Edição 82

Professor Construir

Reinventar a imaginação do futuro

Sérgio A. Sardi

Você já pensou sobre como será o futuro no planeta Terra? Podemos antecipar, ao inserirmos certa dose de realismo em nossa imaginação, um futuro no qual viveremos em um planeta desértico e no qual os humanos arriscarão a vida pelas últimas gotas de água.

Um futuro em que árvores, animais silvestres, florestas, ar limpo, terra saudável, alimentos naturais e geleiras seriam paisagens perdidas em um passado distante. Pois talvez seja esta a tendência mais forte: um mundo tecnologicamente evoluído, mas destituído de valores éticos e espirituais.

Aquilo que a natureza nos fornece de maneira gratuita seria, de forma gradativa, substituído por estruturas que manteriam artificialmente a vida, incluindo o ar, os alimentos, a água potável, como um paciente em estado terminal e conectado a aparelhos diversos para manter as suas funções vitais. Um futuro em que as crianças que ainda deverão nascer seriam privadas de um contato vivencial com a natureza e as relações afetivas seriam artificialmente mediadas.

Ora, não seria esse um futuro no qual a chamada evolução tecnológica resultaria em uma prisão para os seres humanos, escravizados pelos próprios instrumentos que deveriam libertá-los? Mas de qual evolução realmente necessitamos e desejamos? Para qual finalidade deveria servir a tecnologia?

Um futuro desejável

Podemos recriar a nossa imaginação do futuro. E antever um mundo desejável para as próximas gerações. É essa liberdade que nos torna efetivamente humanos, no sentido pleno da palavra. Liberdade de mudar a nossa história e de influenciar, dentro de nossos limites, a mudança da história do mundo. No entanto, ao imaginar outro futuro, um futuro que respeite os direitos fundamentais daqueles que ainda estão por nascer, será necessário transformar o presente. Pois preparamos os novos tempos sempre no agora, em cada ato, em cada pensamento.

Sendo assim, as perguntas que podemos e devemos nos fazer poderiam ser expressas nestes termos: o que estamos dispostos a mudar, a partir de agora, em nossas atitudes e no espaço social onde vivemos, para possibilitar esse futuro? Ao que devemos dizer não? E ao que devemos dizer sim?

Podemos nos perguntar também se desejamos construir, aos poucos, em nós mesmos, uma capacidade tal de amar a vida que nos motive a mudar. E contemplar e sentir o profundo mistério e a grandiosa beleza da nossa existência no seio da vida pode ser um início.

Sérgio A. Sardi é Doutor em Filosofia e professor da Faculdade de Filosofia da PUCRS.
Endereço eletrônico: segioasardi@hotmail.com.

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