver.

Falar de morte para a criança é ajudá-la a superar os transtornos e as tristezas da sempre dolorosa perda de alguém querido

vivendo o luto. Infelizmente, muitos não praticam mais nenhum ritual de luto. Tudo aparenta ser normal. Parece que nada

mudou. Mas esse fato não
é verdade. No íntimo, todos sentem a perda.

O ser humano moderno precisa aprender a viver e também a morrer, já que, com a morte, percebemos que todos se encontram

absolutamente iguais. A experiência da morte dos nossos entes queridos ajuda-nos a amar mais, a amar melhor.

Enfim, concluo com uma história que li em um livro.

Certa vez, disseram a uma senhora que havia perdido seu filho que um monge tinha o dom de ressuscitar, principalmente

crianças. E ela foi procurar esse monge:
— É verdade que o senhor tem o poder de ressuscitar uma pessoa morta?
— Não é que eu tenha o poder; existe esse poder, e Deus me usa para executá-lo. Eu posso reavivar essa criança.
— E o que eu preciso fazer?
— É muito simples: a senhora precisa conseguir uma semente de mostarda, mas que tenha nascido no canteiro de uma casa cuja

família nunca tenha perdido um ente querido.
— Só isso?

E ela foi de casa em casa:
— Tem semente de mostarda?
— Tem.
— Mas aqui já morreu alguém da família?
— Já, meu pai morreu.

Ia até o vizinho:
— A minha avó morreu, e também o meu cachorrinho.

Ao completar a volta no quarteirão, compreendeu que era besteira achar que apenas ela tinha sofrido a dor da morte.

Todos nós passamos ou vamos passar pela experiência da perda de um ente querido, do mesmo jeito que todos sabemos que um dia morreremos.

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