Edição 57

Profissionalismo

Mudanças didáticas no ensino de Língua Portuguesa

Silvio Profirio da Silva

Durante décadas, o ensino de Língua Portuguesa desenvolvido em nossas escolas limitava-se à análise e classificaçãode termos gramaticais, o que constituía o dialeto de prestígio. A partir da década de 1980, ocorre o desenvolvimento de diversos estudos linguísticos que tinham como objetivo alterar esse quadro e, sobretudo, propor uma nova forma de conceber o ensino de Língua Portuguesa. Dentre esses estudos, podemos destacar os da corrente Funcionalista,da Enunciativa, da Pragmática, da Linguística Textual e da Análise do Discurso. A partir de tais estudos, a linguagem passa a ser concebida como recurso de interação social e,acima de tudo, atrelada a propósitos comunicativos. Essa nova concepção de linguagem provocou diversas alterações na metodologia de ensino da língua.

Nessa perspectiva, a língua passa a ser percebida como atividade social em constante uso comunicativo. Assim, a função da gramática no ensino da Língua Portuguesa é desenvolver a competência comunicativa do aluno, e não mais levá-lo a produzir respostas corretas, isto é, sua função consiste em aumentar a capacidade do aluno de usar a língua nas mais diversas situações. É nesse contexto que o uso da língua passa a ser estudado tendo como base textos e discursos que ocorrem em situações comunicativas do dia a dia, por meio dos mais diversos gêneros. Dito de outra forma: o funcionamento da língua passa a ser estudado com base nos mais variados gêneros textuais produzidos no cotidiano.

Segundo Carmi Ferraz, professora do Departamento de Educação da UFRPE, “passou-se, assim, a prescrever que a aprendizagem da leitura e da escrita deveria ocorrer em condições concretas de produção textual. Desloca-se o eixo do ensino voltado para a memorização de regras dagramática de prestígio e nomenclaturas”. Diante desse cenário, surge uma proposta de ensino da gramática tendo como base o texto e o discurso. Ou seja, o ensino contextualizado, no qual o estudo da língua não se restringe àfrase. A palavra passa a ser concebida numa perspectiva polissêmica, podendo adquirir outros significados além do literal, de acordo com o contexto em que é empregada. Assim, a estrutura gramatical passa a ser estudada atrelada à semântica e à pragmática, o que vai além da imanência do sistema linguístico.

Esse posicionamento foi aceito pelos PCNs e, recentemente, pelos OCNs. Além disso, essa postura reflete-se nos manuais didáticos. Diante desses aspectos, percebemos como os estudos linguísticos contribuíram de forma significativa parao surgimento de novas abordagens didáticas, na medida em que ocorreu a inserção do contexto no ensino da gramática. Tal situação ocorre a fim de desenvolver reflexões sobre o funcionamento da língua relacionada com o contexto situacional e sua realização nos mais variados gêneros textuais. É o que William R. Cereja e Thereza Cochar conceituam como gramática reflexiva, que aborda conteúdos atrelados à semântica e ao discurso.

Nesse sentido, os estudos linguísticos ocasionaram implicações teóricas, uma vez que, a partir deles, a língua passa a ser concebida como fator social. Contudo, essas implicações não se limitam ao âmbito teórico, mas também abrangem o metodológico. A partir desse cenário, ocorre uma mudança significativa nos paradigmas norteadores das práticas pedagógicas do ensino de Língua Portuguesa e, por conseguinte, uma mudança no enfoque dado aos mais diversos conteúdos. Em outras palavras, a gramática passa a ser abordada por meio do sentido do texto, da semântica e do discurso.

Silvio Profirio da Silva é aluno do curso de Letras da UFRPE.
E-mail: silvio_profirio@yahoo.com.br.

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