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Iandé etama? O que significa isto?

Os Descobertos
A gravura que abre esta página é de autoria de Debret. A família do chefe camacã prepara-se para um ritual. Cenas como esta os portugueses encontraram quando chegaram a Iandé Etama – expressão que significa “terra nossa” em nheengatu-tupi. Os índios estavam descobertos pelos brancos. Viviam aqui, quem sabe, há 48 mil anos. E nos vindouros 500 anos, Iandé Etama iria passar por turbulentas mudanças.

Brasil indígena
Luis Donisete Benzi Grupioni
Comemorado pela primeira vez no Brasil em 1944, o dia 19 de abril tornou-se o dia do índio. A data foi instituída por GetúlioVargas e, desde então, dificilmente tem passado desapercebida, seja pelos meios de comunicação, que preparam matérias sobre os índios e seus problemas, seja pelas escolas que lembram da data de variadas formas.

Nos últimos anos, a novidade tem sido a participação ativa de lideranças, comunidades e organizações indígenas nos eventos do Dia do Índio, por meio de exposições, debates, publicações, vídeos e shows. Neste movimento, a data perde cada vez mais seu caráter folclórico para tornar-se um momento em que os próprios índios são os protagonistas e em que os não-índios podem realizar uma reflexão sobre a diversidade étnica e cultural do Brasil contemporâneo.

O dia 19 de abril, ao colocar em pauta a questão indígena, nos questiona hoje sobre as possibilidades de convivermos, de forma respeitosa, digna e construtiva, com os mais de 210 povos indígenas que existem no País, falando mais de 180 línguas e dialetos próprios, espalhados em inúmeras aldeias em praticamente todos os estados do Brasil (só no Piauí e no Rio Grande do Norte não há índios). Num mundo globalizado em que as diferenças étnicas, culturais e religiosas se acirram cada vez mais, a questão do convívio democrático e pacífico com os que pensam e agem diferente de nós é um tema a ganhar progressivamente mais importância.

Passados os 500 anos dos primeiros contatos, o saldo positivo a ser registrado é que os índios sobreviveram, continuam mantendo suas identidades diferenciadas e vão continuar fazendo parte do Brasil. Eles conseguiram, em 1988, com a promulgação da atual Constituição, o direito de permanecerem índios. E o Estado brasileiro, que antes devia promover a integração do índio, hoje deve respeitar, proteger e valorizar as identidades indígenas presentes no cenário brasileiro. Este é mais um sinal de que as coisas estão mudando.

Uma pesquisa sobre o que os brasileiros pensam dos índios, realizada no ano passado, pelo Ibope, mostrou que, de modo geral, os brasileiros têm uma imagem muito positiva dos índios: consideram que eles devem ter o direito de permanecerem índios e de que o Estado deve ter políticas específicas para protegê-los. Vejamos alguns números: 78% dos entrevistados demonstraram ter interesse pelo futuro dos índios; 89% afirmaram que eles não são ignorantes, possuindo sim uma cultura diferente da nossa; 75% acham que eles merecem proteção; 57% acreditam que a invasão das terras indígenas pelos brancos é um dos principais problemas que afetam os índios; 93% afirmaram que eles deveriam receber uma Educação que respeitasse seus valores e suas culturas e 92% acreditam que eles devem ter o direito de continuar vivendo de acordo com seus costumes.

Esses números mostram que há uma simpatia da população com a causa dos índios. E já que ela entra em destaque agora em abril, por que não aproveitar a data para ampliar nossos conhecimentos sobre como vivem e o que pretendem os povos indígenas no Brasil?

Entender a questão indígena hoje é conhecer mais profundamente o próprio País, com essa imensa diversidade de culturas, de línguas, de jeitos de ser e de pensar. É encarar esse gigante continental, complexo, desigual, que se esconde sob uma aparência de unidade e de homogeneidade, mas que só se revela no particular, na fragmentação, na diferença, na diversidade.

Luís Donisete Benzi Grupioni é antropólogo, doutorando em Antropologia Social na USP e
consultor do Ministério da Educação para a política de Educação Escolar Indígena.