Edição 16

Matérias Especiais

Imagens: Uma visão do artista

capa2CAPA – a escolha da imagem para a capa desta edição baseia-se na interpretação dada aos depoimentos de profissionais e familiares de crianças especiais. A artista Márcia Széliga, quando da criação, pensou em algo que despertasse na sociedade uma reflexão sobre essa questão e

causasse um efeito de “virar o espelho” para a face das incoerências geradas dentro da área da Educação, relacionadas com o tratamento humanizado. Nessa leitura, fica evidenciado o papel da imagem: falar com o público e puxá-lo a um questionamento; passar o recado para que, num só olhar, o leitor se sinta sacudido por dentro, principalmente quanto a um tema tão complexo e importante como este.

No que toca à interpretação da imagem, a artista expressa o isolamento de quem é portador de deficiências, porém a exclusão não está restrita, apenas, a isso. Ela está presente em situações diversas: preconceito racial, social, cultural, enfim toda forma de exclusão presente nos ambientes familiar, escolar e social. A imagem ainda sugere que o caminho para a inclusão sem segredos estaria na perspectiva de uma interação família–escola–sociedade.

inclusao02As demais imagens foram pensadas, pela artista, para causar impacto, tornando-se, segundo ela, “uma forma de escancarar o que a sociedade faz com os ‘diferentes’. A sociedade não coloca literalmente um chapéu de bobo, mas a atitude, muitas vezes subliminar, imprime algo tão negativo e preconceituoso quanto vestir alguém assim e tratá-lo com discriminação e como alvo de diversão. E não é mesmo isso o que acontece? Chegam a rir até quando alguém leva um tombo! Total absurdo! Nem é preciso ter ‘defeito’! Um ser humano ali, triste, sozinho, acuado, motivo de chacota para toda uma platéia atenta na capa da revista, retrato do que vemos no dia-a-dia. Seus olhos cegos enxergam pelas órbitas do sentimento, olha com seu olho branco para o interior de cada um. Seu gato, talvez o único companheiro, também capenga, fica com cara de ‘Por quê?’. O chapéu de três pontas traz também uma única bola preta. As outras são amarelas; a preta, para o outro lado, isolada. Mas o alento, a esperança na humanidade, vem em resposta na brincadeira com o balão vermelho, em cima de uma cadeira de rodas. Vermelho, o sangue, seiva da vida percorrendo corpos alegres e harmoniosos, que se aceitam, que amam o próximo como a si mesmos. Acredito que só experimentando algo por dentro somos capazes de entender a seriedade de um assunto, vivenciar isso de certa forma e da maneira mais verdadeira e profunda, que vai além de apenas uma informação, e, assim, dar-se conta, ter compaixão e, conscientes, sermos capacitados a colaborar para um mundo melhor. A vida tem sido tratada com tanto descaso, banalizada através da violência e da disputa, de mortes estúpidas, de abandono do próximo, da lei do mais forte e do que leva vantagem sobre o outro, que, me perdoe, não consegui ser sutil nem poética. A gente se depara diariamente com cenas fortes. Uns ficam indiferentes; outros se divertem; outros, ainda, preferem não olhar e continuar navegando num mar de rosas; outros, ainda, e não sei o que é pior, se alimentam de sofrimentos alheios feitos assunto do dia”.

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