Edição 09

Matérias Especiais

Respeito é bom e o idoso exige

A Campanha da Fraternidade de 2003 (CF–2003) quer ser o grande esforço da Igreja no Brasil para viver intensamente o tempo santo da Quaresma. Constitui extraordinário instrumento para que todas as pessoas possam se converter e viver um tempo de graça e de salvação, preparando-se, por meio da oração, do jejum, da esmola, da escuta da Palavra, da participação nos sacramentos e na vida comunitária e da prática do amor solidário, para viver de maneira mais intensa o momento mais importante do ano litúr-gico e da história da salvação: a Páscoa.

Este ano, a CF apresenta-nos como tema Fraternidade e pessoas idosas, mostrando-nos, assim, a preocupação da Igreja no Brasil em criar condições para que o Evangelho seja melhor vivido em uma sociedade que já foi jovem, mas que hoje é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma sociedade amadurecida, devido ao grande aumento do percentual de pessoas idosas.

O objetivo geral da CF–2003 é motivar todas as pessoas para que, iluminadas por valores evangélicos, sejam construtoras de novos relacionamentos e novas estruturas, que assegurem valorização integral às pessoas idosas e respeito aos seus direitos.

Para que o objetivo geral possa ser alcançado, a CF propõe seis objetivos específicos:

– chamar a atenção das pessoas e da sociedade em geral no que diz respeito às responsabilidades de todos em relação às pessoas idosas, de modo que cada um se sinta motivado a assumir o seu papel;

– esclarecer sobre os preconceitos contra as pessoas idosas presentes em nossa sociedade, a fim de que sejam superados e elas tenham, em conseqüência, uma vida mais digna;

– realizar parcerias com entidades da sociedade civil para unir esforços no sentido de compreender melhor a realidade dos idosos e idosas do Brasil, e, juntos, encontrar caminhos comuns para a superação dos graves problemas presentes na vida das pessoas que se encontram nessa fase da vida;

– atuar junto aos órgãos oficiais brasileiros, nas instâncias municipal, estadual e federal, para que haja iniciativas e programas oficiais voltados para a pessoa idosa, e exigir o cumprimento das leis existentes e a regulamentação das leis complementares previstas na Constituição Federal;

– despertar a solidariedade com as pessoas idosas, reconhecer-lhes os direitos e envolvê-las na luta para que seus direitos sejam respeitados;

– sugerir linhas de ação educativa das pessoas para o envelhecimento.

João Paulo II nos diz que “os anciãos ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornam mais experimentados e amadurecidos”.

“Eles são os guardiões da memória coletiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social. Excluí-los é como rejeitar o passado, onde penetram as raízes do presente, em nome de uma modernidade sem memória.” (João Paulo II, Carta aos anciãos. São Paulo, Paulinas, 1999, p. 18.)

A CF–2003 quer resgatar a importância das pessoas idosas para a sociedade, a fim de que a velhice, que é a etapa mais longa da existência humana, seja marcada pela vida, pela dignidade e pela esperança.

No Brasil, a população com mais de 60 anos aumentou de 4%, em 1940, para 8,6%, em 2000. Em 2002, a estimativa era de 15 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, sendo que, em 2020, o percentual de idosos no Brasil deverá atingir a cifra de 15%. Hoje, o ser humano vive mais e a sociedade não sabe o que fazer com essa parcela da população.

A velhice é uma etapa da vida, é a etapa mais longa da vida. E viver muito e bem é um direito do ser humano. Todos querem viver mais, mas ninguém quer ser velho. Aliás, ter vida longa sempre foi uma aspiração da humanidade. Porém, quando alcançada, passa a ser uma questão social.

A palavra velho traz consigo um conjunto imenso de conotações pejorativas. Numa sociedade que idolatra a juventude, a beleza e a força física, ser velho significa estar envolvido em um universo de rejeição, preconceitos e exclusão.

No entanto, o aumento da longevidade é uma conquista da humanidade. A estimativa de vida ao nascer, no ano de 1980, era de 57,2 anos para o homem e 64,3 para a mulher. Em 1990, esses dados já eram 59,3 e 65,8, respectivamente. Seis anos depois, os números eram 62,2 para homem e 69,8 para a mulher. Essa evolução continuou nos anos seguintes, de modo que, em 2000, a expectativa de vida no Brasil era de 64,8 anos para o homem e 72,5 anos para a mulher. Podemos ver que, em vinte anos, a estimativa de vida aumentou 7,6 anos para o homem e 8,2 anos para a mulher.

Nos últimos cinqüenta anos, a participação da população maior de 65 anos no total da população nacional mais do que dobrou. Passou de 2,4% em 1940 para 5,8% em 2000. As últimas projeções, como já apontado, indicam que esse segmento deverá ser responsável por quase 15% da população total no ano 2020. Ainda nessa perspectiva, a proporção da população “mais idosa”, a de 80 anos e mais, também está aumentando, alterando a composição etária dentro do próprio segmento. No Brasil, já é considerável o número de pessoas centenárias. O crescimento do contingente idoso é resultante de altas taxas de crescimento, em razão da alta fecundidade registrada no passado, da redução da mortalidade, da melhoria da infra-estrutura sanitária, dos avanços científicos e da diminuição da taxa de fecundidade das últimas décadas.

Garantidos e melhorados os ganhos nas práticas de saúde, pode-se esperar que as expectativas de vida mais elevadas – ao redor de 75 anos para ambos os sexos – passem para 90 e 100 anos em um futuro bem próximo. Esse fato não é apenas característico da população brasileira. Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o envelhecimento da população se coloca como um “proeminente fenômeno mundial”.

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