Edição 123

Em discussão

O professauro

Costumamos chamar de professauros aqueles ainda chamados de professores, mas que já abandonaram seus ideais, seus sonhos e que estão em sala de aula apenas para cumprir uma programação ou, como diríamos no futebol, apenas parao-professauro cumprir a tabela.

Não querem chegar a lugar algum, não querem mudar nada. Só servem para atrapalhar nossos ideais e fazer com que a nossa educação, não alcançando suas metas, seja desrespeitada e desvalorizada por tantos.

Observe a seguir como o professauro age e, se encontrar, na sua escola, alguém assim, tenha cuidado:

1. Reclama de tudo – Está sempre insatisfeito, parece mal-amado. Reclama do calor, do salário, dos alunos, das férias que não chegam. Nunca está na turma do “Vamos fazer”. Gosta mais do grupo “Não vale a pena”.

2. Adora dar aula sentado – É só chegar à sala que se esparrama na cadeira. Já chega cansado. Desse jeito, não valoriza o seu trabalho, ignora seus alunos e demonstra desconhecer o míni­mo sobre comunicação. Quando cansa da cadeira, senta na mesa. Pobres alunos…

3. Culpa os alunos pelos fracassos que são seus – O professor é o líder e o gerenciador de tudo que acontece em seu espaço e local de trabalho. Cabe a ele criar o ambiente de motivação, despertar entusiasmo e interesse dos seus alunos. Professores assim só querem ser responsáveis pelos resultados obtidos por alunos de sucesso. Quando encontram um ex-aluno que se tornou professor, médico ou advogado, dizem com natural orgulho: “Foi meu aluno”. Mas, quando o aluno não obteve o mesmo êxito, apressam-se a dizer: “Não queria nada com os estudos”.

O professor é responsável, sim, pelo sucesso dos alunos, tanto quanto pelos fracassos.

Pense nisso. Quando o seu aluno é reprovado, todo o processo precisa ser reavaliado. Aliás, a ideia de avaliação escolar deve passar pela análise do processo, e não do resultado isoladamente.

4. Detesta novidade – Ele fica louco quando alguém tem alguma ideia e o convida para colocá-la em prática. Quando outro profissional chega de um congresso cheio de ideias e novidades, ele é o primeiro a dizer: “Isso não vai dar certo. Estou na educação há muitos anos, e nunca deu certo”. Ele não consegue mais sonhar e, também, não quer ninguém sonhando perto dele. O sonho dele é puxar os demais para baixo, para a imobilidade.

Resista!

5. Suas aulas são sempre iguais – Passa ano, entra ano, e não muda nada na aula dele. É tudo igual. Sempre a mesma coisa, a mesma falta de criatividade, a mesma falta de interesse, repetindo até as mesmas palavras. Não aprendeu nada nos últimos anos, não leu nada; aliás, normalmente nem gosta de ler. É fácil encontrá-lo. Fala pouco e, aparentemente, concorda com tudo, para não chamar a atenção.o-professauro-2

Quando leciona em turmas do 1º ao 5º ano, costuma ficar sempre na mesma série. Mudar de série implica reaprender, e isso, para ele, é horrível.

6. Vive pensando na aposentadoria – É mais do que legítimo o direito de, depois de tantos anos de trabalho, encontrar o descanso merecido. Mas deve-se sair de cena com dignidade, cum­prindo, até o último momento, as obrigações com entusiasmo e profissionalismo, deixando um gostinho de saudade.

7. Aposente-se com orgulho pela história que construiu, e não como uma fuga.

Alguns profissionais, quando estão perto da tão sonhada aposentadoria, na realidade, primeiro aposentam seus espíritos, passam a andar na escola como zumbis, depois aposentam seus ideais, deixam de manifestar interesse pela profissão que elegeram para a sua vida. No míni­mo, ingratidão.

8. Sofre da síndrome da Gabriela – Quando convidado a mudar, a fazer coisas diferentes, a bus­car novas estratégias, costuma dizer, atolado na sua zona de conforto: “Eu nasci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim”. É a própria.

9. Adora atestado médico – Em algumas cidades, chega perto de 30% o percentual mensal de afastamento de professores com atestado médico.

Apresentam atestados pelos mais variados motivos. Muitas vezes, problemas sérios e verdadeiros; e outras nem tanto: dor de barriga, unha encravada, paixão recolhida, etc.

Provavelmente, essa profusão de atestados médicos se deve também à existência de alguns medicossauros do sistema.

Precisamos ter cuidado com o professauro.

Ele é perigoso, chega de mansinho, vai tomando espaço e, quando você se dá conta, não consegue andar sem tropeçar em algum. Previna a sua escola, coloque avisos na sala dos professores e fique alerta. Em caso de suspeita, consulte a sua consciência.

FREIRE, José Carlos Serrano. Seja o professor que você gostaria de ter. 4. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2012.

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