Edição 74
Matérias Especiais
O que é o tráfico de pessoas?
A Campanha da Fraternidade (CF) deste ano apresenta o tema Fraternidade e tráfico humano, com o lema É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 15,1). A reflexão trazida pela CF é iniciada no tempo litúrgico da Quaresma, mas pode se estender pelo ano todo.
Quaresma é o tempo de preparação para a Semana Santa e Páscoa. Nela, a Igreja propõe a todos um voltar-se para Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 10,3), de maneira mais profunda: intensificando a oração, os gestos de caridade e a revisão de nossas atitudes, num enfoque pessoal, comunitário e social.
O tráfico de pessoas, segundo o Protocolo de Palermo, “é o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamento de benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos” (Texto-Base da CF 2014, n. 71).
Neste primeiro encontro, queremos apresentar algumas causas e modalidades do tráfico humano, os rostos sofridos por essa exploração. Tomar conhecimento dessas situações que ferem a liberdade, a dignidade e a felicidade de tantas pessoas é o primeiro passo para enfrentar o problema. Conhecer a legislação que trata desses assuntos e as iniciativas de prevenção a essas violências é um importante passo que pretendemos dar com os encontros que serão trazidos neste subsídio.
Tomar conhecimento dessas situações que ferem a liberdade, a dignidade e a felicidade de tantas pessoas é o primeiro passo para enfrentar o problema
Para compreender mais o assunto, consulte o Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2014.
1. Caminhos…
Abaixo seguem as diferentes propostas para você poder criar os encontros sobre esse tema. Você pode realizar um ou mais dos “Caminhos…” metodológicos apresentados a seguir. Aproveite as sugestões de acordo com a realidade de seu grupo! Leia as orientações apresentadas no início deste subsídio para compreender como utilizar este material.
1.1. Nosso espaço
Para ajudar o seu grupo a refletir sobre o assunto proposto neste encontro, você pode preparar o ambiente utilizando símbolos do tempo litúrgico da Quaresma e do tema da Campanha da Fraternidade deste ano. Utilize um tecido de cor roxa, forrando uma mesa. Coloque a Bíblia, uma cruz, o cartaz da CF e termos como: tráfico de pessoas, dignidade humana, escravidão, exploração sexual, trabalho escravo, liberdade, vida. Fotos que mostrem situações dos temas abordados podem ser colocadas para ilustrar melhor o ambiente.
1.2. Palavra de Deus
No momento oportuno, escolhido por quem prepara o encontro, pode-se ler a palavra de Deus e conversar e/ou rezar a partir dela:
COMENTÁRIO: A relação com Deus é inseparável da relação com as outras pessoas! Jesus deixa claro que tudo o que fazemos ao próximo, coisas boas ou más, “é a ele que fazemos”. Qual é a lógica do comportamento humano? Essa lógica segue o plano de Deus, que é de “encontrar no rosto dos pobres o rosto do Senhor” (cf. Documento de Santo Domingo, n. 178).
Leia com muita atenção o texto bíblico: Mt 25, 31-46.
1.3. Nossa vida
A seguir, dois relatos de situações reais sobre o tráfico de pessoas, que podem ajudar seu grupo a refletir sobre esse tema. Se alguém do grupo conhece um fato concreto semelhante, pode também partilhar com todos:
1. “O Conselho Tutelar de Altamira, no Pará, denuncia a existência de uma rede de tráfico humano no município. Pelo menos doze jovens eram obrigadas a se prostituir em uma boate localizada próximo às obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. ‘O Conselho recebeu a denúncia de um rapaz e uma adolescente que teriam fugido da boate. Havia lá de doze a quinze mulheres, entre elas uma adolescente. Elas vinham de Santa Catarina e eram levadas para essa boate em Altamira, onde eram forçadas a se prostituir.’ As jovens foram aliciadas com a promessa de uma renda de R$ 14 mil por semana, mas ao chegarem ao Pará ficaram mantidas em regime de cárcere privado, vigiadas por capangas armados. ‘Elas ficavam em quartos sem ventilação e já chegavam devendo R$ 3 mil da passagem’, conta uma conselheira” (Texto-Base da CF 2014, n. 27).
2. “A cidade mais rica do Brasil não está livre da exploração da pessoa humana. Veja a situação de onze mulheres bolivianas, costureiras, em São Paulo: ‘A moradia e o local de trabalho se confundiam. A casa que servia de base para a oficina de Mário chegou a abrigar, no início de 2010, onze pessoas divididas em apenas três quartos. Além do trabalho de costura, eram obrigadas a preparar as refeições e a limpar a cozinha. E, devido ao controle rígido de Mário, tinham exatamente uma hora para fazer todos os serviços (das 12h às 13h) e voltar ao trabalho de costura. […] Até o tempo do banho dos empregados, que era com água fria, seguia as regras estabelecidas pelo dono da oficina. O banho era tomado em duplas (junto com outra colega de trabalho), durante contados 5 minutos, para poupar água e energia” (Texto-Base da CF 2014, n. 90).
1.4. Papo-cabeça
Após a leitura da palavra de Deus ou de Nossa Vida ou em outro momento oportuno do encontro, você pode organizar um bate-papo sobre o tema. Divida os participantes em grupos (duplas, trios) para facilitar a partilha:
1. Quais são os direitos básicos da pessoa humana?
2. Vocês conhecem histórias de pessoas, especialmente jovens, que vivem desrespeitadas em seus direitos básicos e em sua dignidade?
3. Vocês conhecem histórias de exploração sexual e tráfico de mulheres ou de homens?
1.5. Agita a galera
Seguem sugestões de uma dinâmica que pode ser utilizada por você e seu grupo na reflexão sobre o tema do encontro:
1. O grupo deverá ser dividido em dois: um para refletir sobre a questão do trabalho escravo e o outro, sobre a questão do tráfico de pessoas.
2. O coordenador do grupo deverá providenciar cópias dos quadros referentes ao trabalho escravo (Texto-Base da Campanha da Fraternidade).
3. Cada grupo deverá preparar uma encenação de até 20 minutos:
a. Grupo que trabalhará a questão do trabalho escravo:
Utilize as seguintes questões: O que é o trabalho escravo? O que é a anulação da dignidade humana? O que é a privação da liberdade?
b. Grupo que trabalhará a questão do tráfico humano:
Faça um comparativo entre as vítimas do tráfico de pessoas para o trabalho escravo e as pessoas destinadas para o mercado do sexo. Quais são suas diferenças e semelhanças? Pelo que passam essas pessoas?
4. Passando o tempo de preparação, cada grupo apresenta ao outro suas encenações.
1.6. Sentinelas da manhã
Você pode organizar um momento especial de oração com seu Grupo de Jovens. Sugerimos, se possível, que esse encontro aconteça ao redor do Sacrário, em sua comunidade ou ao redor dos símbolos sugeridos para esse encontro.
1. O coordenador ou animador do grupo convida todos a um momento de oração pessoal. Pede a todos que se sentem numa posição confortável. Coloca uma música instrumental. Motiva todos ao silêncio e a breves exercícios de respiração. Pede para que todos se acalmem e coloquem esse momento na presença do Senhor.
2. Passados alguns instantes, pede para que todos os pensamentos, sentimentos, afeições estejam ordenados para o seguimento da vontade de Deus. Em seguida, o animador aconselha que todos, no silêncio, peçam uma graça ao Senhor.
3. Em seguida, pausadamente, lê a passagem bíblica Mt 25, 31-46 e pede para cada um conversar com o Senhor, refletindo: reconheço a dignidade dos outros? Sou capaz de gestos de solidariedade? Pensando em meu cotidiano, existem pessoas que precisam de minha atenção, em minha casa, escola, comunidade ou em outros ambientes?
4. Pede que conversem com o Senhor, deixando alguns instantes em silêncio. O que Deus lhe pede? Quais os apelos que Ele lhe faz? Passados alguns instantes, motiva para que encerrem esse momento com o sinal da Cruz. Se o tempo permitir, o grupo poderá partilhar os sentimentos experimentados na oração.
1.7. Mãos na massa
Que tal fazer algo a mais para ajudar a mudar as situações de trabalho escravo e tráfico de pessoas? Seguem sugestões:
• Preparar um quadro com a definição de trabalho escravo e outro de tráfico humano, aproveitando as ideias partilhadas no Agita a galera, e colocá-los no mural da comunidade / escola.
• Visitar um Centro de Defesa dos Direitos Humanos e conhecer seu trabalho em seu bairro ou cidade.
1.8. Mais um pouquinho
Seguem sugestões de outros materiais que podem enriquecer a reflexão de seu grupo durante ou depois das reuniões:
Filme — Anjos do Sol (Brasil, 2006), do diretor Rudi Lagemann. Uma pré-adolescente nordestina de 12 anos é vendida pela sua família e enviada para um prostíbulo em um garimpo da Floresta Amazônica. Apesar de conseguir fugir e atravessar o País, ela novamente se depara com a prostituição no Rio de Janeiro.
Clipe de música — Não Trafique (Hip Hop Pró-Ativo) — Comitê de Enfrentamento ao Tráfico Humano – DF — Link para o clipe: http://www.youtube.com/watch?v=k2q_ihGgBqo
Referências
http://www.rets.org.br/?q=node/1297
Jovens na CF. Campanha da Fraternidade 2014: Fraternidade e tráfico
humano. Brasília, DF: Ed. CNBB.