Edição 31

Matérias Especiais

Ensinar para ter a esperança de viver em um mundo melhor

Heliene Silva Alves

Às 7h da manhã, estou em uma sala de aula dessa imensa escola chamada Brasil. Sou sempre recebida com sorrisos de quem, aos 6 anos de idade, mesmo estando atrasado, encontra tempo para colher flores coloridas no caminho que se amontoam sobre minha mesa (que profissional é recebido diariamente com flores?).

A primeira palavra que ouço é BOM-DIA! Ditas de maneira tão carinhosa e verdadeira que nem de longe se assemelham ao bom-dia formal dos adultos, muitas vezes ditas por obrigação.

Após quatro horas de problemas que afetam a estabilidade mund

ial como: uma borracha que sumiu ou uma linha do caderno que não “cabe mais palavras”, sou deixada para trás com beijos, abraços e olhos que, brilhando, me dizem ATÉ AMANHÃ!

Meu segundo expediente é com adolescentes que discutem tanto que me deixam emocionada, já que o meu objetivo é formar seres críticos que possam falar, opinar, criticar, sugerir, praticar, cumprir e pensar.

São esses mesmos alunos que pensam que o professor é útil, pois, sem ele, não seriam motivados a conhecer o mundo em que vivemos, afinal de contas o médico, o advogado, o administrador e o policial têm funções específicas, não estando preparados para ensinar-lhes.

Pensam que a escola é legal, pois é lá que multiplicam suas relações pessoais e profissionais, é onde encontram seus amigos e discutem questões atuais do mundo: política, amor, racismo, religião, cultura, artes, tecnologia e educação.

É nesse lugar de múltiplos conhecimentos que abrimos espaço para o debate sobre o artigo: Para que ensinar se professor não vale nada? e chegamos à conclusão de que viver é mesmo difícil (para todos os profissionais), principalmente quando deixamos as mazelas do mundo penetrarem em nosso ser e se acumularem em nosso coração, enfraquecendo a nossa auto-estima, que precisa ser lapidada a cada dia (com sorrisos e flores).

O respeito que nós professores precisamos e merecemos não vai ser adquirido com a institucionalização da lei do grito ou da pedagogia da palmada, e sim através do respeito e compromisso com a nossa profissão, o que, em momento algum, pode ser confundido com resignação ou submissão.

Em mais de quinze anos que passei dentro de escolas como aluna ou professora, percebi, junto com meus colegas, que o profissional que adquire o respeito dos outros através de palavras e atos nunca é menosprezado.

Meus alunos e eu lamentamos a existência de seres humanos “maus” que agridem os outros física ou moralmente, sejam eles alunos ou professores. Deixamos aqui nossas constatações de que ser professor é uma bela profissão, afinal de contas uma sociedade sem professores é uma sociedade sem profissão nenhuma.

Heliene Silva Alves. Professora do Ensino Fundamental I e II da Rede Particular de Ensino de Itapipoca (CE) e de alunos da 5ª e 6ª série.

Os artigos publicados pela Revista tem nos ajudado a levar para a sala de aula questões importantes sobre o cotidiano da educação,contribuindo não só para a formação dos professores como para a conscientização dos nossos alunos.

Nos sentimos responsáveis (eu, professora, e meus alunos) pela resposta ao artigo do professor Edson Marques publicado na edição n° 30, que, ao ser lido, provocou discussão sobre pontos diferentes: a violência na sala de aula e a verdadeira devoção (amor e respeito) que alguns professores têm de seus alunos.

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