Edição 09

Matérias Especiais

Entrevista

Quem mais o ameaça publicamente?

CHICO MENDES – Agora são os dois fazendeiros de Xapuri (AC), os proprietários da Fazenda Paraná, Darly Alves e Alvarinho Alves. São irmãos. Estão inclusive foragidos da Justiça, com mandado de prisão decretado. Desde 1973, esses dois fazendeiros tinham ordem de prisão no Paraná. Nós invocamos essa ordem para o Acre e confiamos, infelizmente, no superintendente da Polícia Federal, Mauro Spósito, que reteve durante 16 dias essa ordem de prisão. Segundo o próprio juiz da Comarca de Xapuri, tal retenção não foi por acaso. Houve uma expectativa inicial: quem teria avisado os dois foragidos da Justiça? Hoje estamos absolutamente convencidos, por informações vazadas do próprio DPF, que esses dois fazendeiros são amigos do delegado da Polícia Federal no Acre, Mauro Spósito. Os irmãos já mandaram assassinar mais de 30 trabalhadores.

Qual é a ameaça dos dois irmãos fazendeiros?

CHICO MENDES – Só se entregariam à Justiça após verem o meu cadáver. Duvido que se entreguem. A PM do Acre sabe da existência de pistoleiros no meu encalço, a serviço deles.

Onde o perigo é maior?

CHICO MENDES – Nos aeroportos. É porque desconfio que vão me pegar. Agora em São Paulo tive o acompanhamento de policiais civis e policiais militares do estado. Ao chegar ao Rio, estou também sob a cobertura de amigos e do pessoal da Campanha Nacional de Defesa pelo Desenvolvimento da Amazônia (CNDDA).

A floresta tomba, e vocês também. Quantos companheiros vocês perderam?

CHICO MENDES – No Acre, seis. De liderança expressiva, perdemos o Wilson Pinheiro, em 1980. Essa luta contra os desmatamentos criminosos começa em 1975. É uma luta com mais de 13 anos. O marco dessa luta é o dia 10 de março de 1986. É aí que tem início o primeiro empate assumido, num seringal em Brasiléia, no Acre.

Quer dizer que essa luta começa em Brasiléia?

CHICO MENDES – Começa em Brasiléia. Só que, em 1980, o Wilson Pinheiro foi assassinado dentro do sindicato, pelas costas, quando assistia a um programa de televisão. Foi assassinado a mando de fazendeiros. Houve uma reunião dos fazendeiros, em julho de 1980, em que ficou acertado que uma forma de barrar o movimento dos seringueiros seria matar as principais lideranças. Na noite de 21 de julho de 1980, Wilson foi fuzilado na sede de seu próprio sindicato. A nossa luta sofre um grande abalo. Mas logo depois ressurge em Xapuri, que fica a menos de 100 quilômetros de Brasiléia. E Xapuri, via sindicato, começa a comandar todas as nossas operações de resistência, e vale dizer resistência pacífica, mas resistência. Quando conduzimos nossas famílias para o empate, deixamos transparente que o movimento é pacífico. Ninguém vai para a guerra levando mulher e filhos.

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