Edição 52

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Questão racial no cotidiano escolar

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1. A questão racial como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo É fundamental fazer com que o assunto não seja reduzido a estudos esporádicos ou unidades didáticas isoladas. Quando se dedica apenas um tempo específico para tratar a questão ou direcioná-la para uma disciplina, corre-se o risco de considerá-la um assunto exótico a ser estudado, sem relação com a realidade vivida. A questão racial pode e deve ser assunto para todas as propostas de trabalho, os projetos e as unidades de estudo de todo o ano letivo!

2. Reconhecimento e valorização das contribuições reais do povo negro à nação brasileira Ao estudar o segmento negro ou outros diferentes grupos sociais, atentar para visualizá-lo(s) com consciência e dignidade, enfatizando contribuições sociais, econômicas e culturais, pontos positivos e negativos, experiências, estratégias e valores. Tratá-lo(s) com superficialidade, banalizando e/ou folclorizando sua cultura, estudando apenas aspectos relativos a costumes, alimentação, vestimenta ou rituais festivos, é um equívoco que não pode acontecer no ambiente escolar.

3. A conexão entre as situações de diversidade com a vida cotidiana nas salas de aula É um fator indispensável! Tratar as questões raciais no ambiente escolar apenas “transversalmente” ou em uma disciplina específica, etapa determinada ou um dia escolhido não é a melhor estratégia para levar os alunos aos posicionamentos de ação reflexiva e crítica da realidade em que estão inseridos. Na contextualização das situações, eles aprenderão conceitos, analisarão fatos e poderão ser capacitados
para intervir na sua realidade, a fim de transformá-la.

4. Combate às posturas etnocêntricas para a desconstrução de estereótipos e preconceitos atribuídos ao grupo negro A visão de que as diferenças entre grupos etnoculturais não têm nada a ver com superioridade ou inferioridade deles deverá ser cultivada no ambiente escolar comprometido com a construção de uma metodologia antirracista.

5. A história do povo negro, a cultura, a situação de sua marginalização e os seus reflexos incorporados como conteúdo do currículo escolar Essa história, bem como a dos outros grupos sociais oprimidos e de toda a trajetória de luta, opressão e marginalização sofrida por eles, deverá constar como conteúdo escolar. Os alunos compreenderão melhor os porquês das condições de vida dessas populações e a correlação entre estas e o racismo presente em nossa sociedade. As situações de desigualdade deverão ser ponto de reflexão para todos, e não somente para o grupo discriminado; condição básica para o estabelecimento de relações humanas mais fraternas e solidárias.

6. Extinção do uso de material pedagógico contendo imagens estereotipadas do negro, com repúdio às atitudes preconceituosas e discriminatórias A escola que deseja pautar sua prática escolar no reconhecimento, na aceitação e no respeito à diversidade racial articula estratégias para o fortalecimento da autoestima e do orgulho pelo pertencimento racial de seus alunos. Banir de seu ambiente qualquer texto, referência, descrição, decoração, desenho, qualificativo ou visão que construa ou fortaleça imagens estereotipadas do negro ou de qualquer outro coletivo discriminado é imprescindível. Portanto, deverá ser meta da instituição escolar elevar o nível de reflexão dos seus educadores, instrumentalizando-os no sentido de fazerem uma leitura crítica do material didático, paradidático ou qualquer produção escolar.

7. Uma maior atenção à expressão verbal escolar cotidiana A escola deverá estar alerta quanto à linguagem utilizada no cotidiano escolar, pois esta é fortemente expressiva! Eufemismos para se referir ao pensamento racial do aluno, falas que depreciam o povo negro e sua cultura, apelidos depreciativos relacionados à cor e comparações usando a cor branca como símbolo do que é limpo e a cor preta para simbolizar o que é sujo e ruim deverão ser abolidos. As falas diretas de respeito e valorização do grupo racial negro por parte dos educadores ajudarão sensivelmente na construção positiva da identidade dos alunos.

8. A construção coletiva de alternativas pedagógicas com suporte de recursos didáticos adequados É uma empreitada para toda a comunidade escolar: diretores, supervisores, professores, bibliotecários, pessoal de apoio, grupos sociais e instituições educacionais. Algumas ferramentas são essenciais nessa construção: a disponibilização de recursos didáticos adequados, a construção de materiais pedagógicos eficientes, o aumento do acervo da biblioteca sobre o assunto e a oferta de variedade de brinquedos ontemplando as dimensões multiculturais. E o mais importante: a capacitação constante do professor para lidar com essas questões.

Fonte: ROCHA, Rosa Margarida de Carvalho. Almanaque
Pedagógico Afro-brasileiro. Belo Horizonte: Mazza, 2006.

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