Edição 70
Mensagem Final
O empurrão
A águia empurrou gentilmente seus filhotes para a beirada do ninho.
Seu coração se acelerou com emoções conflitantes ao mesmo tempo que sentiu a resistência dos filhotes a seus insistentes cutucões. “Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair?”, pensou ela.
O ninho estava colocado bem no alto de um pico rochoso. Abaixo, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos filhotes. E se, justamente agora, isso não funcionar?
Apesar do medo, a águia sabia que aquele era o momento. Sua missão estava prestes a se completar, restava ainda uma tarefa final: o empurrão.
A águia encheu-se de coragem. Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas, não haverá propósito para a sua vida.
Enquanto eles não aprenderem a voar, não compreenderão o privilégio que é nascer águia. O empurrão era o melhor presente que ela podia oferecer-lhes. Era seu supremo ato de amor.
Então, um a um, ela os precipitou para o abismo. E eles voaram!
Às vezes, nas nossas vidas, as circunstâncias fazem o papel de águia: são elas que nos empurram para o abismo. E quem sabe não são elas, as próprias circunstâncias, que nos fazem descobrir que temos asas para voar?
VARGAS, Mariliz. A sabedoria do não. Curitiba: Rosea Nigra, 2009.