Edição 56

Espaço pedagógico

O caso de Extremoz no Rio Grande do Norte

Leandro Alberto de Oliveira
Rafael Máximo da Silva Ribeiro

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Resumo

Extremoz, situada na Região Metropolitana de Natal, abriga um laboratório ambiental que faz o diferencial no processo de ensino e aprendizagem, pois oferece uma oportunidade além das fronteiras da sala de aula. A aproximação do aluno com a realidade condiciona a construção do conhecimento interativamente — sendo, o mesmo, um sujeito ativo, capaz de questionar, ampliar os horizontes de sua percepção, tornando-se um multiplicador de conhecimento —, além de favorecer uma compreensão integral dos fenômenos ambientais, por estimular o exercício da interdisciplinaridade. Assim, os trabalhos de campo — TC — passam a ter relevância nas práticas pedagógicas diante da restrição estabelecida por práticas apoiadas exclusivamente em livros didáticos. Num decurso de dois anos letivos, vivenciamos trabalhos de campo no local supracitado, com o objetivo primordial de estimular o aluno à construção de valores políticos, sociais, éticos e de atitudes necessárias à sua convivência com a natureza, abrangendo as dimensões socioeducacional, econômica, cultural e física. A metodologia é característica de uma pesquisa exploratória dividida em três momentos: pré-TC, TC propriamente dito e pós-TC. Os resultados foram evidentes durante a realização do TC, pois o alunado demonstrou uma ampliação do grau de perceptividade, como ainda, uma mudança na postura para com o meio ambiente diante dos diálogos e das atitudes que expõem a construção da consciência ecológica, que só foi possível através da Educação Ambiental, tendo a Geografia e a Biologia como vieses.

Palavras-chave: Aprendizagem, Educação Ambiental, Extremoz, Interdisciplinaridade, Trabalho de Campo.

Introdução

Extremoz localiza-se na Região Metropolitana de Natal, mais exatamente no litoral norte (Figura 1), sendo dotada de um verdadeiro aparato ambiental que inspirou a criação da Escola das Dunas pela Universidade Potiguar a partir do Programa de Extensão e Pesquisa que integra o Programa para o Desenvolvimento Sustentável de Pitangui (Prodespi). A interdisciplinaridade foi o ponto-chave na execução das atividades denotadoras da Educação Ambiental que primam pela formação da consciência ambiental, proporcionando, em paralelo, a prática da sustentabilidade.

img-1704-02E, diante das propostas curriculares no trabalho do tema meio ambiente, o laboratório ambiental oferecido em Extremoz se torna um instrumento metodológico inovador no processo de ensino e aprendizagem, que vai além das fronteiras da sala de aula, permitindo um contato direto e interativo com a realidade, facilitando tanto a concepção conceitual como atitudinal do alunado (BRASIL, 1998; VESENTINI, 2004).

Assim, buscamos ressaltar a importância dos TCs no processo de ensino e aprendizagem, pois o aluno tende a ser um sujeito ativo no processo, não sendo considerado uma vasilha para deposição de conteúdos previamente elaborados (FREIRE, 1983), já que estaremos confrontando o educando com conteúdos propícios ao desenvolvimento de um pensamento crítico e a reflexões sobre as questões ambientais, conduzindo-o à formação da consciência ambiental.

Daí surge nossa proposta de desenvolver atividades de campo, tendo como referencial para colocar em prática nossas ações voltadas à construção da consciência ambiental a Escola das Dunas, em Extremoz, pois há uma necessidade de vivenciar trabalhos de campo diante da restrição do aprendizado, quando nos bitolamos puramente os livros didáticos e ao ambiente de uma sala de aula.

Assim, o trabalho de campo deve ser um instrumento facilitador na construção do conhecimento, permitindo articular várias áreas, como, no nosso caso, a Geografia e a Biologia, conduzindo à compreensão de fenômenos geobiológicos não mais de maneira fragmentada, mas, sim, contextualizada.

E, segundo Pontuschka (1999) e Suertegaray (1996), os trabalhos realizados fora do ambiente escolar estão categoricamente rompendo a visão de serem tidos como procedimentos metodológicos excursionistas para coleta de informações e se consolidando como meios facilitadores da aprendizagem.

Objetivo geral

Estimular o aluno à construção de valores políticos, sociais, éticos e de atitudes necessárias à sua convivência com a natureza, abrangendo as dimensões socioeducacional, econômica, cultural e física.

Objetivos específicos

Levar o aluno à prática de observação dos fenômenos geográficos e biológicos, desde a análise das formas de relevo a uma descrição modelar, passando pela compreensão da diversidade da fauna e da flora existentes no local.img-1704-03

Orientar os alunos na elaboração de um perfil ecológico do percurso planejado, no intuito de ajudar a caracterizar o plano geográfico (região) e o tipo de vegetação do lugar, fazendo uma relação (comparação) entre as espécies e o ambiente em que vivem, realizando uma análise própria, na qual o aluno terá um nível de conhecimento suficiente para distinguir as relações de biodiversidade.

Promover, junto ao educando, o estudo e a prática da Educação Ambiental, motivando a sua mudança comportamental com relação ao meio ambiente, através da utilização de ações multidisciplinares vinculadas à preservação do meio ambiente e à utilização racional dos recursos naturais.

Favorecer a ocorrência de atitudes indagadoras e a resolução de problemas, processando informações que construam o conhecimento.

Metodologia

O nosso trabalho de campo constituiu-se de três momentos que se interligam: preparação, ou pré-TC; o trabalho de campo propriamente dito; e o pós-TC. No primeiro momento, selecionamos a área para proceder com o estudo, escolhemos e distribuímos os conteúdos a serem trabalhados e articulados com a base curricular meio ambiente, determinamos o roteiro e construímos as atividades e o material a ser usado durante todo o TC. No segundo momento, tomamos como estratégia didática a divisão da turma em grupos, visitando, em seguida, todos os pontos estabelecidos: mata atlântica, a partir de uma trilha noturna; ecossistema manguezal (Foto 1); dunas, através de mais uma trilha; e Rio Potengi, no barco-escola (Foto 2).

E, dispondo de material de síntese, segundo a perspicácia de cada aluno, os registros foram sendo realizados não só mediante a nossa intervenção, mas também a partir das próprias colocações do alunado.

Já no terceiro e último momento, os detentores do material de síntese — que se encontra nos apêndices — retomam questões que ficaram em aberto para reconstruir o conhecimento, expondo situações-problemas acerca dos conteúdos abordados, buscando contemplar a reflexão e a discussão.

 Resultados e Discussão

As atividades propostas foram desenvolvidas, em todas as etapas, com grande interação dos alunos, denotando seu papel como sujeito ativo num processo de ensino e aprendizagem em que buscaram o novo, selecionaram e organizaram as informações através do diálogo e procederam com a interpretação crítica destas. Nesse processo, o papel do professor é muito importante, não sendo ele mero repassador de conteúdos, mas, sim, mediador do conhecimento, deixando espaço para as próprias intervenções dos alunos. Assim, os alunos passaram por um contato diferenciado com a realidade ambiental da Escola das Dunas, o que possibilitou aguçar sua percepção, fazendo com que passassem a usar melhor um de seus sentidos — a visão — para identificar fenômenos antes não percebidos. Hoje, esses alunos não enxergam os manguezais nem uma duna como meros enfeites naturais de uma paisagem. Percebemos, ainda, que iniciaram a construção da consciência ambiental diante da necessidade de preservação do meio ambiente conforme as exposições textuais e atitudinais no cotidiano escolar, nos debates em sala de aula e em outros ambientes. Fato que denota os alunos como multiplicadores do conhecimento adquirido além das fronteiras da sala de aula.

Considerações Finais

Os trabalhos de campo (TC), permitem ultrapassar as fronteiras da sala de aula, tornando-se um instrumento importante na realização do processo de ensino e aprendizagem, perdendo o caráter excursionista, que visa única e exclusivamente a coleta de informações. Para tanto, devem levar a questionamentos e à reflexão ao colocar o alunado frente a uma realidade, especialmente a ambiental, de maneira a possibilitar uma interação mais concreta à base do diálogo. Teremos, então, um caminho trilhado para a eficácia na construção de conhecimentos e a mudança de postura e comportamento diante da consolidação de um senso crítico e de responsabilidade, particularmente com o meio ambiente.

Leandro Alberto de Oliveira é biólogo, especialista lato sensu em Biologia Animal. Formado na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é pesquisador do Laboratório de Invertebrados Terrestres da UFPE, professor do Ensino Fundamental II e Médio do Colégio Nossa Senhora da Graça – Damas (Vitória de Santo Antão), onde desenvolveu o projeto. Professor do Ensino Fundamental II do Colégio Santa Catarina (Recife) e professor do Ensino Médio da Escola Menino Jesus (Olinda). E-mail: leandroalbertobio@yahoo.com.br.

Rafael Máximo da Silva Ribeiro é graduado em Licenciatura Plena em Estudos Sociais com habilitação em Geografia pela Faculdade Integrada de Vitória de Santo Antão (Faintvisa), especialista em Ensino de Geografia e su

Referências bibliográficas

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. HYPERLINK “http://www.roteirosdobrasil.tur.br” http://www.roteirosdobrasil.tur.br. Acesso em 20 de março de 2007.

PONTUSCHKA, N. N. Interdisciplinaridade, Aproximações e Fazeres. Terra Livre – AGB, As Transformações no Mundo da Educação: Geografia, Ensino e Responsabilidade Social. São Paulo: n. 14, p. 90–110, 1999.

SUERTEGARAY, D. M. A. Geografia e Trabalho de Campo. Trabalho apresentado no colóquio O Discurso Geográfico na Aurora do Século XXI. Florianópolis, UFSC, 27 a 29 de novembro de 1996.

VESENTINI, J. W. Realidades e Perspectivas do Ensino da Geografia no Brasil. In: VESENTINI. J. W. (Org.). O Ensino da Geografia no Século XXI. Campinas: Papirus, 2004.

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