Edição 33

Matérias Especiais

Família espaço de entreajuda

Frei Almir R. Guimarães

í estão essas nossas famílias, com suas características as mais variadas. Há esses casais que completam bodas de ouro. Há outros pares que se desfazem e se refazem. Há filhos de um primeiro casamento do marido que chegam para povoar a vida de uma mulher. Há esses meninos e meninas que nascem de mães e pais solteiros.

A família, a verdadeira família, deveria ser um espaço de entreajuda e de manifestações de mútuas atenções. É escola de solidarização. Em tempos de adversidade e de generalizadas expressões de violência, espera-se que a família seja, efetivamente, um espaço de ajuda mútua. Assim, indiferença, violência, agressividade e desconfiança cedem lugar a manifestações de respeito, ternura e apreço.

Homem e mulher se encontram, aprendem a querer bem um ao outro, colocam-se a serviço da realização mais plena e mais profunda desse homem que tem sua história, seus traumas, suas feridas, dessa mulher que fez determinada caminhada existencial. Agora, os dois, juntos, buscam a plena realização do outro. Um mostra ao outro horizontes até então desconhecidos. No momento de calor, há um copo d’água fresca sobre a mesa. Nos instantes de alegria, há alguém que sabe partilhar o instante de júbilo.

Os velhos pais contam com a ajuda de filhos, noras e genros. Pode ser que um pai idoso não tenha onde viver o inverno de seus dias. Filhos e netos saberão acolhê-lo e dar-lhe a alegria de saber que ele conta muito aos olhos de todos. Esses idosos se darão conta de que sua presença não é um peso ou um fardo, mas que eles carregam a memória da família e exalam sabedoria. Uns ajudam aos outros. Uns existem para os outros.

Há esses outros membros, mais fragilizados, que necessitam de uma presença amorosa à sua volta. A menina mocinha vive perplexidades. Ingressou na aventura de envolvimentos afetivos. Ficou grávida. Tem o coração apertado. Seus pais, apesar de todos os pesares, saberão olhar no fundo de seus olhos e dizer que estão dispostos a ajudá-la a passar pelos momentos delicados que se anunciam. Uns se solidarizam com os outros.

Aquele menino ou adolescente percebe em si manifestações de sérias tendências homossexuais. Não fala com ninguém. Vive fechado em si mesmo. Por vezes, tem a tentação de entregar-se à prática de atos, a convite de uns e outros e coagido por pulsões interiores. Esse menino deveria poder abrir-se no seio de uma família. Poderá ele encontrar ajuda por parte dos pais?

Os meninos crescem. Estudam. Falta-lhes, por vezes, clareza a respeito do rumo a dar aos seus dias. Há solicitações para que estudem isso ou aquilo, façam essa ou aquela atividade. Sentem-se perplexos e perdidos.

Os pais, os seus irmãos mais velhos, os adultos com seu testemunho de vida, com a alegria existencial, transmitem-lhes valores, e, assim, uns ajudam aos outros.

Há a delicada situação do desemprego do pai ou da mãe. As despesas e os gastos precisam ser cortados. Há a colaboração de todos. Há mesmo a eventualidade de um trabalho remunerado para jovens. Nessas horas é que se mostra a solidariedade no seio da família. Num mundo marcadamente individualista, a família é um lugar onde uns se sentem solidários aos outros. E, nessa mútua ajuda, são criados os laços do carinho, do amor e da ternura.

Felizes as famílias unidas que vivem a solidariedade para dentro e para fora. Na vida, c om efeito, ninguém vive para si mesmo!

Frei Almir R. Guimarães é professor de Catequese – Pastoral, ex-assessor do setor de família da CNBB.

Fonte: Escola de Pais do Brasil – Seccional de Campina Grande/PB – Revista Programa – Novembro – 2006 – Edição nº 14 – pág. 24

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