Edição 11

Espaço pedagógico

O papel ético do professor

Tenho percebido que o Brasil vem passando por diversas transformações nos âmbitos social, político e econômico. Nesse sentido, a escola não pode se omitir do seu imprescindível compromisso no rumo das mudanças. Isso significa, em linhas gerais, priorizar a construção da cidadania através da análise, reflexão e compreensão das diferentes facetas da conjuntura histórico-social atual.

Dentro desse contexto, a cidadania, conforme expressam os Parâmetros Curriculares Nacionais, é: “o eixo vertebrador da educação escolar”. Como concretizar então a construção da cidadania sem falar em ética, em posicionamento ético?

Aí é que está o X da questão, pois nunca a palavra ética foi tão comentada quanto nos últimos tempos. Para se ter uma idéia, é comum ouvir inúmeras declarações sobre a ética na Medicina, a ética no Senado, a ética na profissão, a ética na religião, a ética na Polícia, a ética na guerra, a ética, a ética, a ética…

Ela está na boca de todo mundo, com muitas conotações e em diferentes situações, mas todas carregam a singularidade do posicionamento frente a determinadas condições. Mas isso é relativo porque pressupõe julgamento de valor, posicionamento diante do que é certo ou errado, e, convenhamos, o que pode ser certo para uns não significa que será para os outros, não é?!

Voltando para a sala de aula, como é mesmo que o professor faz para ser ético? O que é ter um posicionamento ético na sala de aula? Em que medida podemos afirmar que o professor tem ou não uma postura ética?

Diziam as velhas teorias que as crianças são tabulas rasas, onde o professor deve depositar conhecimentos, assim como um papel em branco que vai sendo colorido. Confesso que, antes de me deparar com minha primeira turma de crianças, um resquício desse pensamento povoava a minha mente e me fortalecia, pois pensava que seria importante ensinar crianças, ajudá-las a ter uma visão do mundo mais definido. Delicioso engano!

A primeira coisa que me aconteceu foi amor à primeira, segunda, terceira, quarta, inúmeras vistas. Cada dia uma experiência infinitamente sem igual. Não se tratava apenas de transmitir conhecimentos, mas de vivenciar momentos gostosos de troca de experiências, de aprender brincando, de compartilhar sentimentos verdadeiros, enfim, de viver!

Fui aprendendo a ver o mundo a partir do olhar dos meus alunos. Cada argumentação que era fomentada pelas crianças me encantava. Nossa sala de aula era um círculo mágico, onde um olhava para o outro de igual para igual.

Quem foi que mais aprendeu com esse processo? Eu, eu, eu!!! Pois não existe nada melhor que voltar a ser criança e, como criança, encontrar soluções plausíveis, inacreditáveis, inimagináveis, para todos os problemas.

Brincar de consertar o mundo é um exercício que todo mundo deve fazer por estar pondo em prática as suas convicções, a sua ética.

Diante de minha realidade, da minha prática pedagógica, posso afirmar que nós, professores, devemos, podemos e precisamos ter sim uma postura ética, pois, se o objetivo maior da prática educativa e escolar é a construção da cidadania, então a postura ética do professor é a mola mestra que vai nortear o sucesso dela.

Através da reflexão, análise, oportunidade de diálogo, respeito à liberdade de escolha, reconhecimento da importância e individualidade de cada um, respeito ao próximo, é que estaremos definindo uma ação pedagogicamente ética.

Isso não significa reinventar a roda, mas, sobretudo, não deixar de lado a complexidade que envolve as relações sociais que são estabelecidas no cotidiano.

É preciso atentar para o fato de que o professor é, geralmente, tido como exemplo ilibado, cuja intervenção produz mudanças de atitudes nas crianças e é aí que mora o perigo, pois a continuidade dessas intervenções vai, paulatinamente, ajudando ou não no processo de construção do conhecimento e vão favorecer ou não a aprendizagem e, portanto, um posicionamento ético diante de cada momento vivido.

Há de se convir que o professor realmente tem o poder nas mãos, digo, na língua, no olhar, nas atitudes, então, use-o!

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