Edição 05

Matérias Especiais

Literatura de cordel

Antes de falarmos sobre Literatura de Cordel, seria interessante definirmos o que é Literatura.

Há dois aspectos a serem considerados, pois há duas definições de literatura:

1 – Literatura é todo registro escrito de uma língua. Isso é a sua definição no sentido mais amplo.

Veja alguns exemplos:

. bula de remédio;
. artigo de jornal;
. tratado científico;
. um livro de História do Brasil.

2 – Literatura, no sentido restrito, é a língua usada com o intuito de produzir arte, de criar o belo, de organizar e usar as palavras de uma forma especial despertando no leitor a emoção.

Essa literatura pode ser produzida em prosa e verso.

Como exemplo de prosa temos:

. o romance;
. o conto;
. a crônica

E, para exemplificar a literatura em verso, citamos as diversas formas de poesia:

. as quadrilhas;
. os sonetos;
. e todos os tipos de poemas escritos com rima ou versos brancos.

“É muito difícil definir poesia. Para muitos a poesia é uma criação rítmica e melódica, de um conteúdo emotivo onde se deixa derramar a emoção. Portanto, pode existir poesia mesmo num texto em prosa”. Siqueira e Bertolin

Observe o fragmento de texto:

“Era por uma dessas noites vagarosas de inverno, em que o brilho do céu sem lua é vivo e trêmulo: em que o gemer das selvas é profundo e longo: em que a soledade das praias é absoluta…”

A. Herculano

A Literatura de Cordel faz parte do nosso folclore.

Este é um trabalho rico que pode ser aproveitado, crie o momento certo para começar.

Agora, leia o soneto:

Soneto XXXIII

Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada
eu saía a a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.

Fazia, de papel, toda uma armada,
e, estendendo o meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino,
ao longo das sarjetas, na enxurrada.

Fiquei moço, e, hoje sei, pensando neles,
não são barcos de ouro os meus ideais,
são feitos de papel, são como aqueles

Perfeitamente, exatamente iguais…
– Que os meus barquinhos. Lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!

Guilherme de Almeida
Meus versos mais queridos

Qual foi a diferença essencial que você encontrou entre a passagem do texto e o soneto?

Qual foi a diferença essencial que você encontrou entre a passagem do texto e o soneto?

Conheça um pouco sobre a Literatura de Cordel, verificando: sua origem; onde podemos encontrar e quais as características.

O aparecimento da literatura de cordel está ligado à divulgação de histórias tradicionais, narrativas de velhas épocas, que a memória popular foi conservando e transmitindo.

De início, o processo era feito oralmente, depois se faziam cópias manuscritas e, por fim, com a chegada da imprensa, ela ganha uma forma impressa rudimentar.

O nome “cordel” derivou do fato de tais folhetos serem expostos, para venda, pendurados em cordões.

O seu conteúdo, que abrangia os chamados romances ou novelas de cavalaria, de amor, de narrativas de guerra ou conquistas marítimas, agradava não apenas aos simples, mas até reis e sábios.

No Brasil, onde aportou por volta do século XIX, trazida pelos colonizadores, a literatura de cordel difundiu-se pelos engenhos de açúcar e sertões, onde os cantadores, com suas violas, a divulgaram na arte de fazer versos improvisados.

Hoje, ainda encontramos em algumas cidades do interior e, mesmo na capital, verdadeiros artistas na criação da poesia de cordel.

Os versos na literatura de cordel, de acordo com Ariano Suassuna, estão divididos em nove grupos:

1 – Ciclo heróico, trágico e épico.
2 – Ciclo fantástico e do maravilhoso.
3 – Ciclo cômico, satírico, picaresco.
4 – Ciclo histórico e circunstancial.
5 – Ciclo do amor e da fidelidade.
6 – Ciclo heróico e obsceno.
7 – Ciclo político e social.
8 – Ciclo de pelejas e de desafios.
9 – Ciclo religioso e de moralidades.

Recife tem algo mais
E muita coisa pra ver
Os monumentos históricos
E as praças de lazer
O antigo e o moderno
São coisas que dão prazer

Na época do Carnaval
O cenário é diferente
Muitos homens viram ursos
Um folião diferente
Dança e freva sem parar
Preso numa corrente

No Mercado São José
Conheça o Rei dos Bonéis
Também o Bar Microfone
E seu Edson dos Cordéis
Um folheteiro antigo
Da Terra dos Caetés

Se gosta de coisa séria
Peço logo retornar
Na Rua do Imperador
É claro que vai gostar
Ver a capela doirada
Uma relíquia secular

Se gosta de coisa quente
E pouca grana gastar
Siga logo outro rumo
Não precisa vacilar
No Batuta ou Vassourinhas
Você vai se esbaldar.

Quer dançar uma ciranda
Um folclore popular
Vá ao Pátio de São Pedro
Dance até enjoar
É de graça para todos
Não é preciso pagar

O Teatro Santa Isabel
Bem pertinho ali está
Um monumento histórico
Digno de se apreciar
E o Palácio das Princesas
Não deixe de visitar

Mudo agora de roteiro
Sigo para outro lugar
Embora que ainda tenha
Muita coisa a retratar
E vou lá pra zona Sul
Para outras coisas mostrar

Você pode imaginar um violeiro cantando os versos que estão acima?

Agora cabe uma pergunta: Você sabe o que é verso?

Observe, isto é um verso:

“Recife tem algo mais.”

O agrupamento de versos forma uma estrofe.

“Recife tem algo mais
E muita coisa pra ver
Os monumentos históricos
E as praças de lazer
O antigo e o moderno
São coisas que dão prazer.”

Os cordéis, geralmente, são escritos com estrofes de seis versos (sextilhas). Descubra o que existe em comum nos segundos, nos quartos e nos sextos versos de cada estrofe do cordel que lhe apresentamos. Descobriu? A isso chamamos versos rimados.

Outros poemas já apresentam rimas diferentes. Releia o soneto de Guilherme de Almeida e veja como ele distribuiu as rimas.

Agora, falemos sobre a apresentação do cordel.

Sua produção é impressa em forma de folhetos com o máximo de dezesseis páginas, e em romances, ultrapassa esse total. Seu formato é de 16 x 11 cm e sua capa tem ilustração em xilogravura (gravura em madeira) popularmente denominada “taco”. Essa xilogravura é feita em pedaços de madeira (cedro, pau-d´arco, umburana, jatobá, cajá e até mesmo pinho) de formato retangular e com uma diminuta faca de ponta afiada – a quicé – pedaços de lâmina de barbear, pontas de tesoura, goiva e formões, o artista vai abrindo pequenos espaços na madeira, criando figuras, de modo a transpor sua imaginação e despertar a atenção do comprador para os romances que estão contidos nas páginas.

A xilogravura capista só veio a ser considerada arte popular independente, a partir de 1953, pelo artista plástico Abelardo Rodrigues.

Produzida por poetas populares, em condições sociais e culturais peculiares, o cordel transformou-se num instrumento de registro das manifestações messiânicas, do aparecimento do banditismo rural – o fenômeno do cangaceiro -, das pelejas de cantadores, das longas estiagens, dos movimentos políticos, dos grandes assuntos internacionais, das mutações dos costumes e do gosto peculiar pelos romances épicos do ciclo das cavalarias.

Situação de Produção

* Fazer uma verificação sobre o nível de informação que os alunos têm a respeito de Cordel, e à medida que os alunos forem falando o professor registrará no quadro, para que depois de todo processo de análise desse tipo de literatura possamos fazer um confronto.

* Levar para sala de aula alguns folhetos de cordel e lê-los para a turma. Com certeza, pelos títulos curiosos e personagens interessantes, os romances e histórias serão um convite à leitura.

* Distribuir com os alunos alguns folhetos e pedir que observem as características do cordel em relação ao conteúdo, averiguando:

o estilo do texto;
os temas preferidos;
tipos de heróis;
tipos de linguagem.

Posteriormente a essa observação considerar os aspectos do cordel, destacando:

tipo de papel utilizado;
ilustração da capa;
contracapa;
tamanho;
autor, local, data.

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